Economia & Mercados
27/12/2022 18:13

Entrevista/Nyse/Seier: 'Estamos entusiasmados com o robusto 'pipeline' brasileiro de IPOs'


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 26/12/2022 - Após um ano escasso de desembarques de empresas brasileiras em Wall Street, 2023 é aguardado com otimismo. Ainda que pese o ambiente volátil diante das incertezas do processo de aperto monetário nos Estados Unidos e dos temores de recessão, a expectativa é que o ritmo de aberturas de capitais (IPOs, na sigla em inglês) nos EUA acelere após o primeiro trimestre, com um "forte pipeline" de emissores do Brasil, segundo a diretora de mercados internacionais da Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), Cassandra Seier. China, Reino Unido e Israel, de onde saem soonicorns (empresas perto de se tornarem unicórnios) também são olhados com atenção, diz.

"Estamos muito interessados no Brasil e entusiasmados com o robusto 'pipeline' brasileiro. Estamos nos envolvendo com muitas empresas em vários estágios de IPO", afirma Seier, em entrevista exclusiva ao Broadcast, a primeira concedida a um veículo de imprensa do Brasil.

Proveniente do Goldman Sachs, ela assumiu o posto de diretora de mercados internacionais da Nyse em agosto e pretende visitar o Brasil em março. Amante da culinária local e com uma lista de lugares preferidos para visitar, ela tem como objetivo estreitar o relacionamento com as companhias já listadas e atrair mais emissores para Wall Street, desbancando a rival Nasdaq e a própria B3, a bolsa brasileira. O Brasil ocupa a quarta colocação no ranking de países com empresas na Nyse, atrás de Canadá, China e Reino Unido. Já chegou a ser o terceiro, mas foi desbancado após deslistagens nos últimos anos. Abaixo, os principais trechos da entrevista:


Foto: Courtney Crow/Nyse Divulgação

Broadcast: Quais suas expectativas para 2023, com o cenário de subida de juros nos EUA e continuidade do ambiente volátil, que fez este ano ser um dos piores para ofertas de ações das últimas décadas?

Cassandra Seier:
Neste momento, estamos entusiasmados com as perspectivas de 2023. Claramente não sabemos como será, mas estamos muito otimistas. Sei que você está interessada no Brasil em particular - e nós também. Estamos muito entusiasmados com o robusto pipeline (fila de companhias que querem fazer negócios) brasileiro. Estamos nos envolvendo com muitas empresas em vários estágios de IPO. É algo que observamos de perto... e esperamos um 2023 forte.

Broadcast: Como ter uma visão otimista diante do cenário tão incerto?

Seier:
Uma vez que o mercado fique mais estável, devemos começar a ver grandes companhias com fluxos de caixas mais previsíveis vindo a mercado e impulsionando um momento positivo. Mais empresas do lado internacional devem vir também. Estamos entusiasmados, embora este ano tenha sido lento.

Broadcast: Como a Nyse lidou os desafios de 2022, um dos piores para ofertas de ações das últimas décadas?

Seier:
A Bolsa de Valores de Nova York fez um trabalho realmente muito bom, apesar de um 2022 lento. Tivemos recorde, com 34 transferências para a Nyse só neste ano, o maior número de todos os tempos - e que agregaram US$ 83 bilhões de capitalização adicional para a Bolsa de Nova York. Três, das cinco grandes listagens que aconteceram em 2022, foram na Bolsa de Valores de Nova York. Portanto, apesar de um 2022 mais lento do que em relação a 2021, ainda estamos muito bem posicionados para capturar (negócios) quando os mercados começarem a abrir novamente em 2023.

Broadcast: Quando essa reabertura deve ocorrer?

Seier:
Nos três primeiros meses do próximo ano, devemos ter um volume semelhante em termos de transações e novos negócios. Após o primeiro trimestre, esperamos ter uma noção mais clara das empresas que entraram com pedido (de IPO) e das que estão prontas para listar suas ações.

Broadcast: No caso do Brasil, temos um novo governo e grandes desafios fiscais. Como isso pode impactar o mercado de capitais e os planos de empresas que desejam se listar nos Estados Unidos?

Seier:
Não tenho nenhum tipo de ponto de vista político. Mas, do meu lado, as empresas com as quais estamos conversando estão realmente muito voltadas ao negócio e em manter a lucratividade forte e saudável, para ter um balanço seja bom e atraente para os investidores, diferenciando-se de seus pares. Portanto, o foco (das companhias) é realmente em estarem prontas.

Broadcast: Nesse novo ambiente, as empresas precisam provar mais aos investidores?

