Agronegócios
28/12/2021 10:39

Grãos/EUA: logística, tensões geopolíticas e clima devem elevar volatilidade de preços em 2022


Chicago, 28/12/2021 - Após um 2021 de altos preços dos grãos, agricultores dos Estados Unidos esperam plantar em 2022 ainda mais milho, trigo e soja do que o volume recorde deste ano. No entanto, altos preços de fertilizantes, projeções de condições climáticas imprevisíveis e a ameaça de redução nas compras chinesas pairam sobre o próximo ano.

As cotações agrícolas alcançaram níveis altos este ano com o avanço da demanda global e da inflação, e produtores devem aumentar o plantio para tentar capitalizar o bom momento de 2021. A empresa de pesquisa IHS Markit projetou este mês que a área plantada dos EUA deve alcançar cerca de 230 milhões de acres (93 milhões de hectares) de soja, trigo e milho em 2022, 2 milhões de acres (809 mil hectares) a mais do que os patamares recordes deste ano.

Analistas preveem que preços de grãos em 2022 devem recuar, com a oferta global se aproximando da demanda. Os preços caíram desde o pico em maio, mas continuam nos maiores níveis em oito anos. No acumulado de 2021, futuros de milho na Bolsa de Chicago (CBOT, na sigla em inglês) subiram 27%, e de trigo, 25%. A soja, com alta de quase 5% no ano, começou 2021 no nível mais alto desde 2014.

O plantio volumoso deve limitar o aumento dos preços dos grãos. "Nesta safra, estamos vendo uma expectativa de reconstrução de estoques. Isso sugere que haverá um teto para preços", afirma o estrategista sênior de portfólio da Teucrium Trading LLC, Jake Hanley.

Muitos fatores devem causar volatilidade nos preços em 2022. Analistas e investidores dizem que a geopolítica pode ser o principal, com tensões entre EUA e China e o aumento de tropas russas na fronteira com a Ucrânia ameaçando acrescentar incerteza ao comércio global.

Se a Rússia atacar a Ucrânia, como fez em 2014 ao anexar a península da Crimeia, preços de trigo podem subir, diz Hanley. Em 2014, as cotações aumentaram 75% entre fevereiro e março em decorrência desse conflito. A Rússia é uma das principais exportadoras de trigo, assim como a Ucrânia.

Há dúvidas também sobre o apetite da China por grãos. O ritmo do crescimento do PIB do país este ano deve cair, e uma bolha no setor imobiliário pode estourar. O gigante asiático, principal comprador mundial de grãos exportados, deve importar mais de 135 milhões de toneladas de milho, soja e trigo no ano comercial 2021/22, afirma o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

"Acho que a demanda da China por commodities está diretamente ligada ao PIB", diz o presidente da Global Commodity Analytics & Consulting, Michael Zuzolo.

No fim do ano, expira o acordo comercial entre EUA e China feito durante o governo Trump. A relação entre os dois países ainda não é a ideal - o gigante asiático não cumpriu as metas de compras agrícolas estabelecidas no acordo, segundo o Instituto Pearson para Economia Internacional. Os EUA afirmaram em outubro que vão manter as atuais tarifas sobre bens chineses.

Outros fatores podem atrapalhar a capacidade dos EUA de abastecer a demanda global. Um deles é o problema logístico global que, junto com a inflação, eleva custos de materiais e equipamentos necessários para produtores. A Deere & Co. afirmou em novembro esperar vendas fortes e preços mais altos para equipamentos agrícolas no ano que vem.

O efeito dos problemas nas cadeias globais é sentido especialmente nos custos com fertilizantes, que chegaram a triplicar em comparação com o mesmo período do ano passado. Preços altos de fertilizantes podem reduzir seu uso, prejudicando a produção agrícola, afirmou a Fitch Solutions em nota este mês. A demanda forte e a capacidade apertada de frete também devem continuar no ano que vem, oferecendo pouca esperança de queda nos preços de insumos agrícolas antes do plantio para a próxima safra.

Além disso, o clima - variável que agricultores enfrentam todos os anos - pode apresentar desafios significativos. Há um La Niña no momento, e o centro de previsão climática da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA estima em 60% a chance de esse clima continuar até a primavera.

A projeção é de mais chuvas em Estados importantes produtores, como Indiana, Illinois e Missouri, mas a temperatura alta e o tempo seco devem se manter em Estados do sul. Variações climáticas podem afetar a produtividade agrícola e nos últimos anos contribuíram para oscilações de preço. Fonte: Dow Jones Newswires
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