Por Isadora Duarte
São Paulo, 04/10/2021 - A trading russa Sodrugestvo está ampliando a sua atuação no País. A partir deste mês, a companhia passa a comprar e comercializar trigo brasileiro, afirma o diretor-geral da trading no Brasil, Danilo Dália Jorge. O projeto se iniciará com cereal do Rio Grande do Sul, da safra 2020/21, que será vendido pela trading principalmente para moinhos da região. "O trigo é um produto relativamente novo na nossa carteira. Trabalhamos para ampliar o volume comercializado com operações distintas", disse Jorge, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro .
Até então, a empresa operava com a importação do cereal e com a originação (compra) de soja e milho brasileiros. A companhia movimenta cerca de 2 milhões de toneladas de grãos no País por ano. Deste montante, aproximadamente 600 mil toneladas de trigo são exportadas pela trading da Rússia e da Argentina para fornecimento à indústria moageira nacional.
Head de Trigo da Sodrugestvo Brasil, Douglas Araujo, avalia que a operação é sinérgica à estratégia da empresa, que já possui relacionamento comercial com a indústria moageira. "Os moinhos conhecem nosso trabalho com trigo importado. Há um relacionamento contínuo", observa. A aquisição do cereal dos triticultores, tanto de produtores quanto de cooperativas, será feita em parceria com a Celena Alimentos, de Eldorado do Sul (RS). Já a gestão do processo e a venda às fábricas ficará sob responsabilidade da Sodrugestvo. O trigo originado será estocado em armazéns contratados nas regiões produtoras. No momento, já há um disponível para uso da trading em Santo Ângelo.
Os primeiros contratos envolvendo o cereal da temporada nova devem ser fechados nos próximos dias e tendem a se estender por todo o ano-safra, estima Araújo. Ontem, o projeto foi apresentado aos produtores gaúchos, que devem começar a colher trigo em cerca de 20 dias. No momento, os negócios estão em fase de prospecção com os moinhos e desenvolvimento de fornecedores. O destino principal do grão será a indústria moageira da Região Sul, com foco no Rio Grande do Sul. "Já existe um comércio interestadual característico que se acentua quando o Rio Grande do Sul tem safra volumosa. Pretendemos vender também para moinhos de Santa Catarina e Paraná", aponta o head de Trigo da companhia.
A exportação do grão gaúcho também é considerada pela empresa, caso "surjam oportunidades". "Se a paridade for favorável, podemos avaliar exportação. O Brasil está se credenciando como exportador de trigo para moagem e de qualidade", avalia Araujo. Ele pondera que a venda externa do cereal vai depender do tamanho da colheita gaúcha. "A nossa proposta é híbrida: atuar tanto no mercado interno quanto externo. O Rio Grande do Sul está com potencial grande de aumentar a produção e pode haver excedente para exportação", pontua.
Nesta primeira safra da nova frente, a Sodrugestvo voltará a operação para compra do grão exclusivamente no Rio Grande do Sul, onde já atua na originação de soja. Mas não descarta a possibilidade de expandir a origem para outros Estados, como Paraná, futuramente. Por ser um projeto incipiente, a companhia não revela a expectativa de volume a ser originado de trigo nacional nesta safra, mas Jorge antecipa que deve levar de dois a três anos para a nova operação atingir o volume já internalizado pela trading. "Será uma operação de entrada no mercado interno, ainda preliminar. Na importação, já há um plano de negócios consolidado, o qual trabalhamos para alavancar os volumes", explica Jorge.
Mesmo com a operação local, a companhia não deixará de exportar trigo russo e argentino para abastecimento dos moinhos nacionais. "Vamos continuar com esse programa. O trigo russo está se consolidando como opção extra à indústria", pontua Araujo. A companhia foi responsável pelas primeiras operações de importação de trigo russo ao Brasil em 2018. Na próxima safra, outros países podem ser incluídos no portfólio de venda ao Brasil, como o cereal lituano. "Por termos presença europeia, pretendemos explorar outras origens no ano-safra 2022/23. A janela de comercialização de trigo do Hemisfério Norte já foi encerrada neste ano."
No segmento de originação e comercialização, a Sodrugestvo trabalha também com exportação e esmagamento de soja brasileira e importação de milho. De acordo com os dados da empresa, entre 1,3 milhão e 1,4 milhão de toneladas de soja são exportadas anualmente e 400 mil toneladas são esmagadas e comercializadas em farelo ou óleo. "Nosso principal negócio como grupo global é o processamento de soja e comercialização de farelo e óleo", ressalta Jorge.
De milho, a Sodrugestvo Brasil comercializa cerca de 180 mil toneladas por safra. Neste último ano, também atuou na exportação de trigo argentino para a indústria nacional, internalizando entre 30 mil e 60 mil toneladas. "A continuidade da atuação na importação vai depender das condições de mercado. A importação de milho pela indústria brasileira foi totalmente atípica neste ano em virtude da quebra da safrinha", comenta Araujo.
Atualmente, a trading possui cinco unidades no País, sendo quatro armazéns (espalhados entre São Paulo, Minas Gerais e Goiás) e uma fábrica de esmagamento de soja em São Joaquim da Barra (SP), e 12 escritórios comerciais.
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