Economia & Mercados
11/08/2020 19:48

Especial: Em plena pandemia, Azul dobra aposta na aviação regional e quer alcançar 200 cidades


Por Cristian Favaro

São Paulo, 11/08/2020 - A pandemia da covid-19 acendeu o sinal vermelho para o setor aéreo mundial. No Brasil, a demanda chegou a cair mais de 90% no pico da crise, em abril, e colocou à prova o modelo de negócio das empresas. Dentro desse cenário, a Azul dobrou a aposta na estratégia de flexibilidade de frota e mercados regionais ao lançar, nesta terça-feira, a Azul Conecta, fruto da aquisição da TwoFlex. A empresa opera aeronaves com capacidade para até nove passageiros.

"Com essas aeronaves vamos transformar o Brasil mais uma vez. Vamos chegar a 200 destinos. Todo mundo está triste com o que está acontecendo, mas isso vai acabar. Temos de olhar para frente", disse o presidente da Azul, John Rodgerson. Além dos 36 municípios da Azul Conecta, a empresa mãe cobre 116 cidades, mas hoje voa para cerca de 80 apenas.


Foto: Cristian Favaro

Há espaço para crescer com as aeronaves menores, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste, além de municípios interioranos no Sul e Sudeste. Os aviões de menor porte podem ainda ajudar a Azul a retomar os voos nos cerca de 40 municípios que ela deixou de atender por causa da covid-19.

Rodgerson defendeu ainda a importância da flexibilização da frota no período de crise e apontou a perenidade do negócio regional. "Talvez a Faria Lima [avenida coração do mercado financeiro em São Paulo] vai fazer reunião pelo Zoom. Será que as pessoas no interior do Mato Grosso vão fazer isso? A retomada da demanda vai demorar em cidades maiores. Por isso temos de buscar demanda nas cidades pequenas", disse, durante o lançamento da empresa, no aeroporto de Jundiaí (SP). O evento marcou o primeiro encontro presencial do setor desde o início da crise do covid-19.

O secretário Nacional de Aviação Civil (SAC) do Ministério da Infraestrutura, Ronei Saggioro Glanzmann, que também esteve no lançamento, destacou a importância de elevar a cobertura aérea no Brasil. "Chegar com esse tipo de aeronave é fundamental. Não temos um aeroporto como Congonhas em todos os lugares", disse, defendendo a demanda de passageiros por voos em municípios mais afastados.

A crise colocou à prova o modelo de negócio das companhias aéreas em todo o mundo. Aqui, a Azul aposta em uma diversificação de frota, com aeronaves que vão de nove lugares a mais de 100. Com modelos menores, a empresa pode pousar em aeroportos pequenos.

Já a Gol foca em uma frota única, com aeronaves da família 737 da Boeing, com mais de 130 lugares, que não pousam em pistas curtas. A empresa, entretanto, consegue reduzir significativamente seus custos com manutenção por ter um fornecedor único. Mesmo com aeronaves maiores, a Gol tem conseguido manter perto de 80% o índice de ocupação dos voos, resultado visto como surpreendente por analistas para o período de pandemia, colaborando para um custo por assento menor.

A Latam, na contramão, enfrenta dificuldade por causa da sua forte exposição ao mercado internacional, que foi mais afetado pelas restrições nas fronteiras dos países. A filial brasileira entrou no processo de recuperação judicial do grupo (chapter 11) nos Estados Unidos.

A recuperação no setor começou a chegar. Em junho, a demanda por voos no mercado doméstico, medida em passageiros quilômetros pagos (RPK), teve queda de 85% na comparação com junho de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Pode parecer ruim, mas já foi pior: em maio e abril, a redução na demanda doméstica foi de 91% e 93,1%, respectivamente.

Codesahre

A Azul e Latam já devem começar a vender passagens dentro do acordo de compartilhamento de voos (codeshare) na próxima quinta-feira (13), disse Rodgerson. "Qualquer oportunidade que você tem para conectar duas malhas vai trazer demanda. Isso é muito bom. Em tempos assim [de crise] você precisa ter criatividade. Temos muitas aeronaves paradas".

Em junho, Azul e LATAM anunciaram um acordo de codeshare para conectar rotas em suas respectivas redes domésticas no Brasil. O acordo incluirá inicialmente 50 rotas domésticas não sobrepostas de/para Brasília (BSB), Belo Horizonte (CNF), Recife (REC), Porto Alegre (POA), Campinas (VCP), Curitiba (CWB) e São Paulo (GRU).

Subsidiária

A nova subsidiária da Azul é fruto da aquisição da TwoFlex, anunciada no início deste ano por R$ 123 milhões. Com atuação em 36 destinos no país, a Azul Conecta é composta por 17 aeronaves modelo Cesna Gran Caravan, um turboélice regional monomotor com capacidade para até nove assentos. Dos 17 aviões, três são exclusivamente cargueiros.

A antiga TwoFlex, de Jundiaí, oferecia serviço regular de passageiros e cargas para 39 destinos, três deles já então atendidos pela Azul. A empresa operava 14 slots na pista auxiliar de Congonhas. O negócio, apesar de pequeno, foi muito bem recebido pelo mercado à época por elevar a presença da Azul no terminal da capital, o mais disputado pelas aéreas.

A Azul está, praticamente, operando sozinha em Congonhas durante a reforma da pista principal do terminal. Gol e Latam, que trabalham apenas com aviões maiores, tiveram que deslocar suas rotas para Guarulhos durante as intervenções na pista, que começaram em 5 de agosto e vão até 5 de setembro.

Contato: cristian.favaro@estadao.com
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