Economia & Mercados
05/09/2022 11:26

Fundo de investimento de impacto socioambiental da VOX Capital recebe até R$ 125 mi do BNDES


Por Karla Spotorno

São Paulo, 05/09/2022 - A VOX Capital acaba de ganhar como cotista do seu terceiro fundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A gestora é a única brasileira entre os três aprovados de um edital lançado no ano passado pelo banco público para fomentar o investimento de impacto social e ambiental no País. As outras duas gestoras são a Lightrock, com sede em Londres e escritórios em algumas metrópoles, como São Paulo, e a Mirova, com sede em Paris e presença também na capital paulista.

O fundo da VOX é o Tech For Good Growth (TFGG). Criado no ano passado, o fundo de venture capital soma, aproximadamente, R$ 150 milhões sob gestão investidos sob a tese de impacto socioambiental em diferentes áreas: saúde, finanças, clima, eficiência energética, segundo Daniel Izzo, co-fundador e presidente executivo da VOX, a primeira especializada em impacto do Brasil.

O fundo irá receber até R$ 125 milhões do banco com uma restrição. O edital do BNDES estipulou que a sua participação é limitada a 25% do total do fundo. Ou seja, a captação de investidores do setor privado - sejam institucionais, profissionais ou pessoa física - vai delimitar o volume total a ser aplicado pelo banco público. Considerando o montante atual sob gestão, o desembolso aproximado do BNDES será de R$ 50 milhões.

"O BNDES poderia colocar mais recursos nos fundos. Mas decidimos ser minoritários para não criar distorções no segmento", afirmou ao Broadcast Investimentos Bruno Laskowski, diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito Indireto do BNDES.

Com a Lightrock, gestora global especializada em private equity de impacto, o banco assinou o contrato em março para aportar até R$ 250 milhões ao longo de quatro anos, respeitando o limite de 25% do total do fundo. Atualmente, esse que é o segundo fundo da operação brasileira da Lightrock, tem R$ 1,3 bilhão sob gestão. "O BNDES foi um dos últimos a entrar no fundo", afirmou ao Broadcast o executivo responsável pela operação no Brasil e na América Latina, Marcos Wilson Pereira.

Não é filantropia

Izzo, da VOX Capital, pontua que uma dificuldade do investimento de impacto é convencer os investidores em potencial que não se trata de filantropia. "Existe um preconceito", diz o empresário, lembrando do relato de Karina Saade, presidente da operação brasileira da maior gestora de fundos no mundo, a BlackRock. Num painel com Izzo em um evento, Saade contou que, quando coloca a sigla ESG no nome de um fundo multiativos da Blackrock, a venda é menor. “E isso acontece porque muitos investidores entendem que, por ser ESG, o retorno vai ser menor. Mas não é verdade”, disse Saade.

"Existe um misconception [entendimento errado] do investidor de que o fundo de impacto pode ter um problema que é não dar o retorno financeiro", confirma Pereira. "O impacto está evoluindo aos poucos no Brasil. (...) Existe a capacidade de ter retorno financeiro tão bom quanto um fundo de private equity ao mesmo tempo que entrega retorno social ou ao meio ambiente", diz o sócio da Lightrock que, globalmente, tem US$ 3 bilhões sob gestão.

"Empresas para investirmos e chegarmos a R$ 500 milhões [no fundo TFGG], encontramos facilmente. Do lado da captação de recursos, o desafio é maior, especialmente com a Selic muito alta oferecendo uma remuneração grande no investimento de baixo risco", diz o presidente da gestora, fundada há 13 anos. Na VOX, o retorno médio dos fundos de venture capital é de 74,5% (Taxa Interna de Retorno anualizada). Na Lightrock, a Taxa Interna de Retorno anualizada do primeiro fundo da operação brasileira superou os 50%.

BNDES, minoritário relevante e indutor

Laskowski destacou o esforço do banco como indutor do investimento de impacto social e ambiental no Brasil. "Temos esse movimento indutor para gerar mais captação e também estimular a entrada de mais gestoras nesse segmento", afirmou o diretor do banco, acrescentando que o investimento capaz de trazer retorno financeiro e também social ou ambiental é uma demanda da sociedade. "Vai ficar para trás quem não aderir a esse tipo de abordagem", afirmou o diretor.

Em evento em São Paulo em agosto, o chefe do departamento de gestão de investimentos em fundos do BNDES, Filipe Borsato, pontuou que investimento sustentável e de impacto socioambiental é uma macrotendência no mercado financeiro. Com a iniciativa nessa que constitui uma das cinco estratégias da área de fundos do BNDES, Borsato acrescenta que o objetivo é trazer a sociedade e o mercado financeiro para o debate sobre os negócios e investimentos de impacto, para a discussão sobre boas práticas de mensuração.

Laskowski relatou que o banco recebeu propostas de 14 gestoras. As três selecionadas já eram de empresas com experiência em investimento de impacto, mas outras eram de assets que estavam começando nesse segmento. "Depois da chamada pública, recebi contato de muitos outros gestores interessados em 'impacto'", disse o diretor do banco, sinalizando que o interesse logo com esse primeiro edital mostra o potencial do segmento.

Recursos

Na atual estratégia de alocação de fundos, o BNDES investe em 51 produtos ligados a um dos cinco temas: impacto socioambiental, inovação tecnológica, crédito privado, infraestrutura e ativos ambientais. O diretor lembra que houve uma mudança nos últimos anos no mandato de investimento. No anterior, a instituição investia em companhias abertas, como JBS, Vale, MRV. Sob esse mandato, chegou a R$ 125 bilhões sob gestão. "Mas o 'delta' [potencial] de desenvolvimento era baixo, porque essas empresas já eram abertas, com acesso a mercado de capitais. [Desse portfólio,] já vendemos cerca de R$ 80 bilhões", conta o diretor.

Contato: karla.spotorno@estadao.com
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