Economia & Mercados
17/04/2024 11:56

Divergência demográfica traz risco e oportunidade para mercados, diz estrategista da BlackRock


Por Bruna Camargo

São Paulo, 16/04/2024 - O aumento da expectativa de vida e a queda da taxa de natalidade oferecem uma perspectiva de encolhimento da população em idade ativa - um desafio para o crescimento econômico. Mas apesar de se tratar de um tema global, cada país responde à questão de uma forma, e essa “divergência” cria potenciais riscos e oportunidades de investimento, na avaliação da BlackRock.

“Os efeitos da mudança demográfica são um fenômeno que acontece no mundo todo, mas falamos em ‘divergência’ porque os países estão indo por direções diferentes. Mas em muitos países, especialmente no mundo desenvolvido, a população está envelhecendo e isso tem diversas implicações, como no crescimento econômico, na inflação e em gastos e dívida pública”, afirmou Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock para América Latina, em entrevista ao Broadcast Investimentos.

Relatório recente da BlackRock Investment Institute (BII) destaca que “o impacto do envelhecimento populacional no crescimento econômico depende de o país afetado encontrar formas de compensar a queda da população em idade ativa”. Segundo Christensen, países como os Estados Unidos têm mitigado isso com abertura à imigração - de forma legalizada. O Japão, por outro lado, tem apostado em “automação sofisticada” nas indústrias.

Já na Índia, por exemplo, a população em idade ativa está aumentando, assim como a porcentagem de mulheres na força de trabalho, mesmo que gradualmente, mostra o relatório do BBI. Na América Latina, Christensen destaca México e Colômbia, que estão à frente no crescimento populacional em relação ao Brasil. Mas o País ainda está “melhor” que Uruguai e Chile.

Para a BlackRock, em geral, países com crescimento da população em idade ativa têm maior demanda por investimento em infraestrutura, e são mais propensos a oferecer aos investidores retornos mais elevados. “A chave é ser seletivo”, descreve o relatório, apontando a importância de observar se os preços dos ativos “refletem adequadamente os efeitos específicos [da divergência demográfica] de um dado país ou setor”.

Segundo a gestora, dados históricos revelam que normalmente existe uma relação positiva entre o crescimento da população em idade ativa e índices médios de preço/lucro (PE) - uma medida para valuation de ações -, mas faz a ressalva que os países com crescimento mais lento podem se adaptar e “contrariar a tendência”, com “recompensas potenciais oferecidas para investidores que sejam capazes de identificá-los”.

A “divergência demográfica” é uma das cinco “megaforças” - mudanças estruturais - identificadas pela gestora. As outras são “disrupção digital e inteligência artificial”, “um mundo fragmentado”, “futuro das finanças” e “transição de baixo carbono”.

Inflação e dívida pública

No caso da inflação, o estrategista da BlackRock diz que se trata de uma preocupação em diversos países, incluindo o Brasil, com o setor de serviços pressionando os preços. Christensen relaciona esse ponto à população em idade ativa, de quantos podem trabalhar e oferecer - ou não - serviços.

“Acreditamos que os países com populações envelhecidas deverão crescer mais lentamente, não porque a demanda seja fraca, mas porque um número menor de trabalhadores significa que as empresas não podem produzir tanto, independentemente da demanda que exista. Na verdade, pensamos que o envelhecimento poderá - em média - ser inflacionário. Por quê? Os membros mais velhos da população são normalmente aposentados e, assim, do ponto de vista econômico, produzem menos”, descreve o relatório do BBI. Menor oferta com mesma demanda leva à inflação, afirma a gestora.

E, quando na aposentadoria, há a questão se as pessoas pouparam o suficiente ou se o governo precisará intervir, influenciando também nos gastos públicos, diz Christensen. O assunto, inclusive, foi foco da mais recente carta de Larry Fink, presidente executivo (CEO) da BlackRock. Além disso, o relatório do BBI observa que um menor crescimento econômico significa um menor crescimento de receitas fiscais, ao mesmo tempo em que taxas de juros mais altas deixam as dívidas mais caras.

“Isso poderia resultar numa pressão sobre os bancos centrais para reagirem de forma menos agressiva à inflação - o que significa mais tempo para fazer a inflação retornar às metas”, descreve o relatório. “Achamos que essas dinâmicas levarão os investidores a exigirem cada vez mais compensação para deter dívidas públicas de longo prazo.”

Contato: bruna.camargo@estadao.com
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