Economia & Mercados
03/12/2021 08:58

Especial: Passagem de ida para a Nasdaq supera R$ 2 bi, e Inter suspende migração


Por Altamiro Silva Junior e Matheus Piovesana

São Paulo, 02/12/2021 - O plano do Banco Inter de listar ações na Nasdaq, em Nova York, foi suspenso. O banco digital anunciou na noite desta quinta-feira que os pedidos de resgate dos acionistas que não quiseram receber ações da Inter Platform, a empresa que seria listada na bolsa americana, superaram R$ 2 bilhões, valor máximo que o banco tinha conseguido de crédito para recomprar as ações.

O prazo para resgate das ações terminou hoje. O preço do papel foi fixado pelo banco digital, controlado pela família Menin, em R$ 45,84. Como a ação despencou nas últimas semanas, seguindo um movimento de correção nos preços dos papéis de fintechs pelo mundo, o papel caiu para a faixa de R$ 32. Ou seja, ficou evidente nos últimos dias que todos os acionistas iam optar pelo resgate a um preço maior.

Superando o limite de R$ 2 bilhões, o conselho do banco tinha a opção de não aprovar os resgates, que é o que foi anunciado na noite de terça-feira. "A reorganização societária não será implementada", afirma comunicado do banco, que não detalha os próximos passos.

Analistas de mercado vinham prevendo que o volume de resgates dos acionistas do Inter seria alto, o que poderia inviabilizar os planos. Ontem, a Genial avaliou, em relatório, que a diferença entre o preço das ações provavelmente criaria uma arbitragem atrativa - traduzindo, tornaria vantajoso comprar o papel na Bolsa e abrir mão dele durante o período de retirada.

"Como no fechamento de hoje (01/12) o preço da unit era de R$ 33,87, para quem já era acionista e quer vender a unit seria possível liquidar a posição a um valor superior ao de mercado, mitigando as perdas dos últimos dias", afirmaram os analistas Eduardo Nishio, Bruno Bandeira e Guilherme Vianna. Eles, por outro lado, avaliaram que pode valer a pena manter os papéis, porque o IPO do Nubank tende a elevar os múltiplos da ação do Inter, visto como um similar do neobanco.

Após um pico no fim de julho, as ações do Inter recuam 61% na B3, e fecharam esta quinta-feira negociadas a R$ 32,99. A queda está diretamente relacionada à alta dos juros no País, que reduz as chances para que empresas como o banco digital captem recursos através do mercado de capitais.

Fenômeno parecido tem derrubado os papéis de empresas como a Stone, a XP e a PagSeguro, já listadas nos Estados Unidos. E obrigou o Nubank a abrir mão de US$ 10 bilhões (ou R$ 56,7 bilhões) em avaliação de mercado para emplacar sua oferta de ações, que acontecerá simultaneamente em Nova York e em São Paulo, e que é uma das mais esperadas do ano.

Gestores ouvidos pelo Broadcast têm considerado que o Nubank tem uma história de qualidade, mas que o momento de mercado é o pior possível para empresas que ainda crescem mais do que lucram.

Em relatório divulgado hoje após reunião com o CEO, David Vélez, e com a presidente da operação brasileira da fintech, Cristina Junqueira, o BTG Pactual deixou claro esse temor. "Uma avaliação muito alta aceita a prudência em relação ao crescimento no próximo ano? São questões a se pensar", afirmou o banco.

O mesmo fenômeno poderia se estender ao Inter. Com a migração para Nova York, o Inter esperava encontrar investidores dispostos a pagar mais caro por seus papéis, em linha com o que empresas como XP e Stone fizeram em anos recentes.

Contato: altamiro.junior@estadao.com e matheus.piovesana@estadao.com
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