Economia & Mercados
06/08/2021 11:01

Especial: Segunda onda da pandemia atinge em cheio seguradoras - e impacta resultados de bancos


Por Marcelo Mota, Aline Bronzati, Niviane Magalhães, Luíza Laval e Elisa Calmon

São Paulo, 04/08/2021 - O avanço da covid-19 neste ano, com o aumento no número de mortes e infecções no segundo trimestre, impactou as duas das principais seguradoras no País, a Bradesco Seguros e a BB Seguridade, holding de seguros do Banco do Brasil. Na próxima semana, SulAmérica, especializada em saúde, Porto Seguro e Caixa Seguridade, holding da Caixa, revelam seus números do período - e o efeito covid em seus balanços. A pandemia era um risco excluído no mundo dos seguros, mas, no Brasil, as seguradoras resolveram honrar as indenizações relacionadas à covid-19.

Uma mostra do impacto veio na divulgação de resultados do Bradesco, que sempre carregou a contribuição histórica de cerca de 30% do seu lucro vindos da sua seguradora. O lucro do banco teve alta de 63,2% no segundo trimestre ante um ano, para R$ 6,3 bilhões. Apesar da alta, a participação da Bradesco Seguros segurou o resultado: os custos decorrentes da covid-19 alcançaram R$ 1,8 bilhão no período e tiveram impacto no total. Entre abril e junho, a fatia da seguradora no resultado ficou em 10% ante o nível histórico de participação de 25% a 30% no lucro.

O presidente do conglomerado, Octavio de Lazari, disse que o patamar histórico de participação da seguradora no resultado do banco não deve ser recuperado pelo impacto da covid neste ano, mas já volta a crescer nos próximos trimestres. "A partir do terceiro e quarto trimestres já começamos a voltar a níveis maiores", disse, em conversa com a imprensa.

No primeiro semestre, quando registrou custos de R$ 3 bilhões decorrentes da covid, a operação de seguros do Bradesco encolheu quase 30%. Diante disso, o banco mudou o guidance (projeções) de desempenho para o negócio e passou a prever queda de 15% a 20% na área neste ano - antes a previsão era de alta de 2% a 6%.

Segundo de Lazari, as despesas da Bradesco Seguros em 2022 devem voltar à normalidade e o mais importante não é o gasto, mas o atendimento aos segurados. E foi além: são mais de 500 mil mortes no Brasil e 4 milhões no mundo. Ainda assim, o banco espera que no terceiro trimestre, os gastos da seguradora sejam "muito menores" e que, no quarto trimestre, o ambiente esteja ainda melhor com o avanço da vacinação". Até aqui, a Bradesco Seguros já realizou mais de 1,3 milhão de exames (PCR) e 78 mil internações por covid-19.

"Foram décadas de resultados expressivos da seguradora, contribuindo para o lucro do banco. O que vimos no segundo trimestre é algo que nunca tínhamos vivido", afirmou Lazari. "É um fato raro, mas infelizmente aconteceu."

Os analistas Marcello Telles, Alonso Garcia e Norman Amador, do Credit Suisse, concordam. Para eles, o cenário no Bradesco deve ser passageiro uma vez que "o baixo resultado de seguros é temporário, não estrutural e deve se normalizar no próximo ano".

Outros, porém, se surpreenderam. "Apesar da alta dos lucros em relação ao segundo trimestre de 2020, impulsionado pelo aumento de receitas com prestações de serviços, margem financeira com clientes e redução de despesa com PDD e despesas operacionais, o segmento de seguros foi fortemente afetado, o que fez com que o guidance sofresse forte reajuste para o segmento. Vemos o resultado do Bradesco no geral, menos forte do que seus principais concorrentes", escreveu Luis Sales, analista da Guide Investimentos.

A XP também encontrou números abaixo das expectativas. Além do desempenho do segmento de seguros, despesas administrativas e operacionais e mais tratamentos eletivos, à medida que diminuiu o número de casos ativos após o início da campanha de vacinação, e indenizações no segmento de seguro de vida tiveram impacto nos resultados da maior corretora do Brasil.

Sinistralidade no pico

Na BB Seguridade, que divulgou resultados segunda-feira, o lucro entre abril e junho caiu 23,2%, em relação a igual intervalo do ano passado, para R$ 753,7 milhões. Também impactado pelo covid-19, o resultado ficou ainda 22,8% abaixo do primeiro trimestre.

Em entrevista a jornalistas, o diretor financeiro da BB Seguridade, Rafael Sperendio, disse que na primeira metade deste ano, a holding de seguros e previdência do BB pagou R$ 428 milhões em indenizações por mortes provocadas por covid-19, o dobro do desembolsado em todo o ano passado.

"O que aconteceu foi uma [taxa de] mortalidade muito acelerada na faixa dos 40 e 50 anos. A gente tem exposição maior a essa faixa etária, por isso foi maior que em todo o ano de 2020", disse. Segundo ele, no segundo trimestre, a sinistralidade "bateu o pico de 50%". Em julho, já mostrou arrefecimento, com a média diária de sinistros 20% menor que no mês anterior. A expectativa é que o avanço da vacinação reduza o volume de indenizações no segundo semestre.

"Não fosse por covid, o desempenho da empresa estaria na metade superior do 'guidance'", afirmou Sperendio. A projeção da BB Seguridade para este ano era de crescimento entre 8% e 13% no resultado operacional não decorrente de juros, mas a companhia teve que revisar para entre 1% e 6%, justamente por causa do agravamento da pandemia ao longo do primeiro semestre de 2021, que levou ao aumento acima do esperado no número de sinistros dos seguros com cobertura de morte na subsidiáriaBrasilseg.

Em relatório, o BTG Pactual disse que já esperava a queda no lucro da BB Seguridade, dado o corte de dividendos anunciado em junho e os números divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) para abril e maio. "Mesmo assim, esperávamos algo próximo a R$ 800 milhões e R$ 850 milhões, o que não foi o caso e indica que o resultado final em junho foi ruim. O segundo trimestre foi afetado pelos impactos relacionados à covid na carteira de seguro de vida e pela inflação do IGP-M muito elevada, o que levou a perdas financeiras na BrasilPrev", escreveram os analistas Eduardo Rosman e Ricardo Buchpiguel, do BTG.
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