Economia & Mercados
20/07/2020 17:00

Especial: negócios com minicontratos de dólar disparam e chamam a atenção do mercado e do BC


Por Altamiro Silva Junior

São Paulo, 20/07/2020 - Os negócios com minicontratos de dólar futuro na B3 dispararam este ano e têm atraído cada vez mais grandes investidores. Em junho, os contratos negociados neste segmento, chamados tecnicamente de WDO, somaram 78 milhões, movimentando US$ 784 bilhões, mais de três vezes acima do mesmo mês de 2019, que ficou em 24 milhões (ou cerca de US$ 240 bilhões), de acordo com dados da B3. O número de negócios mensal saltou de 6 milhões há um ano para 30 milhões no mês passado e, em alguns dias, as negociações têm batido recorde, superando com folga o volume de negociação no mercado futuro tradicional.

Um dos motivos para a liquidez do mini estar superando a do tradicional é a possibilidade de arbitragem mais fácil entre os mais variados ativos, disse um trader. As fontes observam ainda que o crescimento dos minicontratos é uma tendência internacional, por causa do custo menor e da maior acessibilidade. O maior exemplo é em Wall Street, onde os volumes de negócios com o mini do S&P500 tiveram forte aumento.

Entre janeiro e junho deste ano, foram negociados 275 milhões de minicontratos de dólar, ante 165 milhões do mesmo período em 2019. O forte crescimento desses negócios chamou a atenção de agentes do mercado e do Banco Central e pode ser uma das explicações para a forte volatilidade do real nas últimas semanas, de acordo com diretores de tesourarias, operadores e profissionais das mesas de câmbio ouvidos pelo Broadcast.

A moeda brasileira tem sido a mais volátil do mundo em 2020, considerando uma cesta de 15 divisas mais líquidas, incluindo as fortes. Na semana passada, a volatilidade implícita do real foi de 19%, seguida pelo rand da África do Sul (14%) e pelo coroa norueguesa (12%). Quanto mais alto este número, mais oscilações a moeda está registrando.

O minicontrato de dólar futuro representa 20% de um contrato cheio, ou seja, custa US$ 10 mil, na comparação com US$ 50 mil do tradicional. Por isso, é mais acessível aos investidores menores. Mas profissionais das mesas de operação relatam que pessoas físicas têm respondido por 20% a 25% dos volumes, enquanto os investidores maiores respondem pelo resto - estrangeiros na casa dos 50% e institucional entre 25% e 30%. Assim, em alguns dias, o volume financeiro de operações do mini chega a ser mais de quatro vezes maior do que o dólar futuro padrão.

Um chefe da mesa de câmbio de uma corretora observa que até há pouco tempo, o minicontrato oscilava mais lentamente, sempre respondendo aos movimentos do contrato padrão. Agora, está oscilando mais rapidamente e chega a puxar os movimentos do dólar futuro.

"Estão manipulando o mercado de câmbio por meio dos minicontratos", disse um gestor, destacando que os volumes de negócios no contrato normal de dólar futuro tem ficado abaixo da média, com alguns dias ficando na casa dos US$ 12 bilhões, ante US$ 20 bilhões em sessões com bom giro antes da pandemia. Já a medida diária dos mini em junho foi de US$ 35 bilhões, ante US$ 11 bilhões no mesmo mês de 2019.

Já um diretor de tesouraria ressalta que os dois contratos são iguais, exceto pelo tamanho, então, a utilização serve para os mesmos objetivos, ou seja, é possível especular com o mini da mesma forma que se faz com o outro. Este executivo observa que o crescimento dos volumes do mini pode ser um indício de que o mercado institucional está migrando para estes contratos, mas ele ressalta que ainda não é possível dizer que isso ocorreu de forma relevante.

Banco Central

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu em evento do Itaú Unibanco pela internet na semana passada que a volatilidade no mercado de câmbio brasileiro "de fato aumentou" e afirmou que o BC está estudando as razões deste aumento, mas ainda sem resposta.

A primeira "causa suspeita" que chegou ao BC, contou Campos Neto, foi justamente o aumento do volume de negócios em contratos menores. Mas as evidências internacionais sugerem que quando se aumenta o número de negócios em minicontratos, a volatilidade tende a cair e não a subir. "O histórico mundial, de forma geral, até do S&P500, é que quando se aumenta o número de contratos mini, ou participação maior do varejo nos negócios, a volatilidade tende a cair."

Campos Neto ressaltou que há "alguma evidência" de que a pulverização dos negócios gera volatilidade menor, mas não há evidências do lado contrário. "Quando você faz o gráfico do Brasil e coloca o aumento de número de contratos e a volatilidade, uma coisa parece seguir a outra."

O presidente do BC citou outros fatores que podem estar contribuindo para o forte aumento da volatilidade, como a maior presença de operações feitas por robôs, maior procura por operações com real por fundos e o uso da moeda brasileira por operações de hedge pelo fatos de os juros estarem em níveis historicamente baixos. Mas até agora nada explica de forma convincente o aumento da volatilidade, disse ele. "Vamos observar, ver o que está acontecendo. É uma fonte de preocupação", disse Campos Neto.

Contato: altamiro.junior@estadao.com
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