Seier:
Exatamente. Investidores estão olhando para empresas de qualidade, com uma boa história e fluxo de capital previsível. É sobre obter o valor certo para essas empresas e, portanto, é mais importante que se concentrem nisso do que no cenário político.

Broadcast: Qual é a importância do Brasil para a Nyse?

Seier:
O Brasil é o quarto país no ranking internacional da Nyse, atrás de Canadá, China e Reino Unido, e esperamos ver mais empresas vindas do mercado brasileiro. É uma economia muito importante e também relevante para o ciclo do mercado de capitais. Estamos conversando com muitas empresas no estágio inicial, antes mesmo de estarem prontas para o IPO.

Broadcast: Qual é o país mais promissor para a Nyse no contexto internacional?

Seier:
Olhamos para regiões, não para países. Estou entusiasmada com o pipeline da Ásia-Pacífico... Cingapura, China e, potencialmente, até a Indonésia, o Vietnã, países um pouco mais avançados e em um ciclo econômico diferente. Fora da Ásia-Pacífico, o Reino Unido continua sendo importante, já que a LSE (London Stock Exchange), em termos de atividade caiu mais, e realmente reforçou a necessidade de os mercados de capitais dos EUA estarem prontos. Também há muitos unicórnios saindo de Israel. As pessoas brincam que são os unicórnios e os soonicorns, empresas perto de se tornarem unicórnios. Além do Brasil, há o México, o Chile, o Peru. Vou viajar para todos os lugares e provavelmente visitarei o Brasil em março.

Broadcast: Será a sua primeira vez no Brasil?

Seier:
Não, eu amo o Brasil. É muito engraçado. Tenho coisas para fazer quando estou no Brasil: comidas, lugares para ir, tenho muitos grandes clientes para visitar no Brasil.

Broadcast: Quais os setores mais promissores no Brasil para IPOs nos EUA?

Seier:
Tudo depende do pipeline. Em 2020, 2021, tivemos histórias de alto crescimento. Agora, está mudando um pouco para (empresas) de valor mais alto. Portanto, pode haver mais ações de valor em vez das de crescimento. Mas as coisas mudam e o mercado é cíclico.

Broadcast: Mas a subida de juros e o tempo em que as taxas continuarão elevadas nos EUA são um grande desafio para a retomada dos IPOs nos EUA, não?

Seier:
Em geral, não é apenas o nível de taxa de juros, é a volatilidade. Se o mercado está menos volátil e mais previsível, a tendência é de as pessoas começarem a investir novamente em empresas listadas.

Broadcast: A sra. mencionou a China, mas a relação com os EUA não pode atrapalhar os planos da Nyse?

Seier:
Em geral, precisa haver mais clareza em torno do cenário político e da revisão das questões de auditoria entre os EUA e a China. Assim que houver mais estabilidade e previsibilidade na compreensão das regras para as empresas, esperamos começar a ver companhias chinesas nos Estados Unidos. O mercado norte-americano é muito atraente para a comunidade chinesa pela liquidez. Tivemos uma história de sucesso muito boa na China, e eles conseguiram levantar muito capital quando vieram para os EUA.

Broadcast: A sra. não vê mais deslistagens de empresas chinesas?

Seier:
Não, o risco de delistagem foi aliviado. Não é algo que nos preocupe neste momento.

Broadcast: Os EUA perderam a liderança em IPOs para a China neste ano. A sra. vê chances de Wall Street recuperar o posto em 2023?

Seier:
Não concordo com essa afirmação. Dito isto, estamos falando com as empresas da China, que estão esperando ansiosamente para entrar nos EUA e a Bolsa de Valores de Nova York é um parceiro de escolha.

Broadcast: A sra. começou na Nyse em agosto, enquanto os temores de recessão cresciam e a volatilidade afastava os emissores de IPOs. Qual o desafio de assumir a posição de diretora de mercados internacionais da Bolsa de Nova York em meio a este cenário?

Seier:
É melhor começar no momento em que o foguete está mais lento porque há tempo para entender o crescimento da empresa. Estou amando. Amo meu trabalho e meu time, que é fantástico. Portanto, quero continuar a aumentar essa equipe para garantir que, quando o mercado abrir, estejamos prontos. Agora temos tempo para construir o pipeline e a estratégia em torno disso.

Broadcast: Como a sra. vê a concorrência com a Nasdaq por emissores brasileiros?

Seier:
Tentamos explicar para as empresas brasileiras o acesso que alcançam, ao virem para a Bolsa de Valores de Nova York. Temos uma proposta de valor muito única. Temos um grande grupo de empresas do Brasil listadas que recebem ferramentas e muita atenção do investidor. Há muita exposição na mídia. Somos grandes apoiadores de empresas brasileiras e elas adoram vir aqui.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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