Economia & Mercados
21/02/2022 09:12

Exclusivo: Sindicatos reclamam da falta de debate com a Petrobras sobre plano de automação


Por Fernanda Nunes

Rio, 18/02/2022 - As duas federações representantes dos empregados da Petrobras - Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) - não tinham conhecimento do programa da Petrobras de substituir seus empregados por máquinas, nas plataformas, já em 2030. O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, reclamou da falta de comunicação com a empresa, que, em sua opinião, deveria ter procurado os sindicatos para debater o assunto, já que a medida terá impacto no mercado de trabalho.

“Todo esse processo carece de um maior diálogo e negociação com o movimento sindical. No acordo coletivo com a Petrobras, temos um capítulo que trata de inovações tecnológicas. Deveríamos estar discutindo com a atual gestão da empresa também sobre esse processo, porque, obviamente, isso atinge em cheio o mercado de trabalho no setor de petróleo e gás. O processo está ocorrendo à revelia dos trabalhadores”, afirmou Bacelar.

Já o diretor da FNP Marcelo Silva de Lima avalia que outro problema da operação completamente remota é que pode ter consequências na segurança ambiental, já que, em sua opinião, fará falta uma brigada de emergência embarcada para resolver um problema imediatamente. “Há as vantagens dos trabalhadores não estarem expostos aos agentes químicos que existem na plataforma, principalmente ao benzeno, pela questão cancerígena. Mas pode acontecer algum problema, e a gente não acredita que a operação remota seja capaz de garantir a segurança nas plataformas. É importante ter uma brigada treinada na plataforma”, disse.

A Petrobras não divulga o número de trabalhadores embarcados, atualmente. Mas, em seu site, a empresa informa que, na Bacia de Campos, no litoral fluminense, há “7 mil colaboradores trabalhando nas mais diversas frentes de atuação e 25 plataformas marítimas em operação”, o que representa 280 empregados em cada uma das embarcações, em média. Como o trabalho é dividido em dois turnos, são 140 empregados por turno. A FNP contabiliza 320 nas unidades do pré-sal, sendo 160 por turno. A maior parte deles seria de terceirizados. Essa categoria tende a ser também a mais afetada pelas mudanças já que demiti-la é mais fácil do os empregados próprios, concursados.

A empresa, por meio da sua assessoria de imprensa, afirmou reconhecer a capacidade do seu corpo técnico, comprovada pelos desafios tecnológicos vencidos. “O desenvolvimento de novas tecnologias não reduz a necessidade de capital humano, uma vez que os desafios se renovam e exigem novas competências dos profissionais da companhia”, argumentou.

Segundo a estatal, uma prova da continuidade da valorização do capital humano é realização de um novo concurso público para preenchimento de 757 vagas, que está aberto, e a realocação dos empregados que atuavam em ativos em processo de desinvestimento que quiseram permanecer na empresa. “Além disso, a empresa investe de forma contínua e consistente no desenvolvimento e na capacitação de seus empregados e lhes proporciona oportunidades de movimentação entre as diversas áreas da empresa”, destacou.

A Petrobras já tem muitas plataformas com a produção de petróleo operada remotamente e com apenas as equipes de manutenção e prevenção embarcadas. Cada um dos trabalhadores permanece 14 dias consecutivos nas unidades marítimas e costuma trabalhar em turnos de 7h às 19h e de 19h às 7h. Eles se revezam nas instalações internas, que se assemelham a um hotel, com dormitórios separados por gênero, banheiros, cozinha, refeitório e áreas de lazer. Cada plataforma possui um heliporto para receber os funcionários vindos dos aeroportos instalados nas cidades próximas às regiões onde há produção.

Em geral, dentro de uma unidade há uma equipe operacional, que regula válvulas e equipamentos, e outra de lastro, que monitora permanentemente o equilíbrio da embarcação. Todas essas atividades são importantes para a produção, que é perigosa também por conta do uso de materiais inflamáveis. Há ainda a brigada de incêndio, que atua em qualquer emergência. Esse grupo recebe treinamento técnico para apagar cada tipo de incêndio e promove exercícios de evacuação.

“É um ambiente industrial perigoso, mas, com as medidas corretas, é preciso conviver fazendo uma boa produção e desempenho. Não podemos ter pessoas inexperientes e com salários baixíssimos. A Petrobras também diminuído muito o contingente. Tem que ter a quantidade correta de pessoas. As equipes devem ser qualificadas. Conhecendo os riscos, é possível conhecer a prevenção”, afirmou uma funcionária própria da Petrobras, que preferiu não se identificar.

Contato: fernanda.nunes@estadao.com
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