Economia & Mercados
22/08/2023 08:23

Brasil exige apoio chinês para Conselho de Segurança da ONU em troca de expansão do Brics


Por Felipe Frazão, enviado especial

Johannesburgo, 21/08/2023 - Principal entrave à expansão do Brics, o governo brasileiro pôs na mesa de negociação uma exigência para destravar a adesão de novos países no bloco. O Brasil quer como contrapartida o apoio da China à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com uma declaração clara, por parte dos chineses, de suporte ao pleito brasileiro para ter um assento permanente no órgão.

A moeda de troca foi combinada em ação conjunta com a Índia e a África do Sul. Ingressar no Conselho de Segurança da ONU é um desejo antigo dos três países, agora articulado para convencer Pequim.

Pressionada pela China, que patrocinou seu ingresso no Brics em 2011, a África do Sul já declarou ser a favor da expansão perseguida por Pequim para ampliar influência global e projetar sua economia e poder geopolítico, além de aumentar o peso econômico do Brics e o perfil político antagônico a potências ocidentais, como os Estados Unidos e o G7. No entanto, o Brasil espera manter o apoio sul-africano na estratégia de negociar em trio porque o País tem como objetivo ser o representante da África no Conselho de Segurança.

A Índia, por sua vez, cedeu à pressão nos últimos meses, interessada no ingresso de parceiros como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O país não quer perder influência para a China, com quem possui disputas geopolíticas. Mas, assim como o Brasil, os indianos desejam adotar critérios para autorizar a expansão dos Brics, e perseguem uma vaga no Conselho.

O Brasil já deixou claro que estaria disposto a destravar o processo se a China, principal patrocinadora da entrada de novos membros no bloco, assim como os postulantes, manifestassem em declaração assinada em Johannesburgo serem a favor da pretensão histórica brasileira - e também de indianos e sul-africanos.

São cinco os postulantes com mais chances: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Todos têm o apoio de Pequim.

Apesar de insistentes pedidos anteriores, a China nunca manifestou claramente que apoia o ingresso do Brasil. Outro integrante do Brics no Conselho, a Rússia já declarou antes seu apoio à candidatura brasileira.

Os brasileiros argumentam que a troca seria razoável porque na prática estariam entregando prestígio e acesso ao Brics em troca de uma mera declaração, um compromisso que poderiam exigir depois dos chineses. A expectativa de negociadores, porém, é que Pequim dificilmente fará essa concessão em favor da postulação brasileira. Isso porque a China trabalha nos bastidores contra a ampliação na prática dos membros permanentes do Conselho de Segurança.

Embaixadores brasileiros consideram uma incoerência a China patrocinar o ingresso de novos membros no Brics e bloquear processo semelhante no órgão mais poderoso das Nações Unidas.

Nos dois casos, uma das justificativas é dar mais representatividade aos organismos multilaterais e equilibrar poderes de decisão na governança global, dando aos órgãos uma composição mais próxima do atual cenário do mundo, com presença de países em desenvolvimento e do chamado Sul Global.

Nos últimos quatro dias, a diplomacia chinesa pressionou durante as reuniões de sherpas do Brics - os diplomatas que conduzem as negociações técnicas - para que os termos da expansão fossem acertados antes do retiro dos líderes. A ideia era garantir que o Brasil cedesse, além da Índia, e poupar Xi Jinping de concessões.

Diplomatas que participam das tratativas dizem que o Brasil vai segurar o quanto puder a negociação para que a questão seja tratada no nível político mais alto, pelos chefes de Estado e de governo. A decisão então caberá aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Xi Jinping, Vladimir Putin (Rússia), Cyril Ramaphosa (África do Sul) e ao primeiro-ministro Narendra Modi (Índia).

Os negociadores já concluíram a fase de entendimento do texto da declaração final de Johannesburgo. Agora, eles fazem a segunda leitura, para retirar propostas que não alcançaram consenso dos cinco membros. Resta pendente ainda o caderno de regras e critérios para a expansão dos Brics, que deverá ser finalizado após o retiro dos líderes e incluído na declaração final da 15ª Cúpula dos Brics.

Contato: felipe.frazao@estadao.com
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