Agronegócios
11/02/2021 07:24

Entrevista/Aurora/Neivor Canton: Devemos crescer 20% em faturamento em 2021 e investir R$ 500 milhões




Por Tânia Rabello

São Paulo, 10/02/2021 - Mesmo em um ano de incertezas como promete ser 2021, o presidente do Conselho de Administração da Aurora Alimentos, Neivor Canton, diz que a cooperativa do Sul do País projeta crescer 20% em relação a 2020, alcançando faturamento bruto em torno de R$ 18 bilhões. Em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, Canton relata que pode haver limitações, considerando que o milho e o farelo de soja, importantes insumos de produção, seguem valorizados. E não é pouco o que a Aurora precisa para garantir a nutrição de seus plantéis - só no ano passado, ela abateu 6,1 milhões de suínos e 246,8 milhões de aves. O consumo mensal, conta o executivo, alcança 170 mil toneladas de milho e 120 mil toneladas de farelo de soja.

Outra incerteza diz respeito à China. Será que o país continuará demandando as quantidades industriais de proteína animal que adquiriu nos últimos dois anos? Graças a esse comprador, o faturamento com exportações de carnes da Aurora deu no ano passado um salto de 62%. E, claro, há ainda a expectativa em relação a como o governo do presidente Joe Biden vai se posicionar no comércio com os chineses. "As oscilações acontecerão e precisaremos 'pilotar' isso", diz Canton. De todo modo, a Aurora credita suas projeções de crescimento à ampliação da produção até 2023. Não necessariamente com inauguração de plantas, mas com o aumento da produção das já existentes - atualmente, 15, entre unidades de abates de suínos e aves e uma de lácteos. Para 2021, os investimentos previstos estão na casa dos R$ 500 milhões. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Broadcast Agro - A Cooperativa Central Aurora Alimentos fechou 2020 com um forte resultado. Conforme divulgado nesta semana, a receita cresceu 33%, para R$ 14,6 bilhões. As exportações contribuíram bastante para este desempenho, com faturamento 62% maior. Diante desses números tão positivos, quais as perspectivas para 2021?

Neivor Canton - Em primeiro lugar, precisamos falar sobre o alto preço dos grãos, que se agravou muito nos últimos meses e neste início de ano, sobrecarregando o custo da produção de proteínas animais. Este é um ponto de interrogação: até quando esses custos permanecerão em patamares tão altos? Em segundo lugar, ainda não sabemos se conseguiremos repassar esse aumento para os nossos produtos e se o consumidor terá dinheiro para adquiri-los, tendo em vista, ainda, a incerteza sobre a continuidade dos programas sociais do governo, que contribuem, de certa forma, para que a população consuma mais proteína animal.

Também em relação ao mercado externo há incertezas. Não sabemos se ele será tão demandante como foi em 2020, um ano muito bom, puxado principalmente pela necessidade de a China importar mais proteína animal em virtude do surto de peste suína africana (PSA). Lembrando que os embarques externos de carnes de frango e suína cresceram também para outros países, que precisaram se mobilizar para satisfazer suas necessidades em um cenário de pandemia. No ano passado, coroando esse cenário, tivemos um câmbio bastante favorável às exportações. Todos esses fatores, enfim, deverão ser monitorados constantemente em 2021. Será um ano de muitas projeções. As oscilações acontecerão e precisaremos "pilotar" isso.

Broadcast Agro - Quanto a Aurora espera crescer em 2021?

Canton Pretendemos crescer algo em torno de 20% em relação à nossa receita operacional bruta, que foi de R$ 14,6 bilhões. Esta receita virá, obviamente, de um ligeiro crescimento dos volumes a serem produzidos, além de uma melhora do nosso portfólio. São medidas que, somadas, devem levar a uma receita operacional em torno de R$ 18 bilhões este ano. Devemos lembrar que em 2020, mesmo sob pandemia, nós conseguimos crescer e ampliar o número de empregos em 5 mil, contribuindo para que o desemprego no País fosse suavizado.

Broadcast Agro - Em que, principalmente, se baseia essa projeção de crescimento? A Aurora pretende investir em novas unidades industriais tendo em vista, por exemplo, a forte demanda da China por proteína animal?

Canton - Nós não projetamos novos investimentos para atender especificamente à China. São investimentos pensados para atender ao mercado como um todo, interno e externo. Temos consciência, além disso, de que a China está ampliando de maneira relativamente rápida sua produção própria de suínos e há o risco de sermos surpreendidos com essa rapidez no sentido de que o país asiático pode reduzir sua demanda por importação de carnes. Além disso, é bom lembrar que a China não negocia só com o Brasil, mas também com outros países.

E é preciso levar em conta como estarão as relações entre Estados Unidos e China nos próximos meses (tendo em vista a guerra comercial entre os dois países de dois anos para cá). Esta é sempre uma questão, já que os EUA também são grandes fornecedores de proteína animal. Enfim, são inúmeras variantes com as quais precisamos estar conectados e não podemos, por isso, trabalhar com a única hipótese de que os embarques para a China vão continuar nos níveis atuais. Acho até que, gradativamente, haverá uma redução e outros mercados terão de ser identificados, embora, claro, eles não se comparem com a China.

