Economia & Mercados
06/05/2022 10:38

Ao Vivo/Barclays/Secemski: Fatores estruturais apontam aumento da dívida/PIB a partir de 2023


Por Guilherme Bianchini e Cícero Cotrim

São Paulo, 05/05/2022 - A relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) deve cair de 80,3% em 2021 para cerca de 78,0% em 2022, com ajuda da inflação, mas a taxa tende a voltar a crescer em 2023. A projeção foi feita pelo economista para Brasil do banco Barclays, Roberto Secemski, no Broadcast ao Vivo desta quinta-feira, 5. Ele ressaltou que as surpresas positivas observadas atualmente na arrecadação são puxadas por fatores pontuais.

De acordo com Secemski, a queda da dívida causa “uma falsa sensação de conforto”, pois o movimento será novamente impulsionado pela rápida expansão do PIB nominal. Esse quadro, porém, não deve se sustentar no longo prazo, já que o crescimento não ficará muito acima de 1% e os juros reais estarão em patamar elevado.

“De fato temos receitas surpreendendo para cima, mas parte disso vem dos preços mais altos das commodities, algo que não tomamos como permanente. Em algum momento vai haver uma correção, e aí é preocupante ver as iniciativas que temos visto, não só de corte permanente de receitas”, disse. “Mesmo que a dívida/PIB vá para a casa dos 78% neste ano, os fatores estruturais nos dizem que a dívida volta a subir a partir do ano que vem.”

O Barclays elevou hoje a estimativa de alta do PIB de 2022, de 0,3% para 1,0%, mas reduziu a de 2023, de 1,5% para 0,8%. Secemski atribuiu a revisão deste ano a uma melhora das expectativas para o primeiro semestre, com evolução do mercado de trabalho e recuperação em serviços e varejo, além de estímulos do governo, como o Auxílio Brasil e o saque do FGTS.

O potencial de crescimento do País, porém, segue baixo, entre 1,0% e 1,5%, afirmou o economista. “Para isso melhorar, temos que ver uma retomada das reformas estruturais, como a administrativa e a tributária, interrompidas durante a pandemia. E também uma clareza maior quanto ao marco fiscal, que só virá depois das eleições.”

Inflação e juros

Após a decisão de política monetária do Copom nesta quarta-feira, que elevou a Selic de 11,75% para 12,75%, o Barclays manteve a projeção de juros terminais de 13,25%, com um aperto final de 0,50 ponto porcentual em junho. O cenário, no entanto, tem risco para cima, pois o viés das estimativas para o IPCA em 2022 (7,5%) e em 2023 (4,0%) é altista.

Secemski vê como possível uma inflação acima do teto da meta (4,75%) no ano que vem, mas destaca que esse não é o cenário base, pois deve haver uma reversão dos choques atuais, bem como uma desaceleração na economia global.

“Essa desaceleração do IPCA vai ser muito gradual, não baixa dos dois dígitos até setembro. O viés é para cima porque existe um risco latente de uma nova rodada de aumentos de combustíveis, pela defasagem de 25% ante os preços internacionais”, disse. “O IPCA pode ir na direção dos 8,0%, mas não vemos hoje na casa dos dois dígitos no fim do ano, até porque o repasse da defasagem deve ficar entre 50% e 60%.”

O economista acrescentou que o impacto das eleições presidenciais deste ano dependerá da qualidade do debate entre os candidatos sobre a política econômica. “Quando o panorama estiver de fato consolidado, isso pode botar pressão maior em prêmios de risco para moeda e juros, e possivelmente afetar expectativas inflacionárias. Tendemos a ver um aumento da volatilidade conforme o pleito se aproxima, principalmente com sinais de que a discussão talvez se encaminhe em um sentido de mudanças no teto de gastos.”

Contato: guilherme.bianchini@estadao.com e cicero.cotrim@estadao.com
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