Economia & Mercados
11/05/2020 15:26

Aéreas estão com pouco poder de barganha junto aos governos na crise do covid, aponta pesquisa


Por Cristian Favaro

São Paulo, 11/05/2020 - Consideradas fundamentais para o transporte de medicamentos e suprimentos durante pandemias, as aéreas estão tendo dificuldade em manter uma linha de diálogo com a sociedade e sensibilizá-la da sua importância no atual momento de crise, apontou levantamento da norte-americana FTI Consulting. Como consequência, o setor perde força na hora de disputar recursos públicos para socorrer suas operações em momentos de muita fragilidade.

“Nesse momento, todos os setores de alguma maneira estão recorrendo no mundo inteiro a algum tipo de ajuda governamental. Mas você tem companhias em que o governo se sensibiliza por um interesse público maior e as aéreas partem com uma desvantagem grande em relação a muitos outros setores”, disse Thyago Mathias, diretor sênior para Setores Altamente Regulados da FTI Consulting no Brasil.

O estudo mostrou que as pessoas estão prestando mais atenção ao que os CEO’s das empresas estão dizendo. Entretanto, as aéreas estão ficando em segundo plano entre as preocupações dos brasileiros, mexicanos e norte-americanos e muitos podem não ter consciência das dificuldades.

Em um ranking das 20 indústrias que a população mais monitora hoje, setores como hospitais (80%), segmento farmacêutico (67%) e laboratórios clínicos (64%) estão no topo no Brasil. As aéreas ocupam a 11ª posição, com 49%. No México, o setor está em 9º, com 44%, e nos Estados Unidos em 11º, com 32%.

O norte-americano, na contramão dos brasileiros e mexicanos, tem olhando mais de perto a saúde financeira de mercearias e supermercados (66%), com hospitais em segundo lugar (também com 66%). Os mercados e mercearias aparecem em 7º e 6º lugar no Brasil e México, respectivamente.

No caso brasileiro, as aéreas aguardam ainda uma linha especial junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para proteger o caixa. A negociação, entretanto, não está fácil. Recentemente, o CEO da Azul criticou o banco de fomento por estar buscando uma “solução de mercado” em um momento que o mercado praticamente não existe.

A pesquisa da FTI Consulting ouviu cerca de 1,2 mil pessoas no início de abril em cada um dos três países de forma online. No Brasil, foram entrevistados outros 427 investidores para traçar tendências para a economia no futuro.

No recorte da entrevista com investidores, a pesquisa apontou que o setor aéreo é um dos que terá mais dificuldade em se recuperar depois da pandemia. Apenas 41% dos investidores entrevistados falaram que, nos próximos seis meses, as aéreas devem recuperar financeiramente sua capacidade - contra 77% de positivo para o total dos setores.

Já olhando para a atividade econômica como um todo, o levantamento mostrou que o País está mais pessimista. No Brasil, 20% dos entrevistados disseram que a economia deve voltar às suas condições pré-covid entre três e seis meses, contra 23% no México e Estados Unidos. Já um total de 27% dos entrevistados no Brasil apontou que essa recuperação virá apenas entre seis meses e um ano - contra 29% dos mexicanos e 25% dos norte-americanos.

A população tem demonstrado também uma preocupação sobre como as empresas que receberam ajuda do governo vão usar esse recurso. A avaliação é de que muitas podem priorizar os lucros dos seus acionistas ao invés do interesse dos consumidores e empregados. Transparência, neste caso, seria fundamental por parte das organizações.

Contato: cristian.favaro@estadao.com
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