Economia & Mercados
25/10/2022 12:21

Exclusivo: É cedo para discutir internacionalização de Congonhas, diz nova concessionária


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 24/10/2022 - Após arrematar o bloco de Congonhas (SP) na 7ª rodada de concessões do governo federal em agosto, a espanhola Aena se prepara para operar 17 aeroportos no País - cerca de 30% da malha aérea brasileira e 15% da atividade total do grupo no mundo. O presidente da companhia no Brasil, Santiago Yus, relata que um dos grandes desafios será equilibrar a complexa operação do terminal paulistano com o restante do bloco, num cenário global mais difícil. Ele cita, por exemplo, as discussões sobre a internacionalização de Congonhas, que na sua avaliação, ainda demanda mais estudos. Para além de São Paulo, o grupo também segue de olho em novas oportunidades de concessões no País.

"Com a conquista na 7ª rodada, temos muito a fazer, mas dentro da política de internacionalização do grupo o Brasil é uma prioridade, estamos acompanhando as concessões desde a 1ª rodada, por que não vamos acompanhar a 8ª e outras oportunidades que teremos pela frente?", disse o executivo em entrevista exclusiva ao Broadcast.


Santiago Yus, presidente da Aena no Brasil. Foto: Divulgação/Aena

Com a última conquista no Brasil, a Aena soma 82 aeroportos sob concessão no mundo, com operações na Espanha (46 terminais), México, Jamaica, Colômbia e Inglaterra. O grupo é controlado pela estatal espanhola Enaire, de gestão de tráfego aéreo, que tem 51% das ações da companhia. Os 49% restantes são negociados na bolsa de valores (free float). "Estamos enxergando oportunidades no Brasil desde o início do período de concessões. O mercado brasileiro tem muitas possibilidades de crescimento", destaca Yus.

Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, a Aena terá desafios importantes para viabilizar a concessão, tanto pela complexidade dos ativos quanto pelo valor ofertado pelo bloco. A companhia espanhola foi a única a oferecer lance pelo lote de Congonhas, com proposta de outorga de R$ 2,4 bilhões, um ágio de 231% sobre o valor mínimo. À época, a expectativa do mercado era de que o lote teria baixa competição, diante dos altos valores de outorga e investimentos envolvidos. De acordo com um executivo do mercado financeiro que trabalhou para empresas que estudaram o leilão, a conta não fechava. "O lance da Aena foi inexplicável", disse.

Yus afirma que a Aena estudou amplamente o leilão. "Tentamos entender como funciona o processo, só as primeiras propostas, com valor maior, seriam classificadas para a disputa, tivemos que colocar uma oferta atrativa. Foi um lance razoável", justifica o executivo. "Mas independentemente disso, fazemos valorações sérias, não somos especulativos, planejamos nossa proposta", acrescenta.

O grupo tem cinco anos para realizar os investimentos obrigatórios iniciais (fase 1B) em Congonhas e três anos para o restante do bloco - composto pelos aeroportos de Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul; Santarém, Marabá, Parauapebas e Altamira, no Pará; e Uberlândia, Uberaba e Montes Claros, em Minas Gerais.

Segundo a Secretaria de Aviação Civil (SAC) do Ministério da Infraestrutura, a espanhola terá que investir cerca de R$ 3,3 bilhões em Congonhas nos primeiros cinco anos da concessão. Yus diz que o grupo irá buscar alternativas de estruturação de financiamento. "Pode ser banco público, banco comercial privado, estamos avaliando." Ele afirma que os controladores não devem entrar com capital, mas que é uma prática de mercado a matriz oferecer contragarantia em caso de inadimplência.

O executivo salienta que a operação de Congonhas, por si só, já é um desafio e que o grupo aguarda para assinar de fato o contrato para dar início aos planos da concessão. A transferência da gestão dos aeroportos da 7ª rodada para a Aena deve ser concretizada no final do primeiro semestre de 2023. "Isso nos dará visibilidade sobre as reais condições do aeroporto de Congonhas, para que possamos desenhar as soluções para o terminal."

Embora a SAC defenda a internacionalização de Congonhas, Yus afirma que é cedo para falar sobre o tema. Segundo o executivo, a demanda existe, entretanto, é preciso considerar que São Paulo é um sistema com outros dois aeroportos - Guarulhos e Viracopos, em Campinas. "A internacionalização é uma das análises que estão sobre a mesa, tem prós e contras, mas executar uma operação internacional requer estrutura especial, com áreas alfandegadas, de imigração e segurança, é muito cedo para dar essa resposta", pondera.

Sobre o recente incidente envolvendo uma aeronave de pequeno porte, que impactou pousos e decolagens em Congonhas por quase 48 horas, Yus diz que a Aena teve uma primeira aproximação com a Abag, associação que representa as empresas de aviação geral (executiva). "Firmamos o compromisso de continuar conversando sobre o tema, o que também inclui conversas com algumas companhias aéreas, o caminho é conversar com todos."

Nordeste

Em 2019, a Aena arrematou na 5ª rodada de concessões o bloco Nordeste, com seis terminais. O grupo assumiu a concessão em março de 2020, início da pandemia. "Tivemos que sobreviver. Esse foi o principal desafio para nós, as obrigações do contrato continuaram", diz Yus.

De acordo com uma pesquisa de satisfação do passageiro conduzida pela SAC, referente ao quarto trimestre de 2021, o aeroporto de Recife teve um dos piores desempenhos entre os terminais avaliados. Yus justifica que o início do período de avaliação do terminal coincidiu com a entrega das obras mais básicas previstas em contrato. "Os indicadores de Recife já estiveram abaixo do padrão, mas desde a finalização das reformas básicas já estão acima do padrão."

Segundo ele, o grupo deve finalizar, em 2023, todos os investimentos da fase 1B no bloco Nordeste: são R$ 1,4 bilhão de investimentos obrigatórios nos seis aeroportos, mas o aporte total previsto até o final do ano que vem deve ser de R$ 2 bilhões no bloco. "Estamos começando a trazer novos contratos para esses terminais, vamos trabalhar com empresas na área imobiliária, podemos criar soluções de logística, centros de convenção, estamos estudando várias possibilidades."

Yus acrescenta que o grupo conversa constantemente com as companhias aéreas para auxiliar na retomada do mercado e na criação de novos destinos, principalmente agora, com uma nova escala. "Trabalhar esses blocos em rede permite que os aeroportos de menor porte consigam ter uma infraestrutura e serviço de primeira linha. O trabalho em blocos traz resultados positivos."

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
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