Economia & Mercados
18/05/2020 08:21

Minha Casa Minha Vida salva vendas de imóveis na pandemia


Por Circe Bonatelli

São Paulo, 18/05/2020 - As construtoras que atuam no Minha Casa Minha Vida (MCMV) estão sentindo um impacto menor nas vendas em comparação com as empresas que atuam com empreendimentos de médio e alto padrão, nos quais as transações despencaram cerca de 65%. Assim como na crise econômica iniciada em 2014, o programa habitacional tem segurado os negócios nesta pandemia, evidenciando ainda mais a sua importância enquanto passa por uma reformulação no governo federal.

A construtora Tenda informou que, a despeito de muitos estandes fechados, registrou em abril o melhor mês de vendas em todo o ano. Focada no Minha Casa Minha Vida, a companhia tem encontrado demanda apesar da crise. "Nosso cliente é resiliente", afirmou o diretor de relações com investidores, Renan Sanches, em entrevista. A companhia tem conseguido dar vazão aos negócios essencialmente pelos canais digitais.

A Direcional, que também atua no programa, antecipou que as suas vendas em abril e maio estão em um nível semelhante ao registrado no primeiro trimestre. "As vendas estão saudáveis dentro do contexto em que estamos vivendo", avaliou o presidente da companhia, Ricardo Ribeiro, em conferência com investidores.

A principal explicação para a blindagem do mercado de imóveis populares é que os consumidores deste segmento desejam sair da moradia atual - seja porque ela é compartilhada com outras famílias, ou porque o imóvel está em más condições. Há também o interesse em trocar o aluguel pela prestação da casa própria, uma vez que os valores são semelhantes. Outro ponto é que o ritmo de formação de novas famílias nesse estrato social ainda é maior do que a quantidade de imóveis novos produzidos a cada ano. "Ou seja, tem demanda suficiente para absorver a oferta", disse Ribeiro.

Com isso, a tendência é que o Minha Casa Minha Vida ganhe ainda mais representatividade no total de negócios nos próximos meses. Atualmente, o programa responde por 79% dos lançamentos e 71% das vendas no País, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Mas esse peso tende a crescer ao longo dos próximos meses, assim como ocorreu na crise iniciada em 2014, quando o programa marcou mais de 80% dos negócios.

Enquanto isso, o Ministério do Desenvolvimento Regional prepara ajustes no programa, que devem ser anunciados assim que a pandemia der uma trégua. O novo MCMV terá uma nova modalidade, dedicada à regularização fundiária, substituindo a faixa 1, que foi paralisada por falta de recursos da União. O objetivo aqui é fazer um mapeamento de casas que já existem em áreas que sejam regularizáveis e conceder o título da propriedade e do terreno, conforme já noticiado pelo Broadcast.

O governo federal também estuda reduzir as taxas de juros do MCMV. Empresários do setor propuseram crédito com taxas entre 4% a 6% ao ano, ante a regra vigente, de 5,5% a 8,16% ao ano. Mas a governo deve adotar um corte mais enxuto, que fique em torno de 0,5 ponto porcentual a 0,75 ponto porcentual, segundo fontes.

Média e alta renda

No segmento de imóveis para população de renda média e alta, o clima é de maior apreensão por causa da queda nas vendas. Neste caso, o senso de urgência dos clientes para fechar negócio é menor. Muitos já vivem em um local confortável, e a compra é uma espécie de upgrade para um apartamento maior ou em uma melhor localização. "Na classe média e alta, as vendas certamente foram muito mais impactadas, porque esse cliente se isolou dentro de casa. Ele não tem a urgência para comprar como no segmento de baixa renda", contou Raphael Horn, copresidente da Cyrela, tradicional em empreendimentos de alto padrão.

Horn explicou que os canais digitais até ajudam na apresentação dos projetos, tramitação dos documentos e assinatura do contrato, mas o problema é que esses clientes não têm motivação para compra diante das incertezas sobre os rumos do País. "É o mesmo caso da venda de veículos, que também caiu. Dá pra comprar carro online, mas ninguém está com humor para gastar R$ 50 mil ou R$ 100 mil em um carro novo", comparou. A Cyrela informou que as vendas caíram significativamente no pós-pandemia, mas não antecipou números.

Já a Tecnisa relatou que as vendas em abril foram 55% menores do que previsto para o mês, antes da crise. "Sentimos um efeito nas vendas, uma vez quer os estandes estão fechados. Quando o sujeito não pode ir ao estande ver a planta decorada, desiste de comprar", explicou o diretor presidente, Joseph Meyer Nigri, em entrevista. O executivo conta que as vendas efetivadas em abril já estavam sendo tratadas com os clientes nas semanas anteriores.

A Eztec registrava vendas médias de R$ 40 milhões por semana até a primeira quinzena de março. Mas, com a chegada da crise, esse patamar despencou 90%, para R$ 4 milhões por semana. "As pessoas ficaram em choque, entraram em um estado de perplexidade", disse o diretor de relações com investidores, Emílio Fugazza, em entrevista.

A boa notícia, segundo ele, é que desde o fim de abril, as vendas estão se aproximando de um patamar um pouco mais alto, de R$ 10 milhões por semana. "Ainda estamos abaixo do nível pré-crise, mas é, honestamente, um sinal positivo de melhora para o setor". Na avaliação do executivo, as pessoas estão retomando os negócios pouco a pouco, à medida em que vão se acostumando à nova realidade.

Contato: circe.bonatelli@estadao.com
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