Economia & Mercados
22/07/2020 15:18

Grandes escritórios da XP não pensam em virar corretoras, mas pedem mudanças regulatórias


Por José Ayan Júnior

São Paulo, 21/07/2020 - Dois dos maiores escritórios de agentes autônomos da XP Investimentos não têm a intenção, pelo menos por enquanto, de seguir os passos da EQI, player com R$ 9 bilhões sob custódia que anunciou que irá virar uma corretora, além de deixar a XP rumo ao BTG Pactual.

Em consulta feita pelo Broadcast, Monte Bravo e Messem Investimentos, que hoje totalizam juntos mais de R$ 20 bilhões sob custódia, se dizem mais preocupados com a modernização da instrução 497 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que o modelo de agentes autônomos continue sendo viável para grandes escritórios. Um dos principais pleitos é que seja permitido que escritórios tenham sócios investidores das mais variadas áreas. Hoje, a atual regulação permite que todos os sócios de um escritório sejam obrigatoriamente agentes autônomos.

Segundo Filipe Portella, sócio-fundador da Monte Bravo, atualmente com R$ 11 bilhões sob custódia, a EQI só vai se transformar em um modelo de corretora porque o agente autônomo tem uma limitação muito grande, principalmente por questões regulatórias. "A estrutura do agente autônomo tem uma regulamentação muito antiga. E essa regulamentação precisa ser revista urgentemente", diz Portella, afirmando que contrapartidas como regras mais rígidas de compliance e maiores exigências por parte dos reguladores são bem-vindos, desde que haja mais liberdade ao modelo de agentes autônomos.

O fundador da Monte Bravo diz que, pelo tamanho que alguns escritórios atingiram, faz total sentido ter um sócio investidor que permita que essas empresas continuem crescendo com o objetivo de entregar serviços ainda melhores para o cliente final. "Nunca tivemos a ambição de ser uma corretora, mas se isso (mudança de regulamentação) não acontecer e travar a empresa, aí poderemos olhar para outras possibilidades", afirma Portella, acrescentando que está satisfeito com a XP Investimentos, mas conta com a corretora para que ela se envolva nas mudanças de regulamentação para o setor, dada sua influência.

Mauro Silveira, sócio-fundador da Messem Investimentos, com R$ 9,5 bilhões sob custódia, também diz que não pensa em se tornar uma corretora neste momento. Contudo, também não descarta a possibilidade para o futuro. "É uma alternativa, mas de imediato não pensamos nisso, já que estamos contentes onde estamos", diz Silveira. Segundo ele, o modelo de agentes autônomos ainda é interessante e o foco do escritório é crescer ainda mais. A cada mês, a Messem capta, em média, mais de R$ 500 milhões por mês.

Silveira aposta em um processo de desenvolvimento muito grande nos próximos anos diante do superaquecimento do mercado de assessores independentes, fato que irá profissionalizar ainda mais os escritórios e abrir espaço para novos formatos. "Essa concorrência é sadia para o mercado. Outros players, não só de Brasil, mas também do mundo, devem passar a olhar para o mercado brasileiro de investimentos, que ainda tem muito espaço para crescer", diz o fundador da Messem.

Para Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira de Agentes Autônomos de Investimento (ABAAI), a compra da EQI pelo BTG foi o segundo grande avanço para chancelar o modelo de agentes autônomos no Brasil. O primeiro, segundo ele, foi a compra de parte da XP pelo Itaú Unibanco. "O BTG mudou o paradigma. Ele não só chancelou o modelo, como criou uma alternativa para o agente autônomo se desenvolver cada vez mais", opina Ramiro. No entanto, ele aponta que os riscos de uma corretora são bem maiores do que de um escritório de agentes autônomos. "O escritório deixa de ser um distribuidor para ter mais obrigações regulatórias e financeiras."

De acordo com Ramiro, há uma expectativa de que a CVM paute as mudanças da instrução 497 em meados de outubro. "Só precisamos que o regulador entenda como evoluímos rápido e modernize as nossas regras", diz Ramiro, explicando que o grande medo da CVM é que uma outra pessoa que não seja agente autônomo faça uma atividade-fim dos AAIs. Contudo, ele afirma que o avanço do compliance fez essa preocupação se tornar obsoleta. "Não é só o dinheiro em si, mas a possibilidade de se associar com outras pessoas que vão trazer qualidade em outros serviços melhores do que assessores de investimentos."

Alfredo Sequeira Filho, fundador e conselheiro da Associação dos Assessores de Investimentos Livres, que conta com mais de 1,2 mil membros, também é a favor da flexibilização da regulação da CVM que não permite sócios que não sejam agentes autônomos. "É como se fosse proibido uma pessoa ser dona de hospital se ela não fosse médica", diz Sequeira, que também defende a redução de taxas regulatórias para a categoria e o fim da exclusividade dos assessores. Ao comentar sobre a movimentação da EQI no mercado, o fundador da Ais Livres diz que a disputa por market share tanto de escritórios quanto de corretoras se dá com os principais bancos do País. "Estamos lutando por um naco de 3%, os outros 97% estão nos bancos. É lá que temos que brigar."

Contato: jose.ayan@estadao.com
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