Economia & Mercados
24/09/2019 06:40

CNI: Sem conhecer conceito, indústria já utiliza algumas práticas da economia circular


Por Cynthia Decloedt

São Paulo, 24/09/2019 - Na mesma semana em que as maiores nações se reúnem no exterior para discutir o clima, tendo o Brasil como alvo de severas críticas, aqui a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tenta se debruçar sobre um tema igualmente ambicioso: a economia circular. Em evento em São Paulo nesta terça-feira, a confederação dá luz a este conceito, uma nova teoria de desenvolvimento econômico, alternativo ao capitalismo do século XX. Com o objetivo de transformar a cadeia de produção, o consumo e o comportamento da sociedade, a economia circular, basicamente, busca uma solução para o lixo.

Ainda que possa carregar uma visão quase que utópica de teoria econômica, uma pesquisa conduzida pela CNI constatou que algumas práticas da economia circular já são parte do dia-a-dia de várias empresas brasileiras, adotadas pela necessidade de atender ao consumidor que está ambientalmente mais consciente e exigente. No levantamento, 70% dos executivos de 1,3 mil empresas entrevistadas desconheciam o termo economia circular, mas em porcentual pouco acima eles já adotam alguma prática que se insere neste conceito, envolvendo reciclagem ou reuso de materiais.

“A economia circular vem como contraponto ao modelo linear de produção. Temos uma agenda inicial, mas que tem força econômica dada à necessidade de atender o crescimento do consumo em meio a uma perspectiva de escassez de recursos”, afirma o gerente de Meio Ambiente da CNI, Davi Bomtempo.

De acordo com Bomtempo, a teoria de economia circular está em construção também no mundo, sendo que na Europa uma legislação específica vigora sobre o tema. “Por aqui, estamos engatinhando. O conceito é abarcado na ideia de fazer mais com menos. No uso de matérias-primas mais resistentes, visualizando a reciclagem e o reparo, o que quer dizer, manter o material o máximo de tempo possível no ciclo de vida do produto”, comentou.

Na CNI, as pautas de uso eficiente de recursos naturais e de uma economia de baixo carbono já constam da última revisão do mapa estratégico da confederação e, segundo Bomtempo, estão relacionadas com a economia circular. Também são abordadas em acordos comerciais fechados pelo País, assim como em acordos intergovernamentais como o Mercosul e o Acordo de Paris.

Bomtempo cita ainda o plano nacional de resíduos sólidos, que prevê políticas para implantação da logística reversa, ou seja, de retorno de produtos ao fabricante. “Uma função da economia circular é corrigir alguns problemas como o dos lixões, assunto antigo e que pode ser endereçado por meio da reciclagem, da redução do resíduo na concepção do produto e na recuperação energética do que não consigo reciclar”, diz ele.

Mas observa que os incentivos econômicos são fundamentais para diminuir o custo da matéria-prima reciclável, que tem uma carga tributária cumulativa na cadeia da reciclagem superior à do produto virgem. O especialista nota que também a sociedade civil e o governo, além do setor produtivo, precisam estar engajados para que o modelo funcione.

“Ter um roadmap é relevante para direcionar a indústria sobre temas e perspectivas que orientem a escala da economia circular, como educação, tecnologia e inovação, aspectos tributários e fiscais e o financiamento”, explica.

Apesar de algumas manifestações do governo sinalizarem pouca sensibilidade com temas relacionados ao meio ambiente, Bomtempo considera haver avanços. “Temos obtido sucesso com a assimilação da ideia de que a economia de baixo carbono pode ter reflexo positivo nos negócios e que para crescer é preciso olhar o desejo do consumidor e contemplar critérios de sustentabilidade”, afirma.

Contato: Cynthia.decloedt@estadao.com
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