Economia & Mercados
26/07/2022 08:27

Especial: Fed deve repetir dose de alta de 75 pb nos juros sob pressão de disparada nos preços


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 26/07/2022 - O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve promover um novo aumento de 75 pontos-base nos juros básicos dos Estados Unidos, durante a reunião que começa hoje e termina amanhã, dia 27. Dados da inflação piores que o previsto em junho - e no nível mais alto desde 1981, abriram as portas para o mercado precificar uma alta ainda mais agressiva, de 1 ponto porcentual, mas os membros da autoridade monetária correram para acalmar as expectativas. No centro das atenções, para além da decisão, Wall Street aguarda sinais dos próximos passos do Fed, se abandonará ou não o forward guidance, orientações para as futuras reuniões, em linha com o Banco Central Europeu (BCE).

Depois da reviravolta nas projeções semanas antes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, de julho, o mercado está inclinado a uma nova alta de 75 pontos-base. Se confirmado o movimento, a taxa básica nos EUA, a dos Fed Funds, irá para o intervalo de 2,25% a 2,5% ao ano.

Levantamento do CME Group mostra que as chances de uma elevação de 75 pontos-base predominam, com 75,1% do mercado nesta direção. Por sua vez, a probabilidade de um Fed mais agressivo, ou seja, elevando os juros em 1 ponto porcentual na reunião desta semana, é de 24,9%, com investidores descrentes de que a autoridade apertará as condições financeiras dos EUA de tal maneira.

"O Fed não gosta de surpreender no aumento de taxas. Se quisesse aumentar os juros em 100 pontos-base, teria sinalizado. Mas todos (os membros) disseram que não, que um aumento de 75 pontos-base está bom", diz o novo economista-chefe do Bank of America para os EUA, Michael Gapen, em entrevista ao Broadcast.

Gigantes de Wall Street estão alinhados em mais uma alta de 75 pontos-base. O Citi, mais conservador na reunião de junho, chegou a se render ao movimento 'hawkish' (de mais subida de juros) do mercado após dados da inflação em junho, projetando avanço de 1 ponto porcentual no encontro deste mês, mas voltou atrás e está com o consenso. Além dele, o britânico Barclays, que puxou a fila de uma elevação maior na reunião passada, de 75 pontos-base, também prevê outro aumento desta ordem em julho.

A chance de o Fed ir além neste mês e subir os juros em 1 ponto porcentual na reunião deste mês ganhou coro em Wall Street após dados do mercado de trabalho e a inflação nos EUA mais fortes que o esperado. O índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês) teve alta de 1,3% em junho, saltando a 9,1% no ano, o maior desde novembro de 1981. De lá para cá, sinalizações dos membros do Fed de que a autoridade não estaria inclinada a uma alta de 1 ponto porcentual e dados mais favoráveis da economia norte-americana contribuíram para o mercado voltar a precificar uma alta de 75 pontos-base.

"Embora seja provável que o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheça o recente declínio nos preços da gasolina como um sinal de que a inflação principal diminuirá no futuro, a força do núcleo da inflação deixa pouco espaço para complacência", alerta o Morgan Stanley, em comentário a clientes.

O mercado também aguarda direcionamentos do Fed quanto ao processo de redução do seu balanço de ativos (QT, na sigla em inglês) de cerca de US$ 8,9 trilhões, em paralelo à subida de juros. O movimento começou em junho e deve acelerar em setembro.

Forward guidance

O foco de investidores e economistas, contudo, estará no pós-decisão, ou seja, nos sinais que o presidente do Fed dará quanto aos próximos encontros, em especial o de setembro, na coletiva de imprensa que concede na sequência da reunião do FOMC. "Esperamos que Powell enfatize que a decisão permanece dependente de dados, embora o comitê ainda esteja procurando elevar as taxas 'rapidamente' na ausência de evidências 'claras e convincentes' de que a inflação caiu", dizem os economistas Jonathan Millar, Pooja Sriram e Chun Yao, do Barclays, em comentário a clientes.

Um dos pontos que será olhado com atenção pelos investidores é se o Fed vai abandonar também o forward guidance assim como fez o Banco Central Europeu (BCE), na semana passada. Powell já deixou as portas abertas para tal passo. Na reunião de junho, o presidente do Fed disse que o forward guidance ainda era crível, mas dependia de dados e circunstâncias econômicas. No fim do mês passado, ao voltar ao tema durante fórum do BCE, em Portugal, Powell reforçou que o forward guidance sempre estará condicionado aos eventos macroeconômicos.

Vale lembrar que antes da reunião do FOMC de setembro, deve ocorrer, no fim de agosto, o Simpósio de Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. O evento é sempre bastante aguardado pelos mercados financeiros por ser considerado uma espécie de prognóstico sobre o futuro da política monetária global.

"Esperamos que o Fed abra mão de um ritmo agressivo de alta de juros a partir de setembro, na medida em que o fortalecimento do dólar ofusca a inflação e os preços da gasolina já foram assimilados", afirma o norte-americano Jefferies.

Outro alerta no mercado é o de que uma nova alta de 75 pontos-base em julho embora, de um lado, ajude a controlar a inflação, do outro, joga luz ao impacto na atividade econômica dos Estados Unidos. Este mês, o Bank of America passou a prever uma "recessão leve" no país este ano, reforçando o coro de Wall Street. Durante as teleconferências de balanços de empresas de capital aberto nos EUA do segundo trimestre, a palavra recessão esteve presente.

"Embora o sentimento tenha mudado, poucos dados que vejo me dizem que os EUA estão à beira de uma recessão", afirmou a presidente do Citigroup, Jane Fraser, para quem é "altamente improvável" uma desaceleração mais aguda do que outras na memória recente dos EUA.

A decisão do Fed será conhecida amanhã, às 15 horas de Brasília. Na sequência, Powell concede coletiva de imprensa, que acontece 30 minutos depois, quando o mercado espera colher sinais de até onde irá o aperto monetário na maior economia do mundo.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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