Por Altamiro Silva Junior
São Paulo, 01/06/2022 - A mudança no controle da Stone, anunciada nesta quarta-feira, em que os fundadores da empresa vão perder poder de voto, foi recebida com cautela por analistas e investidores, que citam dúvidas sobre o real interesse dos controladores e possível volta dos rumores de venda da companhia. Na Nasdaq, o papel fechou em queda de 3%, em novo dia de baixa das techs, enquanto analistas, como os do BTG Pactual, viram o anúncio como "negativo" e "estranho", sobretudo por estar sendo implementado em um momento de desafios importantes para a empresa de maquininhas, que tenta recuperar a confiança dos participantes do mercado. As ações da companhia despencam 85% em 12 meses.
Na prática, o cofundador Eduardo Pontes, que criou a Stone com André Street e foi seu CEO até o final de 2017, está trocando ações classe B detidas por ele via holdings por papéis classe A, que serão detidas diretamente pelo executivo e sua família. Só que as ações B dão direito a "supervoto", com 10 votos cada uma, enquanto a ação A tem direito a apenas um voto. Ