Economia & Mercados
06/04/2022 11:00

Especial: governo perde mais que a própria Petrobras com indefinição sobre novo presidente


Por Wagner Gomes

São Paulo, 05/04/2022 - A falta de uma definição em relação ao nome do próximo presidente da Petrobras traz volatilidade às ações da companhia, mas é o próprio governo, acionista majoritário da petroleira, quem mais sai perdendo com a situação atual, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Broadcast. Eles afirmam que a empresa - apesar do forte teste no cumprimento das regras de governança - parece continuar protegida, enquanto o presidente Jair Bolsonaro cai no descrédito com mais uma troca tumultuada no comando da estatal.

O general da reserva Joaquim Silva e Luna foi demitido na semana passada da Petrobras. O consultor Adriano Pires foi indicado para a presidência, mas recusou a proposta depois que o seu nome não passou no teste de governança da empresa. Rodolfo Landim, que assumiria o conselho de administração, também desistiu.

"As duas recusas traduzem a falta de responsabilidade do governo com os mecanismos de governança e a integridade da Petrobras e da própria Lei das Estatais. Mas, na verdade, a situação depõe mais contra o governo do que contra a companhia. Pelo que parece, a avaliação de antecedentes da Petrobras está funcionando", diz Willian Nozaki, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Entre os nomes que estão agora no radar para assumir a empresa estão Caio Mario Paes de Andrade (secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia), Márcio Weber (atual conselheiro da empresa), Décio Oddone (ex diretor geral da Agência Nacional de Petróleo) e Vasco Dias (ex-presidente da Shell Brasil), segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Além das regras apresentadas em seu próprio estatuto, a Petrobras precisa cumprir outras regulamentações impostas pela Lei das Estatais, pela política energética do País e a Lei das S.A.. Nozaki afirma que o governo vai ter que apresentar rapidamente alternativas para essa situação, já que a reunião no próximo dia 13, que escolherá o nome do novo presidente da companhia e do conselho, não pode ser desmarcada. Na pauta da reunião estão também a aprovação das contas da companhia e a discussão sobre a remuneração dos executivos.

"Parece que essa decisão do governo sobre quem vai assumir a Petrobras está mais relacionada à preocupação do presidente da República com as eleições. Ao fazer isso, Bolsonaro acaba negligenciando os instrumentos básicos de governança da estatal. É uma estratégia equivocada", afirma o coordenador do Ineep.

Segundo ele, a boa notícia é que mesmo antes da desistência de Pires e Landim percebia-se no conjunto de conselheiros indicados, inclusive pelos minoritários, a convergência na defesa do Preço de Paridade de Importação (PPI). Assim, de acordo com Willian Nozaki, o cenário de indefinição promove flutuação no preço das ações no mercado, mas do ponto de vista interno, da dinâmica empresarial, a situação depõe mais a favor da Petrobras do que contra.

"No conjunto da obra não parece que se esteja encaminhando para um cenário de mudanças em torno da PPI. O que parece que acontece é uma tentativa do governo de ganhar tempo para fazer a travessia eleitoral", acrescenta.

Planejamento de longo prazo

Carlos Castrucci, sócio-fundador da HOA Asset Management, diz que o governo sai perdendo porque a mensagem que fica é que pessoas competentes não estão dispostas a assumir uma empresa com tantas trocas no comando. Para ele, o governo perde credibilidade entre os executivos, que entram em uma empresa buscando planejamento de longo prazo e com foco efetivo em uma boa gestão.

"No caso da Petrobras, não conseguir atrair e reter bons talentos, bons profissionais, significa permitir que os índices de governança da companhia caiam mais. A qualidade do management acaba se traduzindo em maior prêmio de risco alocado para um ativo dessa natureza, o que é ruim perante os investidores, apesar de o mercado não ter reagido mal agora nesse curto prazo. A volatilidade deve permanecer pela troca de comando e também pelo alto do petróleo", diz Castrucci.

João Zuneda, sócio-fundador da consultoria MaxiQuim, observa que mudança de presidente já é algo que ocasiona algumas instabilidades nas empresas, sejam elas estatais ou privadas. E que a situação parece estar mais complicada à medida que o acionista majoritário indica um nome que na hora "H" acaba não assumindo. Segundo ele, quando isso acontece as instabilidades na empresa e no mercado acabam se multiplicando.

Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, também acredita que a troca está causando incerteza e volatilidade. Segundo ele, o investidor fica cauteloso e o preço da ação deve seguir sem rumo no curto prazo. "Precisamos aguardar o nome da pessoa que irá ocupar esta posição para entender como será recebido no mercado. Até lá haverá volatilidade. E tudo depende do perfil do futuro CEO. Se ele for da linha da continuidade, o mercado tende a gostar", comenta Galdi.

Contato: wagner.gomes@estadao.com
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