Economia & Mercados
08/10/2021 09:56

Especial: Mundo é apresentado a carnês e startup passa a oferecê-los a turistas brasileiros


Por Talita Nascimento

São Paulo, 06/10/2021 - A mais nova febre do comércio eletrônico mundial é resumida em uma sigla: BNPL ou "compre agora e pague depois", do inglês. Em 2020, esse tipo de pagamento somou quase US$ 100 bilhões, ou 2,1% do e-commerce global. A estimativa é que chegará 4,2% até 2024, segundo a pesquisa The Global Payments Report 2021, da Worldpay from FIS. Detalhe: o BNPL é um velho conhecido dos brasileiros, o famoso crediário. Que tem versões há décadas no País como compras parceladas, carnês, cadernetas e outras formas de fazer a prestação caber no bolso de quem tem salário curto.

Para não perder a tendência, uma fintech inverteu o conceito e criou uma solução para brasileiros viajantes. Assim, a PowerCredit criou um crediário para compras no exterior. Por enquanto, a opção é limitada, mas atende inicialmente a um público-alvo que gasta bastante: os sacoleiros e os turistas que vão ao Paraguai para fazer compras.

A companhia tem parceria com o Guarani Card, aceito em 70% das lojas âncora das três cidades paraguaias que fazem fronteira com o Brasil: Ciudad Del Este, Salto del Guairá e Pedro Juan Caballero. Não há estimativas oficiais sobre o número de brasileiros que voltam com sacolas cheias do Paraguai, mas de acordo com o Grupo Cataratas, o Parque Nacional do Iguaçu recebeu 2 milhões de turistas brasileiros, em 2019.

No ar há cerca de um ano, a PowerCredit ainda está em fase inicial e tem 25 mil clientes cadastrados no aplicativo, desenvolvido pela Mobile2you. Com a retomada da economia e o avanço no combate à pandemia, a expectativa da empresa é que, no próximo ano, o app bata a marca de 100 mil usuários.

Depois do Paraguai, o CEO e cofundador da startup, Gonzalo Paez, diz que está em negociação com redes de varejo da Flórida (nos EUA) e da Argentina, para a adoção do sistema.

Por meio do aplicativo, o cliente pede o crédito para gastar na viagem. Com o valor pré-aprovado, pode fazer compras em redes que aceitem a PowerCredit como meio de pagamento, via QR Code. A taxa de câmbio é definida no momento de cada compra. No fim da viagem, o aplicativo fecha a conta e parcela o total.

O limite máximo de crédito oferecido pelo aplicativo é de US$ 3 mil, mas vale lembrar que, para ter isenção do imposto, há o limite de gastos de US$ 500 mensais por pessoa em compras do outro lado da fronteira. Toda compra acima desse valor precisa ser registrada na Aduana da Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, quando o viajante entra no Brasil.

A base de dados utilizada permite a liberação do crédito em minutos, com mecanismos de segurança que envolvem reconhecimento facial. O crédito e o câmbio vêm de instituições parceiras como a Ourinvest e o Banco Digio.

Uma das vantagens para o consumidor é que ele paga as taxas de um financiamento pessoal comum, sem as tarifas de IOF de um cartão de viagem ou do cartão de crédito. Paez afirma que a taxa de inadimplência da carteira é cerca de metade do observado em financeiras do mercado, mas não abre o dado exato.

"Esse método de pagamento (o BNPL), que oferece o parcelamento das compras, já é bastante difundido no Brasil e em países da América Latina, e surgiu como uma forma de aquecer o mercado e aumentar o poder de compra da população, que passou por instabilidades econômicas em seus países", diz Juan Pablo D’Antiochia, vice-presidente sênior da Worldpay from FIS para a América Latina. "O que vemos agora é o amadurecimento do modelo, que deverá abocanhar uma fatia de consumidores sem acesso ao crédito formal."

O aplicativo faz parte da unidade de negócios da Mobile2you chamada de Fintech as a Plataform (ou fintech como plataforma), especializada em soluções para produtos financeiros como aplicativos para cartão de crédito, bancos digitais, plataformas de investimentos e fintechs de maneira geral.

O CEO da Mobile2you, Caio Bretones, diz que essa tecnologia tem potencial, por exemplo, para ser aplicada a sites de compra no exterior, conhecidos como comércio cross border, no qual varejistas como a Americanas SA têm se aventurado.

Contato: talita.ferrari@estadao.com
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