Economia & Mercados
14/10/2022 17:05

Exclusivo: EcoRodovias investe em energia solar para suprir consumo de suas concessões


Por Luciana Collet e Juliana Estigarríbia

São Paulo, 11/10/2022 - A EcoRodovias quer instalar usinas fotovoltaicas em rodovias operadas pela companhia em cinco Estados brasileiros para suprir o consumo de energia da operação e administração de suas concessionárias. O plano do grupo envolve a implantação de 16 empreendimentos de geração distribuída até o fim deste ano, em quatro rodovias administradas pelo grupo. Para 2023, estão previstos projetos semelhantes em seis concessionárias. Os investimentos na iniciativa somam R$ 17,3 milhões.

“Estamos avançando em ritmo acelerado com esse projeto. A substituição da matriz energética dos nossos processos-chave é uma meta importante para a EcoRodovias, assim como a descarbonização de nossa atividade em alinhamento com nossa estratégia ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês)”, diz a engenheira responsável pelo projeto, Karina Silva.

Ela alega que o intuito do projeto está mais atrelado ao atendimento de metas ambientais ligadas à diminuição da emissão de carbono pela companhia, embora a instalação das usinas proporcione economia nos custos com energia das concessionárias - um item que a engenheira admite figurar entre os principais gastos do grupo. Silva estima uma redução de, no mínimo, 80% nos custos de conta de energia elétrica das concessionárias com as iniciativas em andamento. A diminuição pode ser ainda maior, a depender das características dos projetos e da localização das rodovias.

“A redução do opex (despesas operacionais) é consequência, com a implantação dos projetos, querendo ou não, haverá um resultado, mas o objetivo principal são as metas ESG”, defende Silva, salientando que tanto a EcoRodovias quanto seu controlador, o Grupo ASTM, possuem metas relacionadas às emissões de Escopo 1 (emissões diretas de CO2) e Escopo 2 (emissões por compra e consumo de energia elétrica).

Em entrevista ao Broadcast Energia, a engenheira conta que a companhia iniciou os primeiros estudos visando à instalação de usinas solares para atendimento às concessionárias em 2017, com a implantação de projetos testes. A iniciativa ganhou fôlego a partir do fim de 2020, com o desenvolvimento de um projeto na Eco135, que opera 364 quilômetros entre Montes Claros (MG) e Curvelo (MG) da BR-135 e da LMG-754, visando à geração de energia para atender 100% das necessidades.

“A partir daí estruturamos melhor as ideias do projeto e partimos para a criação de um plano que atendesse não só uma concessão, mas o grupo e também as unidades que podem vir a ser do grupo, então hoje isso é uma premissa que já parte desde os estudos de novos negócios”, conta.

Planos

Segundo a engenheira, o plano envolve não só as concessões conquistadas pela EcoRodovias, mas também ativos em potencial. No mês passado, o grupo venceu o leilão do Lote Noroeste, um pacote que abrange 600 quilômetros de rodovias no Estado de São Paulo. "Criamos um plano que pudesse atender não só as concessões atuais, mas também as unidades que podem vir a ser do grupo, é uma premissa que já parte dos estudos dos novos negócios. Toda vez que há um edital novo, fazemos estudos e consideramos a compensação de 100% da energia de tudo que entra a partir do ano 1."

Na Eco135, foram investidos cerca de R$ 2 milhões para a instalação de 948 painéis fotovoltaicos, com geração anual de energia estimada em 807,65 megawatts-hora (MWh), volume suficiente para suprir todo o consumo da concessionária, incluindo a demanda das bases de serviço de atendimento aos usuários, onde ficam alocados serviços como socorro médico e mecânico, centro de controle operacional das rodovias e as praças de pedágio.

Além disso, equipamentos como radares de fiscalização de velocidade, câmeras de monitoramento (CFTV) e sistemas de análise de tráfego (SATs) contam com geração solar independente (offgrid), com armazenamento em bancos de baterias. A economia anual na concessionária é estimada em R$ 700 mil, correspondente a uma redução na fatura de energia da ordem de 88%, além de uma redução anual de mais de 100 toneladas de CO2.

