Economia & Mercados
11/11/2022 17:40

Especial: empresas nos EUA queimam caixa e mercado prevê queda de lucros com economia fraca


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 11/11/2022 - As empresas de capital aberto nos Estados Unidos estão sentindo na pele o impacto da subida dos juros para controlar a galopante inflação no país e a desaceleração econômica que veio a reboque. Além de queimarem caixa em um cenário complexo para repor esse dinheiro com investidores ressabiados pelas incertezas globais, a última temporada de balanços decepcionou e levou o mercado a fazer uma nova tesourada em suas projeções, passando a prever queda nos lucros do quarto trimestre. A saída foi partir para uma rodada de cortes de gastos, incluindo demissões, que têm atingido das gigantes de tecnologia aos bancos de Wall Street.

Enquanto setores como o de saúde e energia trouxeram boas notícias em termos de ganhos, empresas de consumo, big techs e grandes bancos norte-americanos deixaram a desejar no terceiro trimestre. O resultado dessa equação foi o menor crescimento de ganhos do S&P 500, que reúne os maiores grupos de capital aberto nos EUA, dos últimos dois anos.

O lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) das empresas que já divulgaram balanços nos EUA ficou 1,8% acima das estimativas no terceiro trimestre, inferior à média vista nos últimos 5 anos, de 8,7%, conforme a empresa de análise financeira FacSet. Dentre as decepções do trimestre, estão as big techs, com resultados aquém do esperado e suas ações penalizadas no mercado. Na outra ponta, as petroleiras apresentaram novos resultados recordes, chegando a ultrapassar a casa dos US$ 30 bilhões, considerando os números de ExxonMobil e Chevron. “O fato é que estamos nesta posição devido ao trabalho árduo e ao comprometimento de nosso pessoal nos últimos anos”, justificou o CEO da ExxonMobil, Darren Woods, em teleconferência com investidores, no fim de outubro.

Os números levantaram críticas por parte do presidente dos EUA, Joe Biden, que prometeu trabalhar com o Congresso sobre o tema, alegando que os resultados não foram “apenas por trabalho duro”. No entanto, o resultado das eleições de meio de mandato, com uma divisão no controle do Capitólio, deve dificultar a agenda do democrata à frente, na visão de analistas de Wall Street.

Demissões

Depois do trimestre frustrante, as gigantes da tecnologia saíram em um movimento de corte de custos. Essa semana, a Meta, dona do Facebook, revelou o corte de cerca de 11 mil funcionários em todo o mundo, o que deve respingar no Brasil. Mas os anúncios extrapolaram as big techs. O Walmart, por exemplo, anunciou que vai contratar bem menos para a temporada de compras nos EUA do que em 2021. Serão 40 mil pessoas ante 150 mil.

No setor financeiro, o esperado movimento de corte de pessoal começa a dar as caras. Essa semana, o Citi teria cortado 50 pessoas, de acordo com a imprensa norte-americana. Além dele, o britânico Barclays também teria enxugado cerca de 200 posições. As demissões ocorrem a reboque de um trimestre marcado pelo aumento de provisões por parte dos grandes bancos dos EUA, antevendo uma piora nas condições da economia norte-americana, sob o risco de uma recessão à frente.

Depois de afirmar que os mercados de capitais vão permanecer "cautelosos" ou "turbulentos" em 2023, o CEO do Goldman Sachs, David Solomon, espera a reabertura do mercado no próximo ano. “Nos próximos meses, veremos um pouco de reabertura nos mercados de capitais quando as pessoas se acostumarem com esse ajuste de avaliação”, afirmou o banqueiro, à norte-americana CNBC.

Em meio a este ambiente, um dos pontos de atenção do mercado na temporada de resultados do terceiro trimestre foi justamente o nível de dinheiro em caixa das empresas norte-americanas. Nos últimos meses, esse patamar tem se reduzido em meio à galopante inflação e o ambiente mais frágil da economia norte-americana, o que acende o sinal de alerta quanto ao fôlego do setor corporativo para honrar suas obrigações.

Os saldos de caixa das empresas listadas no S&P 500 encolheram para US$ 1,9 trilhão ao fim de junho contra US$ 2,4 trilhões um ano antes, de acordo com dados recém divulgados pela Fitch Ratings. “Uma repetição do forte aumento no caixa corporativo durante 2020 é improvável em 2023, apesar de uma recessão iminente que pode levar as empresas a adotar estratégias de alocação de capital mais conservadoras”, diz a agência, em relatório.

Marcados pela fragilidade do ambiente macroeconômico nos EUA, os balanços do terceiro trimestre levaram a uma revisão nas projeções de Wall Street para os resultados do quarto trimestre. O mercado espera agora uma queda nos lucros à frente, que se concretizada será a primeira em dois anos. “Uma decepcionante temporada de resultados do terceiro trimestre desencadeou uma onda de revisões para baixo das previsões dos lucros”, diz o diretor global de estratégia de ações da Oxford Economics, Daniel Grosvenor.

Quanto a 2023, não á consenso em Wall Street quanto as projeções dos lucros do setor corporativo, com parte vendo novos cortes à frente e outros prevendo a retomada do crescimento já no primeiro trimestre. "Os analistas também projetam que o índice (S&P 500) relatará crescimento dos lucros ano a ano em todos os quatro trimestres de 2023", diz o vice-presidente e analista sênior da FacSet, John Butters.

Como pano de fundo, as empresas nos EUA estão diante de uma visível desaceleração econômica e dos efeitos da subida de juros para controlar a teimosa inflação nos EUA, que contém a demanda por parte dos consumidores. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do país em outubro trouxe a esperança de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não seja tão agressivo nos aumentos de juros a partir de dezembro.

Apesar disso, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, já alertou que o patamar final das taxas pode ser maior que o previsto e que permanecerão em um patamar restritivo por mais tempo. Como consequência, é cada vez maior a preocupação de a maior economia do mundo entrar em recessão nos próximos 12 meses. "Achamos que a expansão dos EUA está caminhando para um pouso forçado", diz o suíço UBS, em relatório sobre sua visão para a economia dos EUA entre os anos de 2023 e 2024.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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