Economia & Mercados
24/11/2017 17:22

Monopólio faz ferrovia ser mais cara que caminhão, diz governo do MT


Cuiabá e Nova Mutum (MT), 24/11/2017 - À espera de novos projetos ferroviários para facilitar o escoamento de carga, o governo do Mato Grosso afirmou que, atualmente, a existência de uma única malha ferroviária presente no Estado para auxiliar na logística da produção tem feito com que o preço do frete do trem seja superior àquele cobrado pelos caminhões.

"Por que a ferrovia não cobra muito mais barato que o caminhão? Porque a competição dela hoje é só com o caminhão. Quando essa competição for com outro trem, como a Ferrogrão, que está despontando como uma realidade no médio prazo, a situação mudará", disse Marcelo Duarte, secretário de infraestrutura e logística do Mato Grosso.

Duarte fazia referência à malha da Ferronorte, ferrovia que sai de Rondonópolis, região sul do Estado, e segue até a fronteira do Mato Grosso do Sul com São Paulo, em Aparecida do Taboado (MS), uma rede de aproximadamente 650 quilômetros de extensão. Trata-se da única saída por trilhos disponível para a região.

Durante evento realizado com centenas de produtores e empresas de logística no município de Nova Mutum, centro de produção de grãos do Estado, Duarte afirmou que a retomada das obras da BR-163, entre Mato Grosso e o Pará, e o projeto da Ferrogrão, obra de 933 km de ferrovia prevista para ser construída ao lado da BR-163, transformaram-se no "bode na sala" da Rumo, empresa que administra a Ferronorte.

"Se não tivéssemos esse projeto da Ferrogrão, talvez não teríamos um interesse tão grande da concessionária (Rumo), que está em Rondonópolis hoje, na única porta de saída que a gente tinha no Estado. Essas portas estão se abrindo aos poucos. Então, eu acho que a competição é saudável", comentou Duarte. "O desenho é favorável ao Mato Grosso e à competição, que deve vir, porque é necessária. Só com a competição nós vamos ver os preços efetivamente baixando, senão necessariamente teremos sempre a referência do caminhão. Com a saída para o Norte, com certeza esses operadores vão estar brigando por preço, por competição."

O presidente da Rumo, Julio Fontana Neto, confirmou o interesse da empresa em ampliar a malha da Ferronorte de Rondonópolis até Sorriso, onde ficaria a apenas 84 quilômetros do ponto de partida previsto para a Ferrogrão, em Sinop. O executivo, no entanto, negou que a construção de um novo ramal com mais de 650 km de extensão esteja relacionado ao novo empreendimento liderado por um grupo de tradings de grãos.

"A Ferrogrão não impacta meu projeto, não tem nada a ver. A Ferrogrão é um projeto independente, tem lá as suas virtudes. Precisa que alguém tenha dinheiro para ir lá fazer", comentou Fontana Neto. "Não é um projeto interessante para a Rumo. Por que não? Eu vou ficar com uma ferrovia lá, um intervalo, e outra ferrovia aqui. Nós começamos a olhar para o futuro, construindo uma extensão da ferrovia para ficarmos mais próximos do centro de produção. Essa é a ideia."

O plano da Rumo, que já foi entregue à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), prevê R$ 6 bilhões em investimentos, incluindo material rodante. Seriam quatro anos de obras que, de acordo com Fontana Neto, não dependem de "nenhum centavo do dinheiro público".

"Temos dinheiro, temos investidores que querem participar conosco, temos tudo", afirmou. "Não precisa do dinheiro subsidiado do BNDES. O apoio será muito bem-vindo, claro, mas não precisa subsidiar. O dinheiro virá da operação eficiente que, de alguma forma, vai reduzir custos. O dinheiro do BNDES não precisa ser subsidiado, pode ser a preço de mercado."

A extensão da malha depende ainda do plano de renovação antecipada das concessões ferroviárias, o qual ainda está em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A Rumo prevê aporte de mais R$ 5 bilhões na Malha Paulista, concessão da empresa que passa por São Paulo e que está saturada, como compromissos atrelados à renovação do contrato. "É um projeto para que a gente mais do que dobre a capacidade da ferrovia hoje, chegando a 75 milhões de toneladas em 2021, mas isso depende da data em que sair a prorrogação", disse o executivo.

A Rumo entregou uma série de informações ao TCU e aguarda uma posição do tribunal. O governo conta com a aprovação para que as renovações aconteçam. "Não existe óbice. Veja bem, esse é um investimento 100% da iniciativa privada, não tem dinheiro público. Nós estamos falando de algumas coisas meio etéreas. O risco é 100% meu." (André Borges*)

* O repórter viajou a convite da prefeitura de Nova Mutum (MT).
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