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São Paulo, 18/01/2019 - Uma reforma da Previdência mais profunda, com maior impacto fiscal, tem uma série de complexidades que torna difícil sua aprovação pelo presidente Jair Bolsonaro, avalia a BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, com mais de US$ 6 trilhões em ativos. Mas mesmo que o novo governo consiga passar no Congresso um texto mais moderado, pode ser suficiente para manter o bom humor dos investidores, desde que a equipe econômica tome medidas adicionais para garantir a melhora das contas públicas, avalia o estrategista-chefe da gestora para a América Latina e Ibéria, Axel Christensen, ao
Broadcast. Leia a entrevista abaixo:
Broadcast: O presidente do conselho e diretor executivo da BlackRock, Laurence Fink, aponta na carta aos acionistas que a economia mundial está se tornando mais frágil. Como isso pode afetar o Brasil?
Axel Christensen: Certamente, uma ampla gama de indicadores aponta para uma desaceleração do crescimento mundial na medida em que entramos em 2019. Como o esperado, isso deve ter um impacto na economia brasileira, especialmente naqueles setores mais expostos ao mercado mundial, como a agricultura ou commodities industriais. Contudo, a recuperação observada em setores mais ligados ao mercado doméstico no Brasil devem ajudar a mitigar esse impacto. O aumento na confiança dos empresários que tem sido puxado pela expectativa de avanço das reformas no novo governo também está ajudando.
Broadcast: Qual o cenário da BlackRock para o Brasil no novo governo, considerando que Jair Bolsonaro começa com uma economia enfraquecida?
Christensen: Enquanto Bolsonaro foi uma figura politicamente ambígua durante a campanha eleitoral, sua equipe econômica tem dado sinais de compromisso em prosseguir com a agenda de reformas dos últimos dois anos e que foram responsáveis em grande parte pela recuperação gradual da economia brasileira. Nosso cenário-base é que essa recuperação continue, mas somente o avanço nas reformas estruturais vai dar suporte para um crescimento mais sustentável pela frente.
Broadcast: O mercado financeiro brasileiro teve uma euforia no começo deste ano, com o Ibovespa renovando sucessivos recordes e o real registrando o melhor desempenho ante o dólar no mundo neste começo de 2019. Os investidores ficaram otimistas demais com o novo governo?
Christensen: Certamente os investidores estão dando o benefício da dúvida para o novo governo e em sua capacidade de conduzir um programa econômico que tenha várias reformas estruturais. Contudo, dado os recentes avanços nos preços dos ativos brasileiros, acreditamos que os investidores vão acompanhar de perto a entrega dos elementos que compõem a agenda do governo, sobretudo a reforma da Previdência.
Broadcast: A BlackRock acredita que o novo governo vai conseguir aprovar uma reforma da Previdência mais profunda ou uma mais modesta?
Christensen: A reforma da Previdência certamente é essencial, com várias complexidades que fazem com que uma reforma profunda seja difícil de entregar. No entanto, mesmo um avanço moderado em melhorar a situação [fiscal] atual pode ser suficiente para fornecer suporte à recente recuperação dos ativos brasileiros. De toda forma, o governo deve também se empenhar no avanço de medidas adicionais em conjunto com a reforma da Previdência. (Altamiro Silva Junior - altamiro.junior@estadao.com)
