Economia & Mercados
26/08/2020 15:12

Retomada da indústria tende a ser desigual e favorecer ramos menos tecnológicos


Por: Thaís Barcellos

São Paulo, 26/08/2020 - Se o tombo dos setores industriais foi bastante desigual durante a pandemia de covid-19, que fechou linhas de produção e abalou a confiança dos investidores, a retomada não deve ser diferente, segundo o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi). Em sua avaliação, a indústria alimentícia vai se sobressair, inclusive pela safra agrícola, enquanto a fabricação de aeronaves deve seguir imersa em incertezas. "Para os setores de mais alta intensidade tecnológica, enquanto não houver vacina ou medicamento eficaz contra a Covid, a incerteza vai continuar presente."

E a situação fica mais difícil com a sobreposição de perdas ainda não recuperadas da última recessão, entre 2014 e 2016. O receio agora, diz Cagnin, é de que a retomada lenta se repita, o que pode deixar sequelas permanentes na competitividade da indústria nacional, que luta para permanecer entre os 10 países mais industrializados do mundo. Até 2018, o Brasil era o nono, segundo os dados da Organizações das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), mas seguido de perto pela Indonésia.

"De 2014 a 2020, devido às crises e à dificuldade de recuperação, o investimento para evitar que os parques ficassem obsoletos, para manter a produtividade, ficaram mais difíceis. Precisamos que a recuperação venha, mas que seja robusta e disseminada entre todas as categorias e faixas de intensidade tecnológica, porque, além de recompor o nível de produção, a indústria nacional tem que acompanhar onda de inovação tecnológica em direção à indústria 4.0. Se não, nossos concorrentes passam na frente."

Cagnin lembra que, desde a crise financeira de 2008-2009, a concorrência das exportações chinesas sobre os embarques brasileiros aumentou, principalmente para países da América Latina, porque Pequim tentou compensar a perda de dinamismo das economias centrais com a presença em países periféricos. De 2008 para 2012, o peso das exportações brasileiras para as regiões do Mercosul, da Associação latino-americana de Integração (Aladi), e do antigo Nafta (EUA, Canadá e México) caiu de 38,5% para 31,9%. "Caso a história da recuperação da crise financeira de 2008-2009 volte a acontecer, a concorrência chinesa em mercados da América Latina talvez fique forte."

Essa preocupação é ainda mais latente, afirma, no contexto da crise atual, em que a China está se recuperando na frente de outros países. "Essa pressão concorrencial é permanente, mas, neste momento em que há a diferença da pandemia, é maior", frisa, destacando que o Brasil precisa aproveitar o momento para aprovar a reforma tributária e "mudar o jogo" da competitividade do País.
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