Economia & Mercados
14/02/2024 11:36

Especial: inflação mais forte nos EUA pode retardar início do corte de juros para junho


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 13/02/2024 - Assim como Nova York e arredores amanheceram cobertas pela neve nesta terça-feira, as expectativas de Wall Street por uma redução dos juros nos Estados Unidos também esfriaram. Dados mais fortes da inflação em janeiro associados a um mercado de trabalho ainda bastante aquecido no país empurraram as chances do início da flexibilização monetária de maio para junho e podem fazer o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) esperar até o verão no Hemisfério Norte para começar a baixar as taxas.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA avançou 0,3% em janeiro na comparação com dezembro, informou hoje o Departamento do Trabalho do país. O desempenho superou a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que estimavam alta de 0,2%.

Na comparação anual, o CPI dos EUA subiu 3,1% em janeiro, desacelerando frente ao aumento de 3,3% de dezembro, mas também acima das expectativas, de 2,9%. Por sua vez, o núcleo do indicador, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 0,4% em janeiro frente ao mês anterior e 3,9% no ano.

A surpresa com a inflação americana em janeiro esvaziou o apetite a risco nas bolsas de Nova York e retardou as expectativas pelo primeiro corte de juros nos EUA. As chances de manutenção na próxima reunião do Fed, em março, foram reforçadas e passaram a ser majoritárias também para o encontro em maio, conforme levantamento da plataforma CME Group.

Com isso, Wall Street passou a precificar o primeiro recuo nas taxas somente em junho. Após o CPI de janeiro, tal probabilidade chegou a 54,4%. "A aceleração [da inflação] será um fator que atrasará a decisão do Fed de começar a cortar taxas para junho deste ano", reforça o Morgan Stanley, em comentário a clientes.

De acordo com o estrategista-chefe da corretora americana Avenue, William Castro Alves, o índice de moradia continuou sendo o principal vilão da inflação mais elevada em janeiro, aumentando 0,6% e contribuindo com mais de dois terços da alta do mês. Alimentação também teve lá a sua influência enquanto energia atuou na contramão, observa.

Para a consultoria britânica Capital Economics, o desempenho do núcleo do CPI em janeiro serve de combustível para a narrativa de que "a última milha é a mais difícil" no combate à inflação. Os bancos centrais têm alertado os investidores quanto à importância de vencê-la até o fim. E, segundo a Capital Economics, ainda "há muita desinflação na economia americana".

"Os dados do CPI desta manhã são um lembrete de que o caminho de regresso a uma inflação de 2% ao ano - meta do Fed - provavelmente terá alguns buracos", dizem os economistas do Wells Fargo, Sarah House e Michael Pugliese. Segundo eles, há riscos de o primeiro corte de juros nos EUA dar as caras somente no verão do Hemisfério Norte, que começa no fim de junho.

Na primeira reunião de 2024, realizada em janeiro, o Fed optou por manter novamente as taxas americanas inalteradas na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Na ocasião, o presidente da instituição, Jerome Powell, cancelou as chances de um corte de juros já em março e reforçou o foco da autoridade em vencer a luta contra a inflação nos EUA. Outros dirigentes têm reforçado o discurso do líder.

"Estamos satisfeitos com o progresso da inflação, com os números abaixo de 3%, mas ainda existem muitos riscos no horizonte. É cedo para prejulgar se isso afetará a economia e não vejo como apropriado cortes no futuro imediato", disse a diretora do Fed, Michelle Bowman, nesta segunda-feira,12.

Apesar de o CPI mexer nas expectativas do mercado para os juros americanos, a Oxford Economics diz que já não previa um corte em março, mas que espera que a primeira tesourada do Fed ainda aconteça em maio. "O CPI de janeiro não justifica uma alteração na nossa visão quanto à política monetária nos EUA, mas confere algum risco ascendente à previsão de inflação para este trimestre", explica o seu economista-chefe para os EUA, Ryan Sweet, em nota a clientes.

De fato, o CPI de janeiro não é encorajador para o Fed, que busca sinais concretos de que a inflação está sob controle nos EUA para começar a cortar os juros. Mas há detalhes que diminuem a sua força, segundo o time de economistas do Bank of America liderado por Michael Gapen. Nesta lista, estão divergências nos componentes dos preços dos aluguéis nos EUA e ainda o fato de janeiro ter sido o mês mais forte para a inflação nos últimos anos.

"É possível que a sazonalidade residual seja um problema, resultando em impressões mais fortes", sugere o Bank of America. Para o gigante de Wall Street, um corte de juros em março está "fora de questão", maio entrou na berlinda e o CPI reforça suas expectativas de que o início da flexibilização monetária nos EUA ocorra em junho.

Vale lembrar ainda que a medida preferida de inflação do Fed é o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) e não o CPI. E, conforme o economista chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley, a diferença entre as duas medidas principais aumentou para níveis "raramente observados" nos últimos meses, de modo que o núcleo do CPI elevado não é garantia de um aumento forte no núcleo do PCE.

Mas, os novos dados de inflação acionaram o modo de espera em Wall Street. Economistas querem aguardar o Índice de Preços ao Produtor (PPI) dos EUA em janeiro, que será publicado na sexta-feira, dia 16, para calibrar suas expectativas para o PCE, a medida preferida do Fed.

"Atualizaremos a nossa previsão para o PCE após a divulgação do PPI, observando especialmente os componentes de tarifas aéreas, saúde e serviços financeiros", diz o Morgan Stanley. Mas, nesta conta, o CPI de hoje e o desempenho de janeiro passado não são boas premonições ao PCE. "Não estou otimista", conclui o economista do Santander.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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