Economia & Mercados
26/03/2021 14:22

Especial: Falta de embalagem represa produtos em fábricas e pode aumentar pressão sobre alimentos


Por Eduardo Laguna e Renata Pedini

São Paulo, 26/03/2021 - Não bastasse a insuficiência de componentes básicos que gera atrasos e interrupções de linha, a indústria vem esbarrando cada vez mais em outro nó no fim do ciclo de produção: falta embalagem para despachar produtos que dependem de caixas ou invólucros plásticos flexíveis para chegar ao consumidor.

Enquanto seis em cada dez fabricantes de produtos eletroeletrônicos relatam dificuldade na compra de papelão, fornecedores de embalagens plásticas de alimentos alertam para o risco de quebra de abastecimento nos próximos três meses. Seus clientes, por sua vez, reivindicam abertura de mercado para trazer o material do exterior sem imposto de importação.

Nos dois setores, o consumo, embora não esteja imune ao fechamento de comércio e serviços de alimentação, foi relativamente menos impactado na pandemia. O primeiro pelas necessidades relacionadas a trabalho, entretenimento e comunicação à distância dentro de casa, gerando demanda por notebook, tablet, celular e televisão. O segundo por envolver produto essencial, com vendas sustentadas pelo auxílio emergencial.

Qualquer gargalo que restrinja a disponibilidade desses produtos no mercado representa, assim, uma pressão a mais sobre preços, já inflados pela alta das commodities e do dólar, assim como pelas próprias limitações de produção associadas à falta de insumos da cadeia industrial.

Uma sondagem da Abinee, entidade que representa fabricantes de eletroeletrônicos, mostra que 59% dos associados penam para encontrar papelão no mercado. É o principal material em falta nas fábricas que produzem aparelhos como smartphones, computadores e televisores, entre outros dispositivos elétricos e eletrônicos.

Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, além de muitas fábricas terem o ritmo das linhas comprometido pela falta de componentes, os aparelhos, após prontos para o envio ao varejo, ficam em parte represados nas fábricas porque não há embalagem.

"Há entregas atrasadas por falta de embalagem. Na medida do possível, as empresas tentam encontrar novos fornecedores e negociar alternativas com os atuais, porque não há perspectiva de solução neste momento", diz o presidente da Abinee. Ele garante, no entanto, que o consumidor não ficará sem produto porque o varejo está estocado.

O problema é explicado pela combinação da inesperada retomada rápida da indústria de bens de consumo, após o primeiro choque da pandemia, com a expansão dos serviços de entrega e a demanda, mais constante, pelos produtos de primeira necessidade. Não há embalagem suficiente para todos, mesmo com as expedições de caixas, acessórios e chapas de papelão em níveis históricos.

A entrega, que costumava acontecer entre sete e, no máximo, 30 dias, agora passa fácil de um mês. Quem informa é a própria associação representante dos fornecedores de embalagens em papel, a Empapel, que promete normalização dos prazos durante o segundo trimestre.

Quanto às embalagens plásticas, as perspectivas são menos animadoras. Diante do aperto na oferta de resinas - explicado não só pelas paradas forçadas pela pandemia, mas também por furacões e nevascas que prejudicaram a produção de refinarias nos Estados Unidos -, os fornecedores de embalagens plásticas flexíveis, representados pela Abief, não descartam a possibilidade de interrupção no abastecimento. Isso atingiria não só a indústria de alimentos e bebidas, mas também produtos de higiene e limpeza.

"Parar por falta de matéria-prima ainda não aconteceu. Mesmo que tenha diminuído o ritmo, o trabalho continua. Mas existe uma probabilidade de que isso possa vir a acontecer nos próximos 90 dias. Se a oferta de matéria-prima não se regularizar até lá, é possível um problema de abastecimento, sim", diz Rogério Mani, presidente da Abief.

"Isso [menor disponibilidade de insumos] tira oferta do mercado, enquanto o consumo aumenta. O que importamos fica mais caro, e a perspectiva é de que não se resolva no curto prazo", acrescenta Mani.

Importação

Na outra ponta, os clientes da indústria que encontram cada vez mais dificuldade em manter os estoques de embalagens em níveis não só adequados como competitivos apontam a uma solução indesejada por seus fornecedores: abrir o mercado à concorrência estrangeira.

"Não há perspectiva de resolução no curto prazo. A fabricação das embalagens plásticas depende da produção de resinas, ao passo que as embalagens metálicas dependem da produção de folha de flandres. São aspectos específicos que só reforçam a urgência de melhorar as condições de acesso ao produto importado", sustenta João Dornellas, presidente-executivo da Abia, a associação da indústria de alimentos.

Ele defende a redução temporária, para zero, do imposto de importação das embalagens para aliviar custos que, somados ao encarecimento de outras matérias-primas, pressionam a inflação dos alimentos.

Contato: eduardo.laguna@estadao.com; renata.pedini@estadao.com
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