Economia & Mercados
08/07/2022 14:51

Open Finance precisa de foco em produtos e monitoramento para deslanchar, diz Oliver Wyman


Por Thaís Barcellos

Brasília, 8/7/2022 - Para deslanchar no Brasil, o Open Finance precisa de maior foco nos produtos e serviços específicos e monitoramento detalhado das metas, além de mais participantes e funcionários dedicados à iniciativa. As recomendações fazem parte de um estudo da consultoria Oliver Wyman, enviado com exclusividade ao Broadcast, que ainda aponta como necessária uma divulgação massiva para que o "sistema financeiro aberto" alcance todo seu potencial em aumento da competição e melhores condições para o cliente.

Embora classificado como natural diante da amplitude da iniciativa no Brasil e de sua complexidade, o desenvolvimento do ecossistema está um pouco mais lento do que era previsto inicialmente, na avaliação da consultoria.

Há dois meses, o Banco Central vem informando que cinco milhões de autorizações já foram concedidas para compartilhamento de dados entre instituições financeiras desde agosto de 2021 - número ainda pequeno diante do total de bancarizados no País (180 milhões). As conexões para troca de informações entre as instituições financeiras, porém, já ultrapassam 700 milhões por mês. Esse compartilhamento é a chave para o sucesso do Open Finance, porque permite que bancos e fintechs "conheçam mais a fundo" os clientes e ofereçam produtos mais assertivos, com menor custo.

"Os avanços estão ocorrendo e, embora em ritmo mais lento do que inicialmente previsto, irão definir um ecossistema e uma composição final do Sistema Financeiro Nacional certamente distinta, mais modular e com maior poder de decisão pelo cliente", argumenta Ana Carla Abrão, chefe da Oliver Wyman no Brasil, no estudo assinado também por Laura Maconi, Pedro Miranda e Nuno Monteiro, executivos da consultoria.

Ana Carla destaca que o Open Finance no Brasil começou em 2021 mais amplo do que em outros países, como é o caso do pioneiro Reino Unido, da Austrália e da União Europeia, que já se espelham na experiência brasileira. Mas essa agenda ambiciosa proposta pelo Banco Central tem desafios, como atrasos na implementação e problemas de comunicação entre os participantes, algo reconhecido pelo diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso, em evento ontem.

Segundo ele, o prazo proposto pelo BC pode ter sido um pouco apertado para o tamanho e a complexidade do projeto. Aqui, o ecossistema tem quatro fases, três de compartilhamento de dados (cadastrais, bancários e de seguros, previdência, investimentos e câmbio) e uma que cria os serviços de iniciação de pagamentos e de "marketplace de crédito" (encaminhamento de proposta de crédito) - as duas últimas novidades ante outros países.

Com isso, é possível criar novas ferramentas, como aplicativos de gestão financeira integrada, e inovações na área de pagamentos, como o uso do saldo de mais de uma instituição financeira em um uma mesma transferência.

Ao Broadcast, Ana Carla frisa que as dificuldades de adesão são vistas em todas as iniciativas no mundo, em particular na Inglaterra, em que especialistas já chegaram a dizer que o Open Banking não deu certo. Mas nota que o BC brasileiro aprendeu com a experiência britânica, exigindo uma jornada do consumidor mais simples para o consentimento e a padronização dos sistemas de instituições financeiras.

Nem por isso a padronização é tarefa fácil e não está completamente resolvida, com ajustes feitos caso a caso, admitiu ontem Damaso. Recentemente, a Convenção do Open Banking, camada administrativa e operacional da iniciativa governada pelas associações de classe dos participantes, soltou uma segunda versão da API, a interface de comunicação, para melhorar o compartilhamento de dados bancários.

Recomendações

Nesse sentido, uma das seis recomendações dadas pela Oliver Wyman para impulsionar a iniciativa é justamente o cuidado com a qualidade técnica das especificações que permitem a conexão entre os sistemas. A consultoria sugere que sejam feitos "testes robustos", implementação gradual e processos de garantia de qualidade.

Um plano de evolução baseado em casos de uso também é fundamental para a iniciativa ganhar fôlego, diz Pedro Miranda, gerente de Serviços Financeiros da consultoria, porque fica mais fácil de o cliente entender os benefícios. Ele cita o exemplo do Pix, cujo lançamento inicial foi "básico", mas depois foram incorporados novos produtos, como o Pix Saque e o Pix Troco.

Outra sugestão importante dada pelo estudo é a contratação de mais funcionários dedicados à iniciativa. Na avaliação da Oliver Wyman, compromete a velocidade do projeto o fato de a maioria dos profissionais na área técnica da Convenção também ocupar cargos nas instituições financeiras. "É necessário um equilíbrio maior entre recursos dedicados e não dedicados", avalia Miranda.

A consultoria também recomenda a expansão do rol de participantes do Open Finance, que inicialmente foi limitado pelo BC às instituições reguladas. Isso seria possível por meio de licenças específicas que dependem de permissão legal. Hoje, empresas não financeiras podem participar como iniciadores de pagamentos.

As duas últimas sugestões são o monitoramento de cada fase com indicadores objetivos, observando também quando pôr em prática a próxima, e a criação de campanhas específicas pela Convenção para divulgar a iniciativa e seus benefícios, algo que, de novo, pode ser inspirado no Pix.

"Os problemas técnicos e de governança - dificilmente antecipáveis dada a complexidade do projeto - atualmente exigem medidas assertivas na direção de viabilizar a implementação desse ecossistema transformador denominado Open Banking", finaliza o estudo.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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