A Ecovias do Cerrado também está implantando usinas que atenderão 100% do consumo. Com 437 quilômetros das rodovias BR-364 e BR-365 sob sua administração, a concessionária terá seis usinas ainda este ano, proporcionando uma economia estimada da ordem de 92%.

Já a Eco50, que administra 436 quilômetros entre Goiás e Minas Gerais, terá oito empreendimentos, todos localizados em território mineiro, propiciando uma redução de 90,54% nos gastos com energia. Em 2023, está prevista a instalação de usinas em Goiás, com estimativa de redução dos custos de aproximadamente 80%.


Usina solar na Rodovia Carvalho Pinto Foto: Divulgação

Em São Paulo, no Sistema Ayrton Senna-Carvalho Pinto (SP 070), a EcoRodovias já conta com uma usina fotovoltaica instalada no km 92, com 240 painéis de captação solar. Até o fim deste ano, serão concluídas mais duas usinas, além de outras duas previstas para 2023, completando o projeto com geração de energia solar para 80% da operação. Com isso, a redução dos gastos com energia deve chegar a 55,42%.

No Rio de Janeiro, a Ponte Rio-Niterói, operada pela Ecoponte, receberá uma usina em 2023, o que deve resultar em uma redução dos gastos com energia de cerca de 82,3%.

Já nas concessões mais recentes do grupo, Ecovias do Araguaia, que opera em Goiás e no Tocantins, e a EcoRioMinas, concessionária do Corredor Rio-Valadares (RJ/MG), as implantações de usinas fotovoltaicas iniciam em 2023.

Cronograma acelerado

Silva explica que o cronograma acelerado leva em conta a previsão de mudança na cobrança da tarifa de distribuição para consumidores com sistemas de geração distribuída a partir do ano que vem, conforme estabelecido na lei 14.300/2022, que instituiu o marco legal da microgeração e minigeração distribuída. Na prática, a lei altera o prazo de retorno do investimento para quem investe na instalação de sistemas fotovoltaicos. Projetos que solicitarem acesso até 7 de janeiro de 2023 ainda conseguem enquadramento pelas regras atuais. A engenheira salienta que o projeto como um todo se sustenta mesmo que seja implantado já sob a nova regra.

Boa parte das instalações da EcoRodovias é de microusinas fotovoltaicas, de até 75 quilowatts (kW) - a partir de janeiro de 2023, com as novas regras, poderá ser de até 106 kW. A utilização desse projeto de menor porte se justifica pelo fato de demandarem menos espaço. Assim, os painéis são instalados no telhado das praças de pedágio ou em pontos estratégicos de solo nas faixas de domínio. A possibilidade de instalação de usinas de minigeração, com até 3 MW, também são avaliadas, caso a caso.

A iniciativa da EcoRodovias em autogeração solar não é exclusividade no setor de concessão de rodovias. A Arteris também vem promovendo investimentos similares, embora de maneira mais tímida. A concessionária Arteris Fluminense instalou painéis solares em duas praças, segundo informa a companhia em seu relatório de sustentabilidade mais recente. A CCR também destaca em seu relatório de sustentabilidade de 2021 que vem realizando estudos para a utilização de energia fotovoltaica nas concessões do grupo. Conforme o documento, nove usinas foram instaladas em trechos estratégicos de rodovias da CCR ViaSul e CCR Rodoanel e duas na ViaRio, somando 2,8 megawatt-pico de potência.

Mercado livre

Para as contas de energia de média tensão, as concessionárias da EcoRodovia fazem contratação de médio prazo no mercado livre de energia, com compra de energia de fontes incentivadas.

Silva admite a possibilidade de o grupo avaliar, na recontratação dessa energia, a opção de um contrato de longo prazo com autoprodução, aos moldes do que tem sido adotado por grandes consumidores. “Avaliamos muito caso a caso, e pode ser que, mais ao final do contrato, avaliemos tirar do livre e levar para uma usina solar ou outra fonte de geração”, comenta.

Contato: luciana.collet@estadao.com; juliana.estigarribia@estadao.com
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