Economia & Mercados
02/07/2021 14:42

Investimento estrangeiro em carteira deve ser positivo em 2021 após 5 anos


Por Thais Barcellos

São Paulo, 02/07/2021 - O investimento estrangeiro em carteira pode ter em 2021 o primeiro ano positivo desde 2015 (US$ 14,270 bilhões), com uma combinação de juro mais alto e melhores perspectivas para o crescimento econômico e a dívida pública. Na opinião de economistas consultados pelo Broadcast, o Brasil deve continuar atrativo pelo menos até o fim do ano. A longevidade desse fluxo, porém, vai depender da eleição presidencial de 2022 e da normalização da política monetária nos Estados Unidos.

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, o Banco Central atualizou a projeção para o fluxo este ano, chamado de investimento em carteira passivo, de US$ 10 bilhões para US$ 21 bilhões. O BC citou o aumento do diferencial de juros entre o Brasil e as principais economias avançadas, a menor volatilidade global e o cenário mais favorável para a atividade no País como fatores de atração de recursos estrangeiros.

"Adicionalmente, em ambiente de melhora na percepção do risco-país, a conta de títulos no país deve refletir o aumento das emissões líquidas de títulos pelo Tesouro Nacional, resultando em novos ingressos ainda que a participação de estrangeiros se mantenha em níveis historicamente baixos."

No ano, o investimento em carteira passivo soma US$ 12,471 bilhões e, em 12 meses, US$ 41,548 bilhões, contra resultado negativo US$ 2,601 em 2020. Os fluxos em 12 meses são positivos tanto para ações quanto para títulos da dívida negociados no mercado doméstico. O último ano que mostrou entrada líquida de estrangeiros no mercado de renda variável brasileiro foi 2017 (US$ 2,963 bilhões). Desde então, 2019 e 2020 tiveram números similares de saída líquida (US$ 4,719 bilhões e US$ 4,618 bilhões, respectivamente).

As instituições financeiras não costumam fazer projeções nesse nível de desagregação, mas Myria Bast, economista coordenadora do Bradesco, destaca que não é necessário "nada extraordinário" para que o resultado do ano fique em linha com a expectativa da autoridade monetária. "A estimativa do BC significa uma entrada de portfólio de pouco menos de US$ 2 bilhões por mês. Quando juntamos ações e renda fixa, em maio foi até mais do que isso (cerca de US$ 5,200 bilhões)."

Bast afirma que o forte fluxo dos últimos meses pode ser explicado por um movimento de recomposição da exposição dos estrangeiros a Brasil, que caiu muito em 2020, não só pela saída em meio à pandemia de covid-19, mas pela forte depreciação cambial. Do fim de 2019 para o encerramento de 2020, o estoque de investimento em carteira passivo caiu de US$ 570,105 bilhões para US$ 488,823 bilhões.

"Por causa da depreciação cambial, se o estrangeiro quiser apenas manter o estoque de investimento de 2019, tem que aumentar o fluxo para o Brasil. Mesmo que não esteja escolhendo aumentar a exposição no País. O que temos visto nos últimos meses é um pouco disso. O aumento grande de fluxo para tentar recompor o peso do Brasil nas carteiras."

Mas essa recomposição só está sendo feita porque houve mudança de perspectiva para o desempenho da economia brasileira, frisa o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. Segundo ele, o fluxo em portfólio estrangeiro começou a virar em um momento em que o Brasil estava barato, depois da forte depreciação cambial, que levou o dólar a R$ 5,80. Mas logo houve a surpresa positiva com o crescimento econômico, que também tem melhorado a dívida pública, além do início do aperto monetário.

"Não quero rotular, mas estamos diante do BC mais 'hawk' do mundo hoje. Como está normalizando os juros, a dívida pública caiu, se preservou teto de gastos e o crescimento apareceu, isso trouxe dinheiro", resume o economista, destacando que a decisão de portfólio é relativa e lembrando dos problemas políticos dos vizinhos Colômbia, Peru e Chile.

Estrategista-chefe da WHG e ex-diretor do Banco Central, o economista Tony Volpon avalia que o fluxo em renda variável também é motivado pelo boom de commodities, uma vez que o Ibovespa tem grandes empresas do setor, como Vale e Petrobras. "A alta rentabilidade dessas empresas e o desejo de investir em um setor que muita gente acredita que vai entrar em um ciclo de alta secular - eu me coloco nesse grupo - o torna muito atrativo", diz, acrescentando que o ciclo de commodities também impulsiona o crescimento brasileiro.

Na avaliação de Volpon, esse é um fator mais duradouro que deve continuar a atrair o capital estrangeiro pelo menos até o fim do ano, assim como a alta do juro, com efeito sobre a renda fixa. Há, contudo, riscos que podem mudar o cenário, principalmente no ano que vem: a eleição para o Planalto em 2022 e uma eventual normalização antecipada de política pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).

Honorato defende que, mesmo que o Fed mude sua política, se as perspectivas aqui continuarem boas, o Brasil perderia menos "no relativo". O economista concorda, contudo, que extensão da maré positiva vai depender, principalmente, do debate econômico na disputa presidencial. "Mas é algo para 9 a 12 meses à frente." A discussão sobre o Orçamento de 2022 e o controle da inflação também podem ser temas importantes, segundo Honorato.

No Santander, o economista Jankiel Santos já é menos otimista. Na visão do banco, o fluxo mais forte dos últimos meses foi motivado pelo maior crescimento e pelas perspectiva para os juros, mas é apenas um respiro pontual, já que persistem os problemas estruturais do País. Por isso, a estimativa é de câmbio a R$ 5,25 no fim do ano.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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