Por Matheus Piovesana
São Paulo, 17/08/2022 - Os maiores bancos listados do País saíram da pandemia mais eficientes. Estudo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) obtido pelo Broadcast mostra que o índice de eficiência combinado de Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander Brasil ficou em 39%, o menor da série, iniciada em 2018. Por outro lado, o resultado da intermediação financeira sente o peso da piora do ciclo de crédito.
O índice de eficiência faz uma relação entre as despesas e as receitas do banco, portanto quanto menor, melhor: significa maior diluição da estrutura. No segundo trimestre do ano, os quatro bancos melhoraram no indicador. Os melhores números vieram do Santander (33,9%) e do Banco do Brasil (34,7%).
"Os bancos, nos últimos anos, trabalharam muito na busca por ganhos de eficiência", afirma o presidente da Febraban, Isaac Sidney. "Certo é que os bancos fizeram o dever de casa, cortando custos e despesas."
Sidney aponta que, em outro indicador, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês), os bancos convergem para índices pré-pandemia. No consolidado, a rentabilidade dos quatro no segundo trimestre foi de 19,3%, quase a mesma de três anos antes (19,4%).
"Esse resultado deve-se a uma série de fatores, como forte expansão da carteira de crédito, maior eficiência na geração de receitas, melhoria na gestão das despesas, e também destacaria a participação do Banco do Brasil, que mostrou desempenhos expressivos", diz.
Em trimestre de resultado recorde, o BB mostrou ROE de 20,6%, em linha com os pares privados pela primeira vez em uma década e acima dos 17,6% de dois anos antes. Santander, Bradesco e Itaú, por sua vez, recuperaram seus índices, mas seguem abaixo dos números registrados em 2019.
Puxados por BB e Itaú, respectivamente, os quatro bancos tiveram lucro de R$ 26,6 bilhões no segundo trimestre, alta de 20,5% em um ano.
Custo de crédito
O segundo trimestre deste ano foi marcado por uma expansão da margem financeira dos bancos, que mede o resultado com operações que rendem juros, como os empréstimos. No agregado dos quatro, a alta foi de 10,5% em termos anuais, para R$ 68,8 bilhões, puxada por Itaú e BB.
Ainda assim, o chamado resultado de intermediação financeira caiu 1,3% no período, para R$ 47,3 bilhões. O detrator foi o custo de crédito: as despesas com provisões contra devedores duvidosos subiram 49,8% no período, para R$ 21,5 bilhões, puxadas pelos bancos privados. A Febraban estima que o resultado da intermediação financeira ainda não "voltou" a 2019.
"Apesar dos números robustos dos lucros, a alta dos custos de captação, com a Selic maior, e a elevação das despesas com provisões, dado o aumento da inadimplência das famílias, estão pressionando a margem", diz Sidney. "Além disso, a receita de intermediação financeira caiu no último trimestre, mas os bancos estão muito focados em superar todos esses desafios."
Mais crédito
A procura por crédito durante a pandemia e mais tarde, na retomada da economia, fez com que a participação dos empréstimos no total de ativos dos quatro bancos subisse de 44,8% para 47,7% entre o final de 2019 e junho deste ano. O volume de operações passou de R$ 2,5 trilhões para R$ 3,4 trilhões no período.
Sidney afirma que o crescimento das operações é uma das alavancas para a recuperação da economia. "Nominalmente, a carteira saltou de R$ 2,5 trilhões para R$ 3,5 trilhões, um crescimento forte que tem ajudado bastante na dinâmica de maior resiliência da economia aos choques da pandemia, da guerra e da inflação", diz.
O presidente da Febraban aponta que o spread (diferença entre custo de captação e juros cobrados nos empréstimos) está subindo abaixo da alta dos juros, e que a receita com serviços cresceu abaixo da inflação nos últimos 12 meses, com alta de 6,8%, também considerados os dados dos quatro bancos do levantamento.
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