Economia & Mercados
30/05/2022 11:09

Especial: IBP afasta risco de desabastecimento de diesel até julho; sequência preocupa


Por Gabriel Vasconcelos

Rio, 27/05/2022 - A diretora de downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Valeria Lima, disse ao Broadcast que não há risco de desabastecimentos de combustível, em especial, diesel, no curtíssimo prazo, ou seja, nos próximos dois meses. Mas de agosto em diante, ela reconhece que há riscos reais de distúrbios se o País não se preparar.

Os riscos a partir de agosto vêm em função da combinação de aumento da demanda interna devido à safra de grãos; ruídos de mercado em função da relação entre governo e Petrobras; e a conjuntura externa, que vai limitar de forma crescente a oferta global de combustíveis para importação.

"Por enquanto temos estoques bons no Brasil. Até agora o setor conseguiu comprar no mercado internacional e estamos no nível adequado. Precisamos manter isso. Mas temos problemas no horizonte sim, dentro de um contexto mundial de oferta e demanda muito apertado", afirma Lima.

Circulou no setor de óleo e gás nesta sexta-feira a informação de que, em meados de maio, o Brasil tinha estoque de diesel para cerca de 20 dias. Como noticiou o Broadcast, a natureza dos estoques de refinados é naturalmente curta.

Segundo o consultor de óleo e gás Pedro Shinzato, da StoneX, o estoque médio dos Estados Unidos nos últimos 10 anos, por exemplo, foi de 36 dias, mas, de março a maio esse tempo caiu 20%, para 28 dias e experimentando patamares próximos a 20 dias.

No fim da tarde, o Ministério de Minas e Energia respondeu provocação da Broadcast, informando que o estoque de diesel do País representa 38 dias de importação, tempo que teria sido ampliado em oito dias desde março. Esse dado diz sobre o estoque relativo somente ao volume importado e não ao consumo total, portanto, não deve ser comparado a dados divulgados por outros países.

Lima, do IBP, não forneceu números sobre os estoques brasileiros, o que diz ser atribuição da reguladora do setor, a ANP. A executiva se limitou a dizer que as pessoas olham os estoques como uma "fotografia", quando é medida dinâmica. Ainda assim, reconheceu que os estoques estão mais apertados em todo o mundo.

Ela garantiu que desde o início da guerra na Ucrânia, quando a oferta mundial encolheu por perturbações logísticas e boicote à produção russa, o setor de óleo e gás brasileiro iniciou um trabalho para reforçar estoques e manter contato com fornecedores externos.

Uma das frentes desse esforço do IBP, acrescenta Lima, é a participação nas reuniões quinzenais, sempre às segundas-feiras, do Comitê Setorial de Monitoramento do Suprimento Nacional de Combustíveis e Biocombustíveis, grupo técnico criado pelo Ministério das Minas e Energia, ainda em março, por meio de uma portaria.

Foi nesse fórum, em que participam técnicos do governo, agências como ANP e EPE, representantes do setor e empresas, como a Petrobras, onde surgiram os primeiros alertas sobre os riscos de desabastecimento de diesel no 2º semestre. As discussões do grupo subsidiaram os primeiros comunicados informais sobre a ameaça da crise do diesel e a necessidade de se manter os preços alinhados com o exterior para não desestimular a importação. Segundo apurou a Broadcast, a mais recente reunião do grupo aconteceu na última segunda, 23, e depois a Petrobras enviou ofício ao Planalto para documentar o alerta sobre o diesel a fim de não ser imputada à frente.

Lima não deu detalhes sobre as interações do comitê com o governo federal, mas informou que as reuniões continuam. Ela diz que as partes envolvidas têm ciência de que é necessário deslocar o foco do grupo do curtíssimo prazo (dois próximos meses), priorizado no início da guerra, para o médio prazo, uma vez que não há previsão do fim do conflito.

"Na última reunião dessa mesa, tratamos de abastecimento de diesel, e se discutiu sim a necessidade de se ter uma visão mais de médio prazo. Vamos levar esses números e discutir alternativas mudando o foco para esse médio prazo (agosto) até o fim do ano", informou.

Valéria Lima disse, ainda, que o relacionamento ativo de importadores brasileiros com fornecedores estrangeiros no Golfo do México, Índia e outros polos produtores é estratégico para o terceiro e quarto trimestres. Então, prevê a executiva, a concorrência por diesel no mundo deve escalonar e levar a episódios regionais de destruição de demanda, seja por falta de combustível no mercado, seja por preços impraticáveis ao consumidor.

Lima defende que o Brasil tenha estratégia segura e respeite a paridade de preços internacionais a fim de preservar o fluxo de importação no momento mais delicado do ano para o fornecimento de combustíveis derivados. "É importante ter uma sinalização de preços correta. Se (o governo) diz que vamos controlar preços, isso manda uma sinalização errada para o importador e todo o mercado", diz a executiva.

Contato: gabriel.vasconcelos@estadao.com
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