Economia & Mercados
11/05/2022 08:46

Exclusivo: Eve quer ser líder global e pode ter tamanho da Embraer em dez anos, mas ações caem


Por Aline Bronzati, Correspondente

Nova York, 10/05/2022 - A Eve, startup de carros voadores elétricos da Embraer, almeja a liderança global em seu negócio, com a proposta de resolver dois problemas chave da sociedade: o trânsito caótico das grandes cidades e a necessidade de reduzir as emissões de carbono. "Em dez anos, a Eve pode ter o tamanho da Embraer hoje", disse o presidente da fabricante brasileira de aviões, Francisco Gomes Neto, em entrevista ao Broadcast.

A Eve listou hoje suas ações na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), sob o código EVEX. Enquanto executivos e investidores participavam de evento de lançamento, com direito a um simulador do eVTOL - seu carro voador, em Wall Street, as ações da startup estreavam nos EUA com queda de cerca de 23%.

A forte baixa tem por trás a perspectiva de longo prazo do negócio da Eve, que deve entrar em serviço somente em 2026. As ações abriram o pregão de Nova York a US$ 10,35, mas caíram a US$ 8,67, perto das 13 horas, no horário de Brasília.

A listagem na Nyse ocorre após a startup da Embraer unir seus negócios com a norte-americana Zanite, uma companhia de propósito específico de aquisição (Spac, na sigla em inglês), voltada ao setor de aviação. A aprovação do casamento ocorreu na sexta-feira, dia 06, e foi antecipada pelo Broadcast.

De acordo com o presidente da Embraer, a associação com a Zanite ajudará a acelerar o negócio da Eve. A empresa já tem 1,8 mil cartas de intenção que somam US$ 5,4 bilhões em pedidos feitos por 17 clientes de diversas regiões do mundo, dentre eles, operadores de avião e empresas de leasing.

Em termos de receita, a meta da Eve, afirma Gomes, é alcançar os US$ 4,5 bilhões até 2030. Para chegar lá, o caminho financeiro já está estruturado. Com capital de US$ 380 milhões, a startup da Embraer avalia ter recursos suficientes para ir até a certificação de seus carros voadores, o que está previsto para acontecer em 2025. Nesse sentido, descarta, ao menos, por ora, novas rodadas de investimento.

"Obter a certificação (para os carros voadores) é um desafio, mas já estamos trabalhando com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) formalmente, que também está em contato com as autoridades nos Estados Unidos e na Europa", disse Gomes, da Embraer.


Foto: Aline Bronzati/Estadão Conteúdo - Investidores acompanham evento de listagem das ações da Eve, na Nyse, em Nova York.

Testes

Enquanto isso, a Embraer já faz testes do seu negócio de carros voadores. Demonstrações com um simulador de helicóptero foram feitas no Rio de Janeiro. Os resultados, conforme Gomes, foram impressionantes. Com o eVTOL, será possível ir do bairro da Tijuca ao Galeão em até 15 minutos. De carro, o mesmo percurso pode levar uma hora e meia a depender do trânsito na cidade maravilhosa. "É muita diferença", disse o presidente da Embraer.

O plano, de acordo com ele, é que a Eve entre em serviço em 2026. A princípio, o eVTOL comportará quatro pessoas, além do piloto. No futuro, porém, a Eve mira um carro voador autônomo. "Isso já acontece com os trens", compara o presidente da Embraer. Mas, tal passo deve ser dado apenas depois de 2030, disse.

Também no longo prazo a Eve pode dar um maior suporte às ações da Embraer. Ontem, o Citi reduziu o preço-alvo da ADR da fabricante brasileira de aviões, para R$ 12,75, de R$ 13, após computar os resultados do primeiro trimestre e despesas financeiras mais altas. O banco norte-americano vê na Eve, porém, uma chance de recuperação dos papéis. Nesta terça-feira, as ADRs da Embraer tinham queda de 2,50% na Nyse.

"O cenário de curto prazo com inflação, aumento de juros, choque na cadeia de suprimentos e guerra, é difícil. A Eve é um projeto de longo prazo, para quando esperamos um impacto positivo (nas ações)", disse Gomes, acrescentando: "No curto prazo, nossas ações dependem muito desse cenário (macro)".

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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