Economia & Mercados
27/07/2021 07:47

Ex-capital do petróleo, Macaé aposta, agora, na geração de energia com gás do pré-sal



Projeto prevê instalar 11 usinas, com investimentos de R$ 20 bilhões / Foto: Marlin Azul

Por Fernanda Nunes

Rio, 26/07/2021 - Reconhecida como capital brasileira do petróleo até a primeira metade dos anos 2000, a cidade de Macaé, no norte fluminense, perdeu o título e o poder econômico nos últimos cinco anos, à medida que o dinheiro migrava para municípios mais próximos do pré-sal. Na tentativa de retomar a grandiosidade do passado, prefeitura e empresários locais fazem, agora, nova aposta. Eles querem construir na cidade o maior parque de geração de eletricidade em usinas térmicas do País, utilizando o gás natural extraído do pré-sal como matéria-prima.

O plano é instalar 11 usinas, com capacidade total de 14 gigawatt (GW), equivalente a uma hidrelétrica de Itaipu - um investimento de cerca de R$ 20 bilhões, em até uma década. Essa quantidade de dinheiro seria a mesma reservada por empresas petrolíferas para explorar e produzir petróleo no litoral norte fluminense, no mesmo período, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Vianna.

A Petrobras chegou a investir sozinha o que o conjunto de petrolíferas deve investir em uma década. Em 2013, foram US$ 9 bilhões. Nos próximos cinco anos, o desembolso previsto é de US$ 2,6 bilhões ao ano, em média, nos próximos cinco anos.

Se os planos derem certo, portanto, a atividade de geração de energia vai ocupar uma parte significativa da indústria do petróleo na economia local. Num primeiro momento, Macaé dependia quase que exclusivamente dos royalties e movimentações econômicas atreladas à operação da Petrobras. Com o deslocamento da estatal para a Bacia de Santos, nas regiões metropolitanas dos Estados do Rio e São Paulo, petrolíferas de menor porte assumiram uma parcela dos investimentos da estatal. Além disso, a queda abrupta da cotação de petróleo contribuiu para que a arrecadação do município despencasse.

A decadência trouxe a lição é de que é preciso é diversificar as fontes de geração de emprego e renda. "A gente entende esses projetos de geração térmica como uma redenção para uma cidade, que sempre se doou à indústria de petróleo e gás natural", afirmou Vianna. Ainda não há previsão, no entanto, de quando serão repostos os mais de 60 mil empregos perdidos na crise. A expectativa da prefeitura é que, com os novos investimentos, isso aconteça em menos de dez anos.

Para o professor do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, o projeto de Macaé é ambicioso. "A gente tem de lembrar que, na privatização da Eletrobras, foi aprovada a construção de 8 GW de usinas termelétricas espalhadas por várias cidades das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Essa é uma intenção da prefeitura, que pretende atrair investidores. Mas a decisão vem do planejamento (energético) do governo e vai depender do crescimento da economia", afirmou.

A primeira térmica a sair do papel, em janeiro de 2023, será a Marlim Azul, projeto de R$ 2,5 bilhões, operado pelo banco Pátria Investimentos, em sociedade com a Shell e a Mitsubishi Hitachi Power Systems Americas (MHPS). Outras nove foram licenciadas, mas ainda não tiveram a energia contratada em leilão. Por isso, há grande expectativa em relação aos leilões de energia programados pelo governo federal para este e próximo ano. O sucesso de Macaé na área de energia depende do resultado dessas concorrências.

Realizado em junho, o último leilão frustrou o mercado. Somente a Petrobras saiu vitoriosa e, mesmo assim, com a venda de um pequeno volume de energia. Com o consumo em queda, devido à pandemia, as distribuidoras estão com mais eletricidade contratada do que precisariam e não devem voltar a comprar tão cedo. É possível que isso aconteça apenas no ano que vem. A crise hídrica, no entanto, pode ajudar a viabilizar o investimento em usinas térmicas, substitutas naturais das hidrelétricas, cujos reservatórios foram castigados pela maior estiagem dos últimos 111 anos.

"Nossa capacidade de geração está pronta. Estamos esperançosos de que, pelo menos, mais três projetos desse parque térmico emplaquem ainda neste ano. Com a crise hídrica, entendemos que o Brasil vai aumentar o seu apetite", disse Vianna. Segundo ele, Macaé está pronta para atender toda demanda por energia.

"A expansão de instalações de plantas termelétrica tem sido alvo de grande interesse por toda cadeia produtiva em torno do gás, para permitir maior rendimento na transformação do gás em energia elétrica", avalia Mauro Destri, diretor da área de Óleo e Gás da Alvarez & Marsal. Para ele, a tendência é que aumente a concorrência nesse mercado.

Contato: fernanda.nunes@estadao.com
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