Economia & Mercados
15/07/2022 19:06

Especial: Viagem aérea pode virar item de luxo se não atacarmos custos no País, diz CEO da Azul


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 13/07/2022 - Enquanto a deterioração do cenário econômico sinaliza que o brasileiro terá cada vez mais dificuldades pela frente, os preços das passagens aéreas continuam aumentando - sem um horizonte de arrefecimento. Segundo o CEO da Azul, John Rodgerson, as tarifas vão continuar subindo em meio à escalada contínua do petróleo. Em sua visão, os elevados custos estruturais do Brasil precisam ser resolvidos urgentemente para que o modal não fique ainda mais restrito no País.

"Há o risco de as viagens aéreas virarem um item de luxo se não atacarmos os custos brasileiros. Temos que continuar atacando o que faz a diferença, como o ICMS sobre o combustível, o PIS/Cofins, a responsabilização das aéreas quando o aeroporto fecha, o que gera uma enorme quantidade de processos. Isso precisa mudar", afirmou o executivo em entrevista ao Broadcast.

De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o preço do querosene de aviação (QAV) acumulou alta de 71% até 1º de julho. No consolidado de 2021, o aumento acumulado foi de 92%. "Se o combustível está subindo e o dólar valorizando, a passagem vai ter que subir para a receita das aéreas cobrir os custos. Mas não acredito que essa situação vai continuar assim, não vejo a guerra (na Ucrânia) durando para sempre", pondera Rodgerson.

Ele destaca que as companhias aéreas estão elevando os preços para "sobreviver". "Ficamos praticamente oito meses sem receita por causa da pandemia. Hoje, há um caos aéreo nos Estados Unidos e na Europa, onde as empresas receberam dinheiro do governo. Nós, no Brasil, não tivemos auxílio, mas fizemos nossa lição de casa, tivemos que nos reestruturar e estamos saindo da pandemia mais fortes do que em outros lugares."

Atualmente, a ocupação média das aeronaves da Azul é de 80%, relata Rodgerson. "Hoje, temos 30% mais oferta de voos do que no pré-pandemia e mesmo assim as tarifas estão mais caras, imagine se não tivéssemos colocado mais voos no mercado, os preços seriam absurdos." O preço médio da passagem doméstica está em tendência de alta e já acumula avanço de 21% nos quatro primeiros meses deste ano, em relação ao patamar de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Para ele, o Brasil precisa se alinhar às práticas internacionais do setor aéreo, como por exemplo no caso da discussão sobre cobrança de franquia de bagagem. "Quando a franquia é obrigatória, isso demanda um enorme contingente de funcionários para receber e transportar as bagagens, gerando custos adicionais, o que vai acabar encarecendo as tarifas para todos os passageiros", esclarece. "Além disso, cada mala desviada é um processo judicial em potencial. O impacto é muito grande."

Potencial

O CEO da Azul enxerga o Brasil com grande potencial para desenvolver a aviação. "O nosso diferencial é a malha. Estamos em mais de 150 cidades, enquanto concorrentes estão em 50. Também temos uma frota diversificada, com aeronaves de todos os tamanhos, o que nos permite voar para muitas localidades."

O executivo pontua que a nova distribuição de slots (horários de pouso e decolagem) esperada para o Aeroporto de Congonhas - responsabilidade da Anac - deve beneficiar a companhia, embora esse número ainda não tenha sido divulgado pela autarquia. Em relatório no final de junho, o BTG estimou que a Azul deve atingir cerca de 80 slots no terminal, após aprovação de novas regras de cálculo pela agência reguladora. Hoje, a aérea tem 26 slots permanentes e 15 temporários, herdados da Avianca.

Apesar do otimismo, Rodgerson admite que a oferta de voos da Azul em rotas sem sobreposição com concorrentes demanda avaliação constante de fluxo. "Não temos intenção de sair das cidades onde estamos presentes, talvez precisemos mudar as frequências, mas isso é natural, não podemos ter voos que não cobrem custos."

Em ano de eleições, que acabam tornando o mercado ainda mais volátil, Rodgerson destaca que a companhia continuará investindo para se manter competitiva. "Não controlo o que acontece em Brasília. O que podemos controlar está dentro da empresa, investimos em novas tecnologias e renovação da frota, que será muito mais econômica. Temos que ser mais eficientes, todo mundo está focado nisso."

Rodgerson diz ainda que o custo do capital está mais caro para todo mundo. "Esta é a nova realidade do País. Temos que ser melhores do que os outros que estão na mesma corrida que nós e nos preparar para dias de sol e de chuva. Mas a demanda existe."

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso