Economia & Mercados
21/06/2021 14:33

Especial: China avança em intervenção no mercado de metais industriais, após preços dispararem


Por Matheus Andrade

São Paulo, 17/06/2021 - A alta recente dos metais básicos chamou a atenção pelo mundo, com preços chegando ao maior nível desde 2012. Entre os industriais, o cobre foi um dos destaques, com um valor significativamente acima do que antes da pandemia. Na China, maior consumidora global destas commodities, o rali levou o governo a se mobilizar, uma vez que passou a ser visto como uma ameaça, na medida em que índices como os preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) apresentaram avanços que se aproximam dos 10%, na comparação anual. Nos últimos dias, os movimentos tiveram efeito, e, além do cobre, alumínio e zinco apresentaram quedas após ação da potência asiática.

"A China já está ativa no mercado", afirma ao Broadcast Daniel Briesemann, especialista de metais industriais do Commerzbank. A liberação dos estoques de cobre, alumínio e zinco anunciada na última quarta-feira, 16, oficialmente pelo governo local faz parte da estratégia, e teve forte impacto nos preços. Além disso, "as margens de negociação aumentaram, os bancos comerciais não têm permissão para vender novos produtos de investimento em commodities para clientes de varejo, e as empresas estatais têm de limitar sua exposição em mercados no exterior" descreve Briesemann sobre uma estratégia mais abrangente, que segue "assim por diante".

Na última quarta-feira, o órgão estatal de estocagem, a Administração Nacional de Alimentos e Reservas Estratégicas da China, disse que planeja liberar lotes de cobre, alumínio, zinco e outras reservas nacionais no futuro próximo, a fim de garantir o fornecimento e a estabilidade dos preços de commodities a granel. As reservas serão liberadas para empresas de processamento e manufatura de metais não ferrosos por meio de um processo de licitação pública, segundo a agência governamental.

No dia seguinte, o país anunciou que irá emitir novas regras para a gestão de índices de preços de commodities e serviços. As medidas, que entram em vigor em agosto, vão padronizar a forma como os indicadores de preços são compilados e aperfeiçoar a transparência em torno da divulgação de informações, segundo a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC, na sigla em inglês) do país. Somado ao avanço do dólar que seguiu os indicativos de retirada de estímulos por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o cobre encerrou a semana dos movimentos com o maior recuo desde o começo da pandemia, com queda superior a 8% em Londres e Nova York.

Segundo Briesemann, o temor é de "que a recuperação econômica possa ser prejudicada pela pressão inflacionária gerada pela alta nos preços das commodities". Em maio, o PPI do país subiu 9,0% na comparação anual, uma significativa aceleração frente a variação de abril(6,8%). O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) também ganhou fôlego, ao subir 1,3% na comparação anual. "As commodities estão firmemente" à frente do movimento, descreveu a Pantheon Macroeconomics após a publicação, notando também que "as autoridades estão cada vez mais incomodadas com a marcha de alta dos preços".

O PPI deve ser um indicador que Pequim está analisando, assim como o CPI, avalia Briesemann. Ele destaca ainda que as autoridades governamentais "provavelmente também acompanharão de perto como os lucros da empresa se desenvolverão, e o financiamento agregado (novos empréstimos) será outro aspecto".

Ação do Banco Central

O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) também agiu no mercado levando em consideração as altas dos preços, apertando sua política monetária. A taxa de crescimento do financiamento agregado no país está agora de volta aos níveis pré-pandemia, indica Briesemann. "Tanto o PBoC quanto o governo chinês estão preocupados com as bolhas nos preços dos ativos e nas bolhas da dívida", avalia o analista.

No entanto, há a percepção de que os métodos adotados até agora podem não ser suficientes. "Estimamos que o PBoC eventualmente voltará ao aperto, com as medidas aplicadas até agora se mostrando ineficazes", projeta a Pantheon. A consultoria lembra que pode parecer "estranho" um banco central agindo para controlar os preços dos metais, mas lembra que "a China não é uma economia padrão. É a linha de frente mundial para compras de commodities". Desta forma, "uma porção significativa da demanda de outros lugares simplesmente é canalizada" para o país, destaca a Pantheon.

Quatro razões para o FMI

A forte alta no preço dos metais, acima de outros ativos, incluindo commodities, chamou a atenção do Fundo Monetário Internacional (FMI). O organismo multilateral publicou um relatório sobre o tema, com foco nos metais básicos. Quatro fatores foram apresentados pelo artigo assinado pelos economistas Martin Stuermer e Nico Valckx para a elevação: uma retomada baseada na atividade industrial; dificuldades na oferta com diversas disrupções na mineração causadas pela covid-19; expectativa por aumento nos gastos com infraestrutura e transição verde; e a facilidade de fazer estoques de metais, mais simples do que outros materiais.

A China é peça central em alguns pontos do relatório. Na retomada das atividades industriais antes dos serviços, o estudo apontou que o movimento ocorreu "mais rápido especialmente" na potência asiática. Ouvindo participantes do mercado, o relatório aponta que há a estimativa de um pico para os preços dos metais em 2021, com uma alta de cerca de 50% no ano, mas que os valores devem cair em 2022, com um recuo estimado de 4%. Com a recuperação global ante a pandemia, dois dos fatores, a retomada focada em atividades industriais e as disrupções nas cadeias de produção causadas pelo vírus, tendem a ser amenizadas, na avaliação do FMI.

Na altura do estudo, os preços dos metais haviam aumentado 72% em relação aos níveis pré-pandêmicos, atingindo uma máxima em nove anos em maio, já ajustada pela inflação. O aumento foi generalizado nos metais industriais - o cobre subiu 89% em maio na comparação anual, o minério de ferro avançou 116% e o níquel, 41%, de acordo com o FMI.

Contato: matheusg.andrade@estadao.com
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