Economia & Mercados
27/04/2022 09:00

Especial: Agências de rating descartam risco a reformas, mas cobram fiscal de nova gestão


Por Bárbara Nascimento e Aline Bronzati

São Paulo, 26/04/2022 - A despeito de os planos econômicos dos principais candidatos à Presidência da República não terem sido apresentados ainda, as agências de rating veem como baixa a possibilidade de um retrocesso nas conquistas obtidas até agora, em termos de reformas estruturais no Brasil. O Broadcast procurou as três principais classificadoras de risco, que sinalizam na mesma direção: confiam que um Congresso Nacional mais moderado será suficiente para barrar eventual ímpeto, no próximo mandato, por alteração nas reformas feitas. Mas cobram do futuro presidente maior rigor fiscal e um plano para o País engrenar em um crescimento mais vigoroso e sustentável.

Para isso, alertam, o futuro chefe do Planalto terá de apostar em "muita moderação e pragmatismo", de forma a conquistar consenso no Parlamento para prosseguir com uma agenda necessária de reformas. A Moody's deixou clara sua visão na última análise do rating brasileiro, há cerca de duas semanas, quando reafirmou a nota Ba2 do Brasil baseada, entre outros fatores, na manutenção dos ganhos com reformas estruturais feitas nos últimos anos. A agência foi a última a concluir uma missão sobre a situação do País, no início do mês. Antes, Fitch Ratings e S&P já haviam, no fim do ano passado, reafirmado o rating do Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast, a vice-presidente da Moody's, Samar Maziad, disse que, com a atual composição do Congresso Nacional, será difícil mudar o que já foi aprovado. "Mudar a estrutura fiscal é muito difícil e requer muita vontade do Congresso, [requer] que os partidos centrais que dominam o Congresso queiram uma grande mudança nas reformas que eles mesmo aprovaram no passado", afirmou.

Para o analista principal para o rating soberano brasileiro da S&P, Manuel Orozco, qualquer candidato que vença as eleições presidenciais no País terá o trabalho de construir consenso no Legislativo com uma "abordagem realista e pragmática". Se por um lado, isso dificulta que novas reformas andem, por outro, explicou, torna mais complicado reverter ganhos já obtidos nos últimos anos.

"O que quer que queiram passar [de reformas], terão que moderar, assegurar o suporte dos partidos de centro. Em algum senso, é muito difícil passar reformas estruturais, mas por outro lado, essa dificuldade também irá prevenir que se tenha danos estruturais", ponderou Orozco, em entrevista ao Broadcast.

Futuro. À frente, contudo, o horizonte é mais enevoado para o Brasil - e, consequentemente, o seu futuro presidente. Todas as agências admitem que muito foi feito nos últimos anos em termos de reformas fiscais, mas o País precisa garantir ao investidor que merece credibilidade. Os analistas apontam que o próximo governo terá, sobretudo, que olhar com atenção para o patamar da dívida pública mas, sobretudo, assegurar formas de reencontrar um ritmo de crescimento. Para Maziad, da Moody's, inclusive, a atividade fraca é hoje o principal risco ao perfil de crédito do Brasil.

Apesar de, nas últimas semanas, grandes bancos e casas de research terem começado a rever para cima suas projeções de Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, as agências de rating ainda não viram motivos para mexer em suas expectativas. Na verdade, o último movimento de todas elas foi uma revisão para baixo. A S&P mudou sua projeção, no fim de março, de alta de 0,8% para 0,4%. Antes, a Moody's revisou sua expectativa, para uma leve expansão de 0,1% contra alta de 0,6%. Já a Fitch estima crescimento de 0,7%.

Na visão da diretora e chefe de ratings soberanos da Ásia e Américas da Fitch Ratings, Shelly Shetty, o resultado das eleições de outubro no Brasil pode "ter um papel no progresso que poderá ser atingido nas reformas nos próximos anos". Ela afirmou que a agência olhará com atenção para a composição da equipe econômica e o trato com o Legislativo do próximo mandato.

"Para o cenário de reformas, nós teremos que esperar para ver quem ganha as próximas eleições, a orientação política do próximo presidente, a composição do Congresso e sua relação com o Executivo e a força do novo time econômico", disse Shetty, ao Broadcast.

A S&P, por sua vez, segue apostando no Congresso mais reformista para assegurar ajustes futuros, mas lembra que o próximo governo terá que ter muito pragmatismo para negociar um consenso. "Há um senso no Congresso e no governo de que algumas reformas são necessárias. E isso é evidente pelas propostas de reformas. Há um senso de que algo tem que mudar para promover crescimento e estabilidade fiscal. Vai depender de pragmatismo e moderação para ter suporte de outras forças no Congresso", concluiu Orozco.

Contatos: barbara.nascimento@estadao.com e aline.bronzati@estadao.com
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