Economia & Mercados
07/02/2022 09:23

Ao concluir fusão, Hapvida e GNDI têm ainda apetite para crescer


Por Luísa Laval

São Paulo, 07/02/2022 - As duas maiores operadoras verticalizadas do País, Hapvida e Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), concluirão na próxima sexta-feira (11) o processo de fusão para criar uma gigante do setor de saúde: combinadas, elas possuem valor de mercado de cerca de R$ 92 bilhões. Hoje, elas anunciaram que estimam capturar gradualmente sinergias de R$ 1,38 bilhão de Ebitda adicional entre 2022 e 2024.

A nova empresa começará com 15,1 milhões de beneficiários, 81 hospitais, 290 clínicas e presença em 19 Estados e no Distrito Federal, atingindo cerca de 18% de participação de mercado, ficando atrás apenas do Sistema Unimed, que possui 18,4 milhões de beneficiários. Hoje, cerca de 25% da população possuem acesso a um plano de saúde privado, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

“Temos uma presença importante em todo o País, mas há ainda várias cidades e grandes centros que não têm presença de nenhuma das duas empresas”, afirma Jorge Pinheiro, CEO do Hapvida, ao Broadcast.

“É um primeiro passo para uma contínua estratégia de consolidação. Nosso apetite continua alto para aquisições. Durante o período de covid, nenhuma das empresas deixou sua agenda estratégica de lado: fizemos aquisições e continuamos a investir na nossa rede própria”, diz Irlau Machado Filho, presidente do GNDI e que atuará como co-CEO juntamente com Pinheiro.

Próximos passos

O plano do Hapvida é atingir cerca de 40% das sinergias operacionais até 31 de dezembro deste ano (o equivalente a R$ 556 milhões), 70% até o fim de 2023 (R$ 968 milhões) e 100% até dezembro de 2024.

Entre outros objetivos, a meta do primeiro ano é capturar sinergias com fornecedores e compras, além de permitir que beneficiários das duas empresas possam usar as estruturas das redes.

“Algumas sinergias são capturadas desde o primeiro dia, como supply e compras. Além disso, teremos o cruzamento das redes: a GNDI tem vidas em lugares onde a Hapvida tem hospitais, e vice-versa: quando se redireciona esses beneficiários para serem atendidos em nossas unidades, temos um custo mais baixo.”, aponta Maurício Teixeira, CFO do Hapvida.

Mais adiante, no segundo ano, a projeção é unificar os serviços odontológicos das companhias, adotar novas tecnologias nas duas empresas e integrar despesas gerais e administrativas. Após esse período, o Hapvida e o GNDI pretendem realizar investimentos para aumento da verticalização e integrar sistemas.

Desafios para crescer

Um dos possíveis entraves para o crescimento da companhia é o desempenho macroeconômico do País, que pode afetar especialmente o crescimento orgânico das operadoras.

Em relatório, o Credit Suisse destaca que perspectivas negativas sobre o crescimento do PIB e dos índices de emprego podem impedir novos contratos corporativos e o aumento do número de beneficiários, fato admitido pela própria empresa em reunião privada com o banco.

“Mesmo assim, a empresa acredita que está em um bom lugar para aumentar sua participação. A Hapvida acredita que o aumento orgânico histórico de 4% a 5% pode não ser alcançado em 2022, mas não será tão baixo quanto durante a pandemia (inferior a 2%)”, destaca o analista do Credit Suisse, Mauricio Cepeda.

“Qualquer que seja o cenário, estamos muito bem fundamentados para crescer. Empresas como a nossa, que têm um modelo verticalizado em que podemos controlar abusos e fraudes de uma forma assertiva, têm inflação médica muito inferior ao que o resto do mercado experimenta”, afirma Machado Filho.

Os executivos de ambas as companhias apostam na eficiência do modelo verticalizado, em que as operadoras possuem estruturas próprias, como hospitais, clínicas, laboratórios e outros serviços da área. Isso possibilita melhor controle de sinistralidade e de aumento de custos, o maior pesadelo das empresas ao reajustar os valores de planos de saúde para funcionários.

“A possibilidade de reajustes mais moderados nos diferencia dos nossos competidores. Historicamente, temos entre 20% e 30% menos necessidade de reajuste em relação ao restante do mercado”, diz Pinheiro.

Em relação ao crescimento inorgânico, a companhia acredita que ainda há muito espaço para aquisições, especialmente onde nenhuma das duas empresas está presente ou onde ainda possui uma participação tímida.

Expectativas

Na visão do UBS BB, uma das principais apostas para o crescimento da nova companhia é a expansão de planos nacionais, já que as duas empresas possuem regiões complementares.

“Em vez de (serem) fornecedores regionais de menor custo, uma presença mais ampla expande o escopo para os planos nacionais”, pontuam os analistas Vinicius Ribeiro e Beatriz Shinye.

Embora o sentimento predominante seja de otimismo com a fusão, analistas ressaltam que o principal desafio é provar que a empresa conseguirá reduzir seus cursos médicos e ganhar tração própria para crescer e se sustentar.

“Mantemos nossa visão de que a empresa combinada pode liderar o processo de consolidação do setor de saúde no Brasil com potencial de sinergias, mas ainda permanecem incertezas sobre a capacidade da empresa de reduzir seu índice de custos médicos no médio prazo”, apontam os analistas Tito Labarta, Tiago Binsfeld e Beatriz Abreu, do Goldman Sachs.

“O crescimento orgânico é essencial na tese; mesmo em um mercado estagnado, pagadores eficientes devem aumentar sua participação”, observa Cepeda, do Credit Suisse.

Contato: luisa.laval@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso