Economia & Mercados
05/08/2022 09:18

Especial: Em tempos de inflação alta, embalagens ficam menores e mais caras nos supermercados


(Retransmitimos nota publicada ontem, às 18:32)

Por Talita Nascimento

São Paulo, 04/08/2022 - Para reajustar preços de uma maneira mais sutil ao consumidor, a indústria costuma diminuir o tamanho de algumas embalagens. Assim, ainda que pague o mesmo preço no produto, o consumidor desembolsa mais dinheiro por cada grama comprada. Acontece, porém, que o preço por quilo nas embalagens pequenas, também está subindo. Em alguns casos, é possível encontrar itens menores que são mais caros que as embalagens maiores de antes. Um estudo da Horus, startup de inteligência de mercado, mostra que a tendência de redução de embalagens acontece, principalmente, nas marcas das fabricantes líderes de mercado.

A pesquisa avaliou a variação de volume de vendas, faturamento, incidência nos carrinhos e no preço médio por quilo do sabão em pó, barra de chocolate e bolacha wafer durante o período de janeiro a maio de 2021. No caso do sabão em pó, o volume de vendas das embalagens de 2 kg caiu 51,5% no período analisado em 2022. Enquanto isso, a embalagem de 1,6 kg subiu 3,8% no mesmo indicador.

O faturamento com a venda da embalagem maior caiu 44,4%. No pacote menor, houve alta de 24,1%. A presença da caixa com 2 kg nos carrinhos de compras caiu 9,4 pontos porcentuais (p.p.), já a de 1,6 kg subiu 0,2 p.p. Vale observar ainda que o preço por quilo subiu 14,6% para quem leva o pacote maior e 19,6% para quem prefere a embalagem menor. Na prática, a embalagem menor custa agora, em média, R$ 9,90 por quilo e a maior R$ 7,85, o que pode levar uma unidade de 1,6 kg custar mais caro do que a maior.

Os responsáveis pelo estudo explicam que as novas embalagens de 1,6 kg têm a proposta de ter o mesmo rendimento que uma embalagem de 2kg teria. "A razão da subida do preço das embalagens menores é a falta da embalagem maior. Podemos acrescentar ainda que as capitãs das categorias, ou seja, os principais fabricantes, geralmente são quem promovem o movimento de reduflação (redução de embalagens em razão da alta de preços), então, naturalmente vemos um impacto quando um grande player deixa uma gramatura para trabalhar em outra", argumentam.

A interpretação é de que caso ambos os produtos fossem oferecidos lado a lado da gândola, o cliente escolheria o maior e mais barato. A única razão para que o primeiro veja o volume de vendas cair e o segundo suba é o fato da embalagem maior estar sendo substituída pela menor.

Hugo Filho, analista de Insights da Horus, chama a atenção ainda para o fato de que a queda de volume de vendas da embalagem de 2 kg não se traduz em uma alta proporcional à que a menor teve. Isso porque, segundo ele, embora a indústria imponha esse movimento de redução, o consumidor também impõe algumas tendências aos fabricantes. Como os clientes têm migrado suas compras para os atacarejos, onde se compra quantidades para o mês todo por valores mais baixos, parte da indústria viu a demanda por embalagens maiores crescer, como as de 2,2 kg e 2,4 kg. Essas opções absorvem parte da desidratação que a embalagem de 2 kg sofreu.

Outros exemplos

As barras de chocolate apresentaram tendência um pouco diferente. As embalagens de 100gramase 90g caíram 57,4% e 38,7% em volume de vendas. Ao mesmo tempo, as opções de 85 gramas subiram 4,7% no mesmo critério. Os preços por quilo subiram em todas as categorias: 3,2% na embalagem de 100g; 7,5% na de 90 g; e 6% na de 85g.

No entanto, o preço por quilo na embalagem maior continua o mais caro, a R$ 120,32. Nos outros dois tamanhos, porém, a tendência observada no sabão em pó se repetiu. No pacote de 90 gramas, o quilo custa R$ 54,8, já na menor, de 85 gramas, o quilo está em R$ 74,6.
Filho explica que, apesar da gramatura mais cara da embalagem maior não ter uma explicação tão clara, o movimento mais importante observado nessa categoria é a mudança da embalagem mediana para a de 85 gramas. Isso porque a de 90 gramas representava mais da metade do consumo dos chocolates em barra.

Nas bolachas wafer, as embalagens de 120 gramas e 100 gramas caíram 59% e 7,1% em volume de vendas, enquanto as de 80 gramas subiram 78,9%. Nos pacotes de 120 gramas, o valor cobrado por quilo caiu 49% e passou a custar R$ 18,41; enquanto nos de 100 gramas e 80 gramas, houve alta de 22,7% e 25,5% e ambos passaram a custar R$ 17,95 por quilo. Mais uma vez, observa-se que, entre a embalagem mediana e a pequena, há redução de peso e manutenção do preço.

Contato: talita.ferrari@estadao.comP
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