Economia & Mercados
26/02/2021 13:22

Vale/Bartolomeo: Não vemos possibilidade de intervenção governamental na Vale


Por Mariana Durão

Rio, 26/02/2021 - A interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras tem despertado a desconfiança do investidor estrangeiro. Na teleconferência da Vale com analistas estrangeiros nesta sexta-feira, a analista do Bank of America Merrill Lynch, Timna Tanners, questionou a administração da companhia sobre as chances de a mineradora sofrer ingerência política.

"Não vemos a possibilidade de intervenção do governo na Vale. Como uma empresa de capital pulverizado, somos guiados por nossos acionistas. Essa não é uma questão para a companhia", disse o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.

O principal executivo da mineradora destacou o encerramento em novembro do acordo de acionistas da companhia, que caminha para se consolidar como uma corporation (empresa de capital pulverizado). Para Bartolomeo, essa independência deverá ficar ainda mais consolidada com o aumento do número de membros independentes no conselho de administração da Vale, a ser deliberado na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) marcada para 12 de março. A proposta é elevar o total de conselheiros independentes de três para sete.

A eventual interferência governamental na Vale chegou a gerar ruído durante a gestão do PT. Em 2009 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da mineradora a construção de usinas siderúrgicas no Espírito Santo e no Pará, onde chegou a ser constituída a Aços Laminados do Pará (Alpa), projeto que não decolou. O governo queria que a Vale desse um passo além da exportação de minério e considerava os investimentos em siderurgia estratégicos para o desenvolvimento da indústria brasileira, o que gerou um embate com o então presidente da companhia, Roger Agnelli (1959-2016).

O fim do acordo de acionistas da Vale abriu caminho para uma espécie de "nova privatização" da mineradora, já que agora os antigos acionistas do bloco de controle podem se desfazer de suas ações na empresa, a exemplo do BNDES, que se desfez de toda a sua participação societária. Ao mesmo tempo, fundos estrangeiros têm elevado a sua fatia na empresa, que hoje já são donos de 55% da mineradora, segundo reportagem do Estadão.

O consultor geral da Vale, Alex D’Ambrosio, fez questão de destacar que embora o governo detenha ainda a chamada "golden share" na companhia, seus poderes são limitados. Na Vale, o governo pode usar suas ações preferenciais de classe especial para vetar mudanças de nome, sede, objeto social, liquidação da empresa e separação de ativos como ferrovias, portos e minas.

Ele também destacou a confiança da companhia de que o projeto de lei que prevê o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para empresas do setor extrativo mineral não prospere. O possível aumento da tributação também foi uma questão colocada por Tanners.

Contato: mariana.durao@estadao.com
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