Agronegócios
21/07/2020 12:09

Exclusivo: juro baixo abre espaço para Terra Santa reduzir dívidas e acelerar expansão


Por Clarice Couto

São Paulo, 21/07/2020 - A rápida redução da taxa básica de juros no Brasil e os patamares elevados de preços de commodities agrícolas no País devem permitir à Terra Santa acelerar a amortização de sua dívida e a expansão da produção. Em entrevista ao Broadcast Agro, o CEO da empresa produtora de grãos e fibras, José Humberto Teodoro, conta que aproximadamente 40% da dívida bancária da Terra Santa, de R$ 1,023 bilhão (em 31 de março), é passível de reestruturação e poderá ter taxas reduzidas em 2 a 3 pontos porcentuais. "A ginástica da Tesouraria será intensa neste segundo semestre", afirmou o executivo.

Esta parcela da dívida, composta majoritariamente por empréstimos de curto prazo, hoje tem uma taxa média de 8,5% ao ano. Com a Selic em 2,25% a.a, o custo para a Terra Santa pode cair para 6% a 7% a.a, estima Teodoro. No bolo estão financiamentos que têm como garantia cerca de R$ 150 milhões em terras que, quando amortizados, deixarão a companhia com o caminho livre para tomar dívidas mais baratas. "Vamos liberar R$ 150 milhões em garantias, que poderão ser apresentadas a outros bancos (para adquirir crédito a custo menor)", explicou o executivo.


O CEO da Terra Santa vê boas condições para reestruturação da dívida da empresa
FOTO: ACERVO TERRA SANTA


A dívida líquida total da companhia no fim do primeiro trimestre (31 de março), incluindo financiamentos bancários de curto e longo prazos, débitos com clientes, fornecedores de insumos e tributários, chegava a R$ 1,343 bilhão. Do montante, 76% é dívida bancária, que aumentou 23% em real, em comparação ao quarto trimestre de 2019, em virtude da desvalorização da moeda ante o dólar no trimestre. Em dólar, a dívida líquida financeira da Terra Santa se manteve praticamente estável, em torno de US$ 192 milhões.

A diretoria também espera diminuir seu endividamento e custos mudando a forma de investir em máquinas e equipamentos agrícolas. Ao invés de adquirir maquinário, Teodoro disse que a empresa optou por fechar um contrato de cinco anos de locação de 30 máquinas novas. A própria companhia selecionou os itens de que precisaria, negociou descontos para a compra de grande escala e a taxa de juros do financiamento que será tomado pela locadora de máquinas. "A empresa de aluguel só operacionaliza o negócio. Além de um custo 2% a 3% inferior ao das taxas cobradas por bancos, tem a vantagem de que, após cinco anos, quando as máquinas precisariam ser substituídas, não teremos de nos preocupar em vender as máquinas antigas", disse Teodoro.

A queda das taxas só não é maior por causa do aumento dos pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais e empresas do setor. "O nível das exigências em relação às garantias, por conta dessa legislação, está muito alto. Então está demorando um pouco mais para conseguirmos capturar isso (a queda da Selic) e a redução da dívida com bancos", ponderou Teodoro.

Futuro Com a gradual redução de custos proporcionada por juros menores e a boa geração de caixa, decorrente dos preços remuneradores das commodities agrícolas em real, o CEO da Terra Santa considera possível acelerar a expansão da atividade agrícola sem deixar de reduzir mais o endividamento. Hoje, a dívida líquida bancária da companhia é aproximadamente 5 vezes maior que o Ebitda ajustado da safra 2018/19 estimado até o momento - o dado consolidado será fechado no balanço do segundo trimestre de 2020, já que no fechamento do primeiro trimestre faltavam ser contabilizados os embarques do algodão do ciclo 2018/19. A meta, informa Teodoro, é trazer esse número para próximo de 2 vezes, em três a quatro anos, por meio de uma diminuição anual da dívida líquida de 10% a 15%.

O executivo conta que a Terra Santa já comercializou cerca de 70% de toda a sua produção agrícola, de soja milho e algodão da safra 2020/21, em razão dos crescentes preços dos produtos na moeda brasileira, impulsionados pela valorização do dólar ante o real. "Decidimos aproveitar esse bom momento e temos indicativos de uma geração de caixa bem mais robusta. Daqui a algumas semanas vamos começar a monitorar a safra 2021/22", disse o executivo. Enquanto nas últimas três safras o preço médio da saca de 60 quilos de soja em Mato Grosso ficou entre R$ 60 e R$ 65, na temporada R$ 2019/20 variou de R$ 85 a R$ 90/saca, conta ele. A companhia também adquiriu todos os insumos necessários para a próxima temporada.

"As condições atuais nos colocam em uma encruzilhada: aceleramos os planos de investimento ou a redução da dívida? Eu tendo a buscar o equilíbrio, acelerar um pouco a redução do endividamento e ao mesmo tempo expandir a área", afirmou. Ainda não é momento de comprar novas propriedades, diz, mas já é possível planejar o aumento da produção em terrenos arrendados próximos às fazendas da empresa. "Por enquanto buscamos terras que demandem pouco investimento para aumentar a área plantada em 20% a 25% por ano", explicou.

A expansão é pouco provável na safra 2020/21, mas é esperada para a 2021/22, pois a companhia está assinando agora contratos de arrendamento que valerão para o próximo ciclo. Além dos atuais 80 mil hectares, a Terra Santa terá mais 20 mil hectares em 2021/22. Com eles, poderá chegar a 180 mil hectares cultivados em duas safras - hoje são 150 mil. A partir da concretização dos contratos de arrendamento, Teodoro poderá decidir até que ponto reduzir dívidas e aumentar produção. "Primeiro, temos de colocar esses 20 mil hectares para dentro de casa. Temos um tempo para tomar essa decisão, uma safra."

Terras A venda de terras é outra possibilidade de acelerar os planos da companhia que se torna mais factível. "O valor desses ativos responde diretamente ao lucro que geram. Se o retorno hoje é maior, em virtude dos preços dos produtos agrícolas (em real), e a expectativa de lucro futuro é maior, o preço da terra automaticamente sobe", explicou Teodoro. "Nossos ativos estão se apreciando", acrescentou.

O plano é encontrar investidores interessados em adquirir áreas da companhia e arrendá-las novamente para a Terra Santa. "Olhando para frente, vendo essa liquidez de recursos no Brasil, que podem e vão chegar ao campo, essa possibilidade está mais próxima, talvez no ano que vem", avaliou.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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