Economia & Mercados
05/11/2021 17:30

Especial: Convergência do IPCA para a meta em 2022 exigiria Selic perto de 14% e PIB negativo


Por Cícero Cotrim

São Paulo, 4/11/2021 - A convergência da inflação para a meta em 2022 exigiria um choque de juros não só incompatível com o cenário do Comitê de Política Monetária (Copom), mas que também contrataria uma recessão econômica. Economistas consultados pelo Broadcast calculam que o cumprimento da meta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 3,50%, demandaria uma Selic entre 13% e 15%, suficiente para causar uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% a 1,0%.

Os economistas ouvidos lembram que, devido à defasagem da política monetária, o Banco Central precisaria alcançar esse nível de juros até março de 2022, daqui a três reuniões do Copom - portanto, um aumento incompatível com o ritmo de 1,5 ponto porcentual defendido pela autoridade monetária na ata de outubro. E mesmo se mantido em 2022, carregaria a taxa básica de juros a no máximo 12,25% no terceiro mês do ano que vem.

"Segundo os nossos cálculos, ao ritmo de 1,5 ponto até março do ano que vem, a inflação iria para algo ao redor de 3,80% com o PIB apresentando uma contração de 0,4%. Para chegar à meta de 3,50%, os juros teriam que chegar a algo entre 13,5% e 14,0%, ao custo de um PIB negativo em 1,0%", escreve o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, em relatório a clientes. "A grande questão será o quanto o BC estará disposto a abrir mão de crescimento para colocar a inflação ao redor da meta em 2022."

Na ata de outubro, o Copom declarou ter optado por uma "trajetória de elevação de juros compatível com a convergência da inflação para a meta ainda em 2022", quando acelerou o ritmo de aperto monetário de 1 ponto para 1,5 ponto. Mas o economista-chefe da ASA Investments, Gustavo Ribeiro, lembra que a projeção de inflação do comitê, que indica IPCA de 4,10% no ano que vem, está consideravelmente abaixo da mediana do último Focus (4,55%) e da própria gestora (4,90%).

"A projeção do BC sugere que ele poderia entregar o IPCA na meta com cerca de 2 pontos a 3 pontos de Selic acima do que estava no Focus [9,75%], mas essa projeção de inflação parece ser pouco crível", diz Ribeiro. "A nossa projeção de inflação indica que, para levar o IPCA ao centro da meta no ano que vem, o BC provavelmente teria de levar a Selic a 15% no curtíssimo prazo."

Com uma Selic de 12% no fim do ciclo de aperto monetário, a ASA Investments já estima PIB estável (0,0%) em 2022, com contração em ao menos um trimestre, diante de um aperto de condições financeiras próximo do observado no pior momento da crise de 2015. "Isso entra na veia para retirar o PIB. Tem uma maior probabilidade de um PIB negativo do que positivo no ano que vem", diz Ribeiro.

Nas contas do economista-chefe da Kínitro, Sávio Barbosa, a convergência da inflação ao centro da meta de 2022 exigiria ao menos três aumentos de 2 pontos porcentuais da Selic a partir de dezembro, com juros de 13,75% em março. As consequências desse choque seriam uma queda de 1,0% do PIB e, provavelmente, um IPCA abaixo do centro da meta em 2023, quando o alvo é de 3,25%.

Segundo Barbosa, os Índices de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) e os Índices de Preços ao Produtor (PPI) internacionais têm sinalizado que a ruptura de cadeias globais de suprimentos não está superada e deve pressionar a inflação no mundo e no Brasil durante o primeiro trimestre de 2022. A inércia deixada pelo IPCA de 2021 - estimado em 9,80% pela Kínitro - também dificulta a convergência da inflação para a meta no ano que vem.

"A nossa leitura é que está cada vez mais difícil, cada vez mais impossível, uma convergência da inflação para o centro da meta em 2022", diz o economista. "Nosso cenário-base, com taxa de juros em 11,75%, leva a inflação a 4,50% no ano que vem, um patamar que na nossa visão já é positivo”, completa Barbosa, que prevê, nesse cenário, crescimento de 0,5% do PIB.

O economista da Rio Bravo Investimentos João Leal calcula que uma taxa Selic de 13% a 14%, atingida até março, seria suficiente para garantir a convergência da inflação, a um custo de uma contração de 0,5% a 1,0% do PIB de 2022. De acordo com o economista, esse grau de aperto monetário exigiria antecipação do ciclo de corte de juros, para que a inflação não ficasse abaixo da meta em 2023.

"Os modelos atuais do BC estão indicando que a inflação de 2023 já está ligeiramente abaixo da meta, o que dá a entender que o Copom começaria a reduzir os juros no fim do ano que vem. Se ele levar a Selic para 14%, teria de fazer o processo de forma antecipada, em meados do segundo semestre", diz Leal. No cenário-base, a Rio Bravo estima Selic de 10,75% no fim do ciclo, com IPCA de 4,80% no ano que vem e crescimento de 0,5% do PIB.
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