Economia & Mercados
02/05/2022 14:22

Especial: Potencial no Brasil justifica lançamentos de BDRs por gestoras internacionais


Por Bruna Camargo

São Paulo, 29/04/2022 - O sino que toca com a listagem de novos produtos da B3 soou algumas vezes nos últimos meses por conta da chegada de BDRs de ETFs na Bolsa brasileira. Embora o as primeiras badaladas tenham sido dadas pela BlackRock, em parceria com o Banco B3, em novembro de 2020, foi mais recentemente que outras gestoras internacionais desembarcaram por aqui para explorar o mercado. O motivo? Elas veem potencial com o amadurecimento dos investidores locais. E o que dizem esses investidores? Que há estudos em curso para entender o benefício desse tipo de produto e, particularmente, do lado dos institucionais, interesse em se expor ao exterior sem sair do País.

Inclusive, essa característica dos BDRs de ETFs é um diferencial na prateleira. Isso porque são recibos emitidos localmente e, portanto, regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como um ativo local. Os recibos têm exposição internacional porque são lastreados em cotas de fundos de índice no exterior. A avaliação é ainda corroborada pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), permitindo, por exemplo, que fundos de pensão possam aumentar a exposição internacional sem furar o limite permitido, de 10%.

“O Brasil é uma economia periférica. Representamos mais ou menos 1% do mercado financeiro global. E aqui acontece o mesmo que em vários países, o home bias [viés doméstico]. Mas quando você monta o portfólio e olha os ativos locais, o Brasil tem setores bem concentrados, tanto no mercado bursátil quanto no mercado de capitais. Vejo como tendência a criação de alternativas para que você tenha acesso a fatores de risco que você não encontra no mercado local”, afirma Marcelo Wagner, diretor de investimentos da Previ e secretário executivo da Comissão Técnica de Investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

Wagner conta que, na Previ, um dos maiores fundos de pensão da América Latina, ainda não há alocação em BDRs de ETFs, mas especialistas estão estudando o produto. Um dos principais pontos de avaliação é o custo do investimento. “Para que esse produto chegue no mercado bursátil local, ele tem uma estrutura de controle que vai ter um custo. A gente faz a análise desse custo vis a vis comprar diretamente o ETF lá fora. Para quem tem mais escala, essa questão fica mais latente”, explica, embora reforce que “a beleza [do produto] é a alocação local”.

Diversificação para um “mercado maduro”

Menos de dois anos após o primeiro lançamento, o número de BDRs de ETFs listados na B3 já triplicou. Os 37 primeiros foram lançados no final de 2020 pela BlackRock, em parceria com o Banco B3. Agora, já são 115 BDRs de ETFs de renda variável - com maioria da BlackRock, mas também das gestoras internacionais Global X, First Trust, VanEck e Aberdeen - e oito BDRs de ETF de renda fixa da BlackRock, conforme levantamento mais recente da B3.

Em declarações após os lançamentos e em conversas com o Broadcast, executivos das gestoras destacam o interesse no Brasil pelo potencial do mercado e pela maturidade dos investidores locais, que buscam diversificação internacional para o portfólio. E quem está aproveitando esse tanto de BDR de ETF sendo lançado? As gestoras, segundo Guilherme Benites, sócio da Aditus Consultoria, que faz a assessoria de investidores institucionais na análise de investimentos e risco.

O boletim mensal de março da B3 mostra que a maioria dos investidores são pessoas físicas (98,5%), mas em participação na posição em custódia e no volume negociado, o destaque vai para os investidores institucionais - com 91,8% e 59,7%, respectivamente. “Hoje não é tão comum que os fundos de pensão procurem montar carteiras com tanta diversificação. Normalmente delegam isso a um gestor. Então essa ampla gama de alternativas de BDRs de ETFs que vemos vai acabar sendo mais direcionadas à indústria de gestão”, avalia Benites.

E o número de produtos listados tem tudo para crescer. Gabriela Shibata, gerente de Cash Equities da B3, destaca as parcerias que têm sido feitas com gestoras globais e reforça ver o potencial no mercado. “Observamos uma evolução muito grande da base de investidores. A tendência é que isso aumente”, afirma, acrescentando que isso deve acontecer por ter formadores de mercado, spreads mais agressivos e investimento educacional envolvidos.

E o investidor pessoa física?

Nem todos os BDRs de ETFs estão disponíveis para os mais de 14 mil investidores de varejo que têm esse tipo de produto na carteira. Mas, segundo Shibata, da B3, há um esforço conjunto entre bancos depositários e gestoras para disponibilizar todos esses ativos para pessoas físicas “em um futuro próximo”.

Para quem já tem ou está pensando em ter BDRs de ETFs no portfólio, a recomendação é avaliar e tomar cuidado com os temas de exposição. “Quando a temática chega ao conhecimento do grande público, em geral, já avançou bastante no preço. Depois o investidor entra [no investimento] e acaba sofrendo perdas”, explica Luiz Felippo, sócio e analista da Nord Research. “É preciso estudar e buscar um especialista para estudar o risco-retorno da ‘aposta’”, acrescenta.

Contato: bruna.camargo@estadao.com
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