Broadcast Agro - Quais são, enfim, os investimentos previstos para este e os próximos anos?

Canton - Os investimentos, que devem alcançar R$ 500 milhões este ano, estão voltados mais a adicionar produção e otimizar processos nas unidades industriais já existentes. A Aurora tem 15 unidades, principalmente no Sul do País, e uma em Mato Grosso do Sul. São sete plantas de aves, sete de suínos e uma indústria de lácteos, além de unidades de produção de ração. Assim, a maior parte deste valor será para ampliar a produção das unidades em operação. No ano passado, por exemplo, duplicamos a planta de suínos em Chapecó (SC), que abatia 5 mil suínos por dia e passou para 10 mil/dia. E vamos, até 2023, aumentar a capacidade de algumas delas. A de Guatambu, que fica no oeste de Santa Catarina, próximo de Chapecó, por exemplo, terá a capacidade ampliada de abate de 130 mil aves por dia para 400 mil aves por dia até 2023. Já a unidade de Maravilha (também no oeste do Estado) vai ser ampliada para 190 mil aves por dia, sendo que hoje o abate diário é de 130 mil aves. A de Erechim (RS) vai crescer na mesma proporção.

Broadcast Agro - E quanto à tecnologia?

Canton - Também vamos adicionar tecnologia para otimizar a capacidade de abate, tendo em vista que a questão de mão de obra é cada vez mais difícil no Sul do País. Não há mais, digamos, oferta de mão de obra abundante por aqui, por isso precisamos adicionar essas tecnologias. Além disso, a tecnologia tornará as plantas mais sustentáveis economicamente, pois uma unidade, para ser viável, tem de ter uma escala mínima de operação. Ainda em relação à mão de obra, temos contado inclusive com imigrantes haitianos, venezuelanos e africanos, que vêm em grande quantidade para a nossa região. Nós temos hoje quase 36 mil empregados, sendo cerca de 5 mil estrangeiros.

Broadcast Agro - Voltando a falar dos principais insumos do setor de suínos e aves, milho e farelo de soja. Que estratégias a Aurora adotou em 2020 e prevê adotar este ano para garantir o abastecimento dos plantéis dos produtores integrados?

Canton - Temos tido constantes diálogos com o Ministério da Agricultura. A ministra Tereza Cristina é muito ativa, sempre examinando o aspecto de garantia de suprimento. E, no País, temos estoques reguladores que tranquilizam o mercado sob este aspecto. Mesmo assim, estamos sempre na dependência de novas safras e esperamos que a atual safra (2020/21) seja boa no Paraná e no Centro-Oeste. Porque Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de serem deficitários em produção de milho, tiveram quebras na safra de verão deste ano. Também compramos milho do Paraguai.

Outro ponto que prejudica o abastecimento do Sul do País é a deficiência em infraestrutura para trazer o milho para cá. Queremos muito que a Ferrovia Norte-Sul chegue aqui na região, mas ainda não temos uma resposta segura a respeito disso. E o governo catarinense também tem participado de um esforço para aumentar a produção do grão no Estado - que importa metade do que precisa. Há programas que oferecem sementes de qualidade e para correção do solo para melhorar a produtividade, já que a área plantada em Santa Catarina chegou ao seu limite. Enfim, milho e soja são assuntos da nossa pauta diária, já que não há como armazenar esses grãos para o ano todo. À medida que se consome, vai-se ao mercado e se busca a reposição do insumo consumido.

Broadcast Agro - Quanto a Aurora consome de milho e farelo de soja por mês?

Canton - De milho, 170 mil toneladas por mês. E, de farelo de soja, em torno de 120 mil toneladas por mês.

Broadcast Agro - A perspectiva de a China começar a importar milho em grande volume do Brasil para alimentar seus plantéis suínos preocupa? Vocês têm conversado sobre isso com o governo federal?

Canton - Temos certa preocupação em relação a isso. Sabemos que o governo tem monitorado a questão e fornecido informações ao setor, por meio da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). É claro que se a China começar a importar milho vai faltar grão aqui. A relação é direta. Por isso torcemos para que Joe Biden (presidente dos EUA) se entenda bem com Xi Jinping (presidente da China) e que resolvam o problema (da guerra comercial iniciada pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump). De todo modo, sabemos que o mercado se ajusta no valor, no preço e na oportunidade. Mas teremos, com certeza, preocupações este ano.

Broadcast Agro - Por fim, como o senhor está vendo a disputa entre Brasil e Indonésia na Organização Mundial do Comércio (OMC), dado o protecionismo da Indonésia contra o frango brasileiro?

Canton - Claramente, a Indonésia impõe barreiras comerciais, pois eles têm interesse em proteger seus avicultores. Desta forma, levantam teses (protecionistas) que não têm sustentação e que com o tempo serão derrubadas.

Contato: tania.rabello@estadao.com
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