Agronegócios
02/07/2018 10:12

Perspectiva: tensão comercial entre EUA e China deve continuar no radar do mercado de grãos


São Paulo, 02/07/2018 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana atentos aos desdobramentos das tensões comerciais entre os Estados Unidos e China, com a expectativa de que as tarifas de importação ameaçadas pelos dois países entrem em vigor na sexta-feira (06). O clima em áreas produtoras importantes como o Meio-Oeste, as Grandes Planícies e o Mar Negro também segue no radar do mercado, assim como a demanda por grãos norte-americanos.

A soja terminou em queda na sexta-feira após ter registrado ganhos durante boa parte da sessão, pressionada por uma melhora nas previsões do tempo para o cinturão produtor norte-americano e pelo fato de que a área plantada de soja nos EUA superou a do milho pela primeira vez em 35 anos. O vencimento julho caiu 2,75 cents (0,32%) e terminou a US$ 8,5850/bushel. Na semana, o recuo foi de 4,02%. Em seu relatório de área plantada, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estimou que agricultores do país semearam 89,557 milhões de acres (36,24 milhões de hectares) de soja nesta temporada, ante os 90,142 milhões de acres (36,48 milhões de hectares) na safra 2017/18. Analistas consultados pelo The Wall Street Journal esperavam uma área maior, de 89,789 milhões de acres (36,34 milhões de hectares). Mas o número ficou acima da área projetada pelo USDA em 31 de março, de 88,982 milhões de acres (36,0 milhões de hectares). Agricultores têm se voltado cada vez mais para a soja nos últimos anos, em virtude da maior rentabilidade da oleaginosa na comparação com o milho e trigo. Mas essa maior rentabilidade se devia justamente à crescente demanda chinesa. Com a China provavelmente introduzindo tarifas sobre importações de soja, os EUA podem ter mais dificuldade para escoar sua produção.

Para a analista Andrea Cordeiro, da Labhoro, os dados do relatório de área plantada confirmam o que já era esperado para esta temporada norte-americana, de que os produtores do país plantariam mais soja do que o previsto pelo USDA em março e que seria uma área maior do que a milho. Além de o plantio ter sido finalizado sem percalços, o desenvolvimento transcorreu de forma tranquila até o momento. "As condições tem sido ideais: foi um pouco seco no começo da temporada, mas agora, mesmo com alguns bolsões de problemas, o mercado visualiza que a safra deve se desenvolver bem. Fundos estavam vendidos apostando nisso, na perspectiva de uma área maior e num potencial de produtividade acima do que o USDA considerou no relatório de oferta e demanda de junho", apontou.

O USDA divulgou que os estoques de soja norte-americanos em 1º de junho de 2018 somavam 1,222 bilhão de bushels (33,26 milhões de toneladas), aumento de 26,46% ante o volume de 965,85 milhões de bushels (26,28 milhões de toneladas) observado um ano antes. O resultado foi superior à estimativa de analistas, de 1,218 bilhão de bushels (33,15 milhões de toneladas). Antes da divulgação dos relatórios, o USDA divulgou notificação de venda avulsa de 130.632 toneladas de soja dos EUA para o México na temporada 2018/2019, o que deu algum suporte ao mercado no começo do dia. Entretanto, segundo Andrea, o fator que mais sustentou as cotações na maior parte da sessão foi a recompra de posições por parte de fundos vendidos para embolsar lucros no fim do mês e fim do trimestre. Após as atualizações de mapas meteorológicos da tarde, as previsões do tempo passaram a indicar condições um pouco mais favoráveis do que as que vinham sendo projetadas, o que colocou pressão sobre o mercado. "Quando a atualização mostrou temperaturas um pouco mais amenas e clima mais úmido para 11 a 15 dias, o caminho normal do fundamento da soja acabou prevalecendo", disse Andrea. Para esta semana, o foco tende a voltar a ser o embate entre EUA e China, ainda que o mercado não deva esquecer em julho do clima em áreas produtoras norte-americanas. "Produtores norte-americanos plantaram uma área maior de soja e têm interesse de que o impasse se resolva, senão terão um problema extra para gerir", apontou a analista, ressaltando a pressão que o setor produtivo norte-americano tem feito sobre o governo Trump para chegar a um acordo com a China. "Paralelamente, entramos em uma janela onde o mercado climático vai trazer volatilidade que é comum a esse período e que deve chegar ao ápice no fim de julho e agosto, meses de definição de safra."

Quanto ao milho, os futuros fecharam em alta de mais de 1% na sexta-feira na CBOT, sustentados pela área plantada menor do que a de soja nos Estados Unidos, pelo clima desfavorável na região do Mar Negro e pelos ganhos do trigo. O vencimento julho subiu 5,25 cents (1,52%) e terminou a US$ 3,5025/bushel. Na semana, a queda foi de 1,89%. A área semeada com milho nos EUA foi estimada em 89,128 milhões de acres (36,07 milhões de hectares). O número ficou abaixo dos 90,167 milhões de acres (36,49 milhões de hectares) do ano passado. Contudo, a estimativa é maior do que a previsão de analistas, de 88,372 milhões de acres (35,76 milhões de hectares), e do que o estimado pelo USDA em março, de 88,026 milhões de acres (35,62 milhões de hectares).

Os estoques de milho dos EUA chegavam a 5,306 bilhões de bushels (144,42 milhões de toneladas) no dia 1º de junho de 2018, um aumento de 1,5% ante os 5,229 bilhões de bushels (142,33 milhões de t) apurados em igual data do ano passado. O volume ficou acima da média das expectativas de analistas ouvidos pelo The Wall Street Journal, de 5,263 bilhões de bushels (143,25 milhões de t). Segundo o serviço meteorológico DTN, as temperaturas estão muito elevadas em partes da Rússia e da Ucrânia e estão previstas chuvas abaixo do normal e temperaturas acima do normal nos próximos 10 dias. Essas condições deram suporte ao milho e ao trigo, que subiu mais de 3%. Os ganhos do trigo também influenciaram no desempenho do milho.

O trigo fechou em alta de mais de 3% para os principais contratos na sexta-feira em Chicago. O mercado foi sustentado pelo clima desfavorável na região do Mar Negro, com previsão de que o clima siga seco e quente nos próximos dias. O USDA estimou o plantio de trigo nos EUA em 47,821 milhões de acres (19,35 milhões de hectares) na safra 2018/19, aumento ante os 46,012 milhões de acres (18,62 milhões de hectares) do ano passado. A previsão de analistas era de uma área menor, de 47,122 milhões de acres (19,07 milhões de hectares). Em março, o USDA previa 47,339 milhões de acres (19,16 milhões de hectares). O incremento se deve em grande parte à área maior de trigo de primavera, valorizado por seu maior teor de proteína. Analistas disseram que o trigo de primavera pode ter se mostrado uma aposta mais segura para alguns produtores preocupados com a possibilidade de as tensões comerciais dos EUA com a China e o México prejudicarem a demanda por soja e milho.

Os estoques de trigo dos EUA somavam 1,100 bilhão de bushels (29,95 milhões de toneladas) em 1º de junho de 2018, queda de 6,8% ante igual data do ano passado, quando totalizavam 1,180 bilhão de bushels (32,13 milhões de toneladas), de acordo com o USDA. O resultado, entretanto, ficou levemente acima da média das expectativas de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, de 1,098 bilhão de bushels (29,89 milhões de toneladas). Na CBOT, o trigo para julho subiu 18 cents (3,75%) e terminou a US$ 4,9750 por bushel. Na semana, o ganho foi de 1,28%.

Café: contratos caem 1,6% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 1,6% (185 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base setembro de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (29), a 115,10 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 119,40 cents (terça, dia 26) e mínima de 114,50 cents (sexta, dia 29).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o dólar voltou a se valorizar frente ao real na semana passada, pressionando os futuros de arábica em Nova York. No mercado físico brasileiro o cenário não se alterou. O produtor resiste em vender nas bases oferecidas pelos compradores, dificultando o fechamento de um número maior de negócios. "Vendem apenas o necessário para fazer frente às despesas", diz Carvalhaes. A colheita traz grande aumento nas despesas dos produtores, mas mesmo assim não se nota pressão vendedora. "Apenas na Zona da Mata, onde a colheita começou um pouco mais cedo, ocorre um volume maior de negócios fechados", observa.

Conforme Carvalhaes, é difícil chegar ao número real dos estoques brasileiros privados de passagem em 30 de junho. Os estoques públicos zeraram no fim do ano passado e a cada ano o quadro se mostra mais apertado. Isso ocorre com um cenário de consumo em alta em praticamente todo o mundo. À medida que os trabalhos de colheita avançam, vai se consolidando a impressão de que os números da próxima safra brasileira de café não serão superiores aos estimados pela Conab. Provavelmente ficarão um pouco abaixo.

Açúcar: mercado deve continuar pressionado no 2º semestre
Os contratos futuros de açúcar demerara encerraram o primeiro semestre com desvalorização de quase 20% na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Só em junho o mercado recuou pouco mais de 6%, base outubro/18, o vencimento mais líquido.

Na sexta-feira passada, os futuros de demerara em Nova York trabalharam no terreno negativo na maior parte do pregão. O mercado acabou encerrando estável, a 12,25 centavos de dólar por libra-peso. A mínima chegou a marcar 12,05 cents (menos 20 pontos), enquanto a máxima foi de 12,29 cents (mais 4 pontos).

Os fundamentos do mercado de açúcar sinalizam oferta global maior do que a demanda na safra 2018/19, o que pressiona as cotações. O Rabobank, em seu relatório sobre o segundo trimestre, estimou o excedente global em cerca de 10 milhões de toneladas. Segundo o banco, as perspectivas preliminares para as novas safras no Hemisfério Norte, entre elas da Índia, da Tailândia e da União Europeia, no segundo semestre, "apontam para mais um ano de produção abundante, embora ainda haja muito espaço para o clima interferir".

O Rabobank pondera que o clima seco ao longo do segundo trimestre do ano passado já provocou um reajuste para baixo das expectativas da safra atual 2018/19 no Centro-Sul do Brasil, maior produtor mundial, com o consenso migrando de uma faixa de 580 milhões a 590 milhões de toneladas de cana para uma faixa de 560 milhões a 575 milhões de toneladas. "Mas a queda na expectativa de produção de açúcar gerada por estes números é pouco relevante frente ao excedente global", estima o banco.

(Leticia Pakulski e Tomas Okuda - leticia.pakulski@estadao.com e tomas.okuda@estadao.com)
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