Economia & Mercados
10/12/2021 11:21

Especial: Para garantir lugar na ceia de Natal, Seara faz linha com cortes adequados à inflação


Por Talita Nascimento

São Paulo, 10/12/2021 - As festas de fim de ano prometem ser um reencontro para muitas famílias que optaram por fazer comemorações menores em dezembro do ano passado. A expectativa da Associação Brasileira de Supermercado (Abras) é de que haja alta de 14% nas vendas de produtos natalinos neste mês, em comparação com o mesmo período de 2021. No entanto, o conteúdo da ceia deve ser afetado pela inflação. Para conseguir um convite para a mesa do consumidor, uma solução encontrada por parte da indústria é oferecer porções menores de proteínas.

A Seara, marca da JBS, investiu em lançamentos com pratos prontos menores e diferentes opções de carnes. Dentre as tendências que motivaram a linha mais compacta estão o fato de as famílias brasileiras estarem diminuindo, bem como as comemorações terem ficado menores em razão da pandemia. “Além disso, é um momento de proteínas mais caras”, afirma Rafael Palmer, Diretor de Marketing de Alimentos Preparados da Seara.

Em vez de reduzir o tamanho das aves, a empresa optou por vender cortes e incrementá-los com temperos e molhos. No caso do frango natalino da marca - fruto de cruzamentos para deixá-lo com peito e coxas maiores -, a Seara passou a oferecer uma embalagem apenas com o peito do animal recheado. Ele conta que as aves são o carro-chefe do feriado cristão, mas que, no Ano Novo, a crença ainda leva algumas pessoas a evitarem os animais que “ciscam para trás”. Assim, a marca oferece cortes suínos, que costumam fazer mais sucesso na virada do ano.

Para Evandro Alampi, responsável pela área de inteligência da GS Ciência do Consumo, os dados demográficos e de consumo vão ao encontro da tendência apontada pela fabricante. “As compras com menor quantidade de itens ganham mais espaço, tanto pela queda no poder de consumo das famílias, quanto na redução da demanda domiciliar”, afirma. Ele diz ainda que as mudanças demográficas são um ponto relevante.

“A diminuição do número de pessoas por domicílios, sobretudo nos últimos anos, vem se acelerando. Nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo isso já é bastante evidente. A expectativa é que o número chegue em 2022 a 2,6 pessoas por domicílio na capital carioca e 2,7 na capital paulista”, acrescenta.

Expectativa

A Seara espera superar o crescimento de vendas de 2020, que foi de 8% em volume e 23% em valor. A expectativa é baseada no desejo de reencontro da população que se privou de comemorações no ano passado. Do lado dos supermercados, as vendas de novembro e dezembro serão determinantes para que o segmento atinja ou não a meta de crescimento do ano. Até outubro, o setor avançou 3,14% em volume de vendas no acumulado do ano. A projeção oficial, porém, aponta avanço de 4,5% até o fim de 2021.

O vice-presidente institucional da Abras, por sua vez, afirmou em coletiva de imprensa na última quinta-feira que essa expectativa pode ser revista para 3,5%, já que em 2020 - mesmo com as restrições impostas ao comércio -, as lojas apresentaram crescimentos expressivos e difíceis de reproduzir nos últimos dois meses do ano. A estimativa oficial, no entanto, ainda é mantida justamente pela crença de que as comemorações familiares sejam retomadas, além de questões estruturais como as novas lojas que foram abertas de um ano para o outro e o alívio das restrições ligadas à pandemia.

Para Alampi, da GS, o volume de vendas natalinas nos supermercados deve, sim, ser melhor que no ano passado, mas a qualidade ou peso dos produtos deve mudar. “O consumidor vai diminuir a qualidade do produto, mas vai comprar”, afirma. Nos últimos meses ele observa uma estabilidade no faturamento das empresas do setor. Ou seja, para gastar o mesmo montante, o cliente tem feito substituição de marcas ou reduzido quantidades por causa da inflação.

Para o próximo ano, a Seara se prepara com reforço de proteínas mais baratas. Isso porque a expectativa é que o consumidor seja levado a substituir carnes mais nobres por produtos mais em conta, como embutidos. Palmer, da Seara, afirma que o público da marca ainda não fez esse movimento conhecido como ‘downgrade’ em massa, mas que a empresa se prepara para esse tipo de mudança no próximo semestre. Questionado a respeito do impacto de lucratividade que esse tipo de alteração pode trazer para a companhia, ele diz que, em cortes menos nobres ou embutidos, a empresa consegue fazer produtos de maior valor agregado, o que garante "margens interessantes".

Contato: talita.ferrari@estadao.com
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