Economia & Mercados
13/10/2018 11:03

Ilan: economia ainda precisa do avanço da agenda de reformas, como a da Previdência Social


Bali, Indonesia - 13/10/2018 - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou "que a economia brasileira ainda precisa do avanço da agenda de reformas", especialmente fiscais, e a mudança estrutural chave é da Previdência Social, que colaborará para cortar os gastos públicos obrigatórios no médio prazo.

"Há a necessidade da continuidade da agenda de reformas, assim a economia poderá crescer mais rápido e a inflação pode baixar", destacou Goldfajn, em painel moderado por Alejandro Werner, diretor do departamento de hemisfério ocidental do Fundo Monetário Internacional. Para Goldfajn, criar condições para que as contas do governo tenham uma situação bem melhor nos próximos anos é fundamental para elevar o PIB potencial do País e assim reduzir problemas sociais importantes, como o nível de pobreza que aflige uma parcela da população.

Após a reforma da Previdência Social, que na prática dará sustentação ao cumprimento do teto de gastos de forma duradoura, Ilan Goldfajn afirmou que a mudança estrutural seguinte que deveria ser adotada é a tributária. Ele ressaltou que o sistema tributário nacional cria dificuldades para a melhora do ambiente de negócios, o que por sua vez dificulta a atividade empresarial.

Economia global
De acordo com o presidente do Banco Central, a economia mundial está em conjuntura muito benigna, mas que não deve ser mantida para sempre. E dois fatores mudaram neste ano: uma deles é o avanço dos apertos de juros nos EUA, o que deixou investidores mais sensíveis na gestão de portfólios, sobretudo para países em desenvolvimento. "A normalização da política monetária pelo Fed tem que ocorrer e está ocorrendo", apontou. "Em 2018, o cenário para mercados emergentes mudou."

Um outro elemento que agregou incertezas no mundo, inclusive nos mercados financeiros, foram as tensões comerciais, apontou o presidente do Banco Central. Hoje o maior foco são as disputas ocorre entre EUA e China.

Apesar de um cenário um pouco mais desafiador em nível internacional, Goldfajn apontou que o Brasil tem um conjunto apropriado de mecanismos e políticas que mantém o país preparado para enfrentar o surgimento de eventuais choques. "Temos o sistema de metas de inflação desde 1999, que mostrou-se bem sucedido em quase 20 anos, mesmo com altos e baixos", disse. "Nesse período, nunca foi perdido o controle do processo inflacionário.".

Uma medida da eficiência deste sistema é a ancoragem de expectativas, um elemento essencial para manter a inflação presente sob controle. "E as expectativas nos próximos anos estão ao redor do centro da meta", apontou Ilan, o que é positivo para gerar previsibilidade sobre a tendência dos preços para os agentes econômicos.

"Quando as expectativas estão ancoradas ajuda a absorver choques" de preços. Goldfajn ressaltou que é importante para a política monetária sempre ter espaço para o manejo dos juros de acordo com as condições da inflação.

Outro elemento de proteção da economia é o regime de câmbio flutuante, que para Goldfajn deve ser a primeira frente de defesa das contas externas do País para eventuais movimentos menos convencionais nos mercados. "As reservas cambiais são um fator de proteção muito relevante, que no Brasil estão próximas a 20% do PIB", destacou.

Balanço de pagamentos
E a situação do balanço de pagamentos no Brasil é confortável, pois o déficit de transações correntes é baixo, pois Goldfajn destacou que está próximo a 0,8% do PIB, numa conjuntura positiva de alto ingresso de investimentos diretos estrangeiros que financiam com folgas as necessidades de financiamento das contas internacionais de curto prazo.

"Outra proteção é a resiliência do sistema financeiro no País, que tem boa liquidez e cumpre as normas de Basileia", apontou o presidente do Banco Central.

Perguntado por Werner sobre como avalia a condução da política monetária num contexto de redução da taxa de juros real neutra e o atual processo de convergência para um padrão internacional, o presidente do Banco Central destacou que tal variável é muito difícil de calcular. "Já foi bem alta, atingiu 20% nos anos 1980, baixou depois para 10% e agora está em um dígito", disse.

"A convergência para níveis internacionais não sabemos quando ocorrerá. Avaliamos as condições da economia e tentamos navegar nesta incerteza de taxa neutra." (Ricardo Leopoldo, correspondente e enviado especial - ricardo.leopoldo@estadao.com)
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