Por Célia Froufe e Fernanda Trisotto
Brasília, 26/04/2024 - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou sobre a inflação global durante palestra no evento "Cenário e Perspectivas para o Brasil", promovido pelo Young Presidents’ Organization (YPO). "A grande pergunta que a gente se faz é de onde virá a desinflação daqui para frente", afirmou durante a apresentação.
O presidente da autoridade monetária comentou sobre núcleos de inflação e disse que a inflação de serviços não está caindo mais. Ele também observou que, historicamente, não há desinflação em período de pleno emprego por tempo longo.
"Os Estados Unidos hoje concentram toda a atenção. Temos números importantes para acompanhar hoje, e lá a inflação caiu e depois voltou a subir", disse.
Ele ainda analisou que o cenário dos Estados Unidos, com incerteza, mudou a precificação do mercado. Como a curva americana não mostra mais queda de juros, há efeitos em todo o mundo. Como exemplo, ele citou a diminuição da expectativa de corte de juros na Europa e em países emergentes, como o Brasil e México.
Um dado apresentado por Campos Neto era de expectativas do mercado para a política monetária, que estão menos otimistas para o corte de juros. "Estou falando mais do externo do que o normal porque é mais importante para nós agora. Se os juros nos Estados Unidos ficarem mais altos por mais tempo, significa que vai custar mais caro rolar a dívida por mais tempo", disse.
Ele afirmou que os dados da economia americana melhoraram, mas disse que, se o país tiver de aumentar os juros, ficaria em uma situação complicada e que traz implicações para a política fiscal. "Se tenho juros mais altos por mais tempo, vou gastar mais e a dívida americana subiu muito. A situação confortável para o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] não significa que seja mais confortável para o resto do mundo", disse.
Mais cedo, Campos Neto relembrou que, no período da pandemia, houve um movimento de organização das políticas monetária e fiscal para o enfrentamento da crise sanitária. Foi feito um plano muito ambicioso - em termos de gastos fiscais, gastou-se três vezes mais do que em 2008, mas depois vieram as cicatrizes, entre elas a inflação. A isso somou-se a guerra da Ucrânia, que pressionou os preços de energia.
Contatos: celia.froufe@estadao.com e fernanda.trisotto@estadao.com