Agronegócios
10/05/2022 12:28

Boi/Genética: Brasil amplia vendas de sêmen e embriões de raças de corte e leite para países tropicais


Por Sandy Oliveira

São Paulo, 10/05/2022 - A especialização do Brasil em pecuária de clima tropical e a seleção de raças próprias para aguentar calor, solos ácidos e ataques de parasitas impulsionam a exportação de genética de bovinos de leite e de corte para países de clima quente, como os da América Latina, além de vendas pontuais para países africanos. Em 2021, por exemplo, o faturamento com a exportação de sêmen bovino aumentou 22%, ante igual período de 2020, alcançando a marca de R$ 1 bilhão. Incluindo embriões bovinos, além do sêmen, o valor chega a R$ 1,3 bilhão, aumento de 35% ante 2020, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

Para este ano, a expectativa da Asbia, conforme seu presidente, Márcio Nery, é avançar 18% em faturamento. "O credenciamento de novas empresas de genética bovina do Brasil para exportar, além do aumento do preço médio da dose de sêmen, podem fazer o setor alcançar R$ 1,5 bilhão com o mercado externo este ano", diz.

A genética bovina brasileira segue predominantemente para países situados nos trópicos. No ano passado, 865.737 doses foram comercializadas, entre raças de corte e de leite, predominantemente para Paraguai, Bolívia e Colômbia, que adquiriram 581.994 doses, conforme Nery, da Asbia. Trata-se, ainda, de um mercado para o qual sempre aparecem novos interessados. A conquista mais recente para o setor exportador de genética bovina do Brasil foi o acordo sanitário fechado no fim de abril com o Suriname, país ao norte da América do Sul, informou a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura.

O Brasil, de fato, se tornou "referência em pecuária tropical", confirma a gerente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Icce Garbelini. Para o superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antonio Josahkian, o Brasil é, "sem dúvida", referência internacional na genética zebuína. "Só não digo global, porque ainda estamos imaturos neste setor para acessar mercados externos", comenta.

Para este ano, a expectativa da associação é a de que prevaleça a abertura de mercados e vendas de sêmen e embriões para os países com os quais o Brasil já mantém acordos. Icce não revela projeções em números, mas garante que a perspectiva é de crescimento significativo. Ela adianta que há mais mercados em vias de abertura para 2022 para o material genético de bovinos brasileiros, e que os processos de articulação estão sendo realizados. "Tanto na América Latina, na África e no Sudeste Asiático, mas ainda não podemos revelar. Tem sido um trabalho de formiguinha, que levou, em alguns casos, mais de uma década para se concretizar. É um trabalho árduo", diz.

Nery, da Asbia, informa que o Brasil tem sido demandado principalmente para material genético das raças zebuínas leiteiras. "São as mais procuradas. Mas a demanda por bovinos de corte também chama a atenção de criadores em outros países e vem se igualando à das zebuínas leiteiras", afirmou. No total, o zebu brasileiro representou mais de 11 milhões de doses totais, segundo a Asbia - de um total de 28.706.330 doses comercializadas em 2021. O destaque vai para o sêmen de raças de corte, que registrou um aumento de vendas de 22%. Já o setor leiteiro respondeu por um crescimento de 6% nas vendas.

O que mais atrai os importadores, segundo ele, é a resistência dos animais ao clima tropical. "Só se evolui a pecuária da faixa terrestre tropical se se usar a genética brasileira, pois há uma maior tolerância dos animais ao calor e principalmente a parasitas (como carrapatos, moscas e bernes)", destaca o executivo. Para Icce Garbelini, da ABCZ, a adaptação para a criação a pasto e em solos ácidos - e não confinada, como é comum em países do Hemisfério Norte - também é uma vantagem. "A maior parte dos países tropicais que criam gado em pastagens tem o Brasil como referência", afirma.

Participantes do setor, contudo, apontam a necessidade de simplificar os protocolos sanitários entre os países para facilitar a abertura de mais mercados e a redução do trâmite burocrático. Josahkian, da ABCZ, diz que há interesse e demanda pela genética brasileira, mas que ainda há a restrição das barreiras sanitárias - ou seja, países que impedem a entrada de material genético brasileiro sob alguma alegação sanitária, como, por exemplo, o fato de o Brasil ainda vacinar parte do seu rebanho contra febre aftosa.

Ele observa, porém, que o Brasil ocupa uma faixa intertropical do planeta que traz interesse. "Esse interesse é crescente e só não se materializa por causa de barreiras sanitárias. Há muitos países querendo comprar, e que não compram por essas questões", diz. Para ele, as medidas são usadas para restringir o mercado "como uma desculpa". O superintendente acredita também que falta marketing por parte do setor brasileiro no exterior, que é necessário dizer para o mundo o que o Brasil tem. "As pessoas não conhecem. Temos que contar para as pessoas que existe esse trabalho (de genética apurada de bovinos tropicais", ressalta.

Na avaliação de alguns deles, os protocolos devem garantir a segurança sanitária necessária, mas que devem ser possíveis de serem realizados e com um custo reduzido, para que se possa ampliar a quantidade de mercado que o Brasil tem possibilidade de atender.

Atualmente, a ABCZ, juntamente com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), mantém o projeto Brazilian Cattle, para promover, no exterior, a genética zebuína brasileira. A iniciativa tem a intenção de viabilizar a concretização dos protocolos sanitários em negociação e que ainda emperram o comércio internacional de material genético bovino entre alguns países. Apesar de obstáculos como barreiras sanitárias, tem sido por meio deste programa que as exportações do setor conquistam mercados. Nos 20 anos de existência do projeto, cerca de 80% dos mercados tropicais que foram abertos contaram com algum tipo de articulação do projeto, conforme Icce Garbelini, da ABCZ.

Contato: sandy.oliveira@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast Agro e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso