Economia & Mercados
07/01/2022 17:00

Especial: Apesar de Fed mais duro, especialistas não veem grande impacto sobre ciclo de Selic


Por Thaís Barcellos

Brasília, 07/01/2022 - Apesar da postura mais hawkish do Federal Reserve (Fed, banco central americano), especialistas consultados pelo Broadcast não veem grande impacto sobre o já adiantado ciclo de alta de juros por aqui. A avaliação é de que o Brasil está mais "blindado" que outros emergentes, pois saiu na frente no aperto monetário e tem boa situação nas contas externas.

Além do mais, o câmbio já está muito depreciado e, se bem-sucedido, o controle dos preços internacionais pode ajudar por aqui, já que parte da inflação é importada. Para os analistas, as questões internas, como o fiscal, devem seguir pesando mais do que os riscos lá de fora.

Na ata da reunião de política monetária de fevereiro, divulgada na última quarta-feira (5), os dirigentes do Fed consideraram que pode ser necessário um aumento de juros antes e mais intenso diante das ameaças inflacionárias. Alguns membros ainda avaliaram que pode ser apropriada a redução do balanço patrimonial logo após a alta da taxa de juros, sinalizando um enxugamento de liquidez ainda maior, o que teve forte impacto nos mercados. Para emergentes em geral, o sinal é de menor apetite.

“Esse passo que o Fed está dando não é que não influencia por aqui, mas debaixo de tantas questões locais, o que está acontecendo fora do Brasil afeta pouco. O País tem um balanço de pagamentos bem solucionado e a nossa taxa de câmbio já se desvalorizou muito por conta do fiscal, como a ruptura do teto de gastos”, diz o sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo.

O economista, porém, avalia que, com o tom mais duro do Fed, diminuem as chances de uma alta de juros aquém de 1,50 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em fevereiro, o que poderia ser possível com as surpresas de baixa recentes nos dados de inflação e atividade e a acomodação das expectativas mais longas. No último encontro, em dezembro, o BC indicou um novo aumento de 1,50 ponto, o que levaria a taxa Selic a 10,75% ao ano.

Na avaliação do economista-chefe da Genoa Capital, Igor Velecico, embora a sinalização do Fed vá na direção de mais aperto monetário internamente, o Brasil de certa forma já “se blindou”. “Se a gente tivesse com juros muito baixos, déficit grande em conta corrente ou exposição muito forte a investimentos estrangeiros, poderíamos sofrer mais. Mas o real já está depreciado, os juros já subiram bastante. Acho que isso ajuda a ser um amortecedor para o Fed mais hawkish”, diz Velecico.

O economista, que também avalia que as questões internas têm dimensão maior que as externas, espera que o ciclo de alta da Selic termine em 12,25%, com mais uma alta de 1,50 ponto porcentual em fevereiro, seguida de elevação de 1 ponto em março e 0,50 ponto em maio.

Da mesma forma, o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio Souza Leal, destaca que normalmente o aumento de juros nos EUA não é uma boa notícia para o BC brasileiro, pois coloca pressão no câmbio. Mas, desta vez, diz, a situação parece diferente. Souza Leal mantém sua projeção para o fim do ciclo da Selic em 11,50%.

“A primeira razão é que o BC está muito na frente do Fed no ciclo de aperto monetário, o que minimiza a pressão para que ele acompanhe o movimento. A segunda é que um pedaço relevante da inflação brasileira em 2021 foi importada. Portanto, o Fed combatendo a inflação por lá ajuda no trabalho por aqui também”, explica, citando a alta demanda por bens nos EUA, que afeta preços em todo mundo, e o aumento dos preços de petróleo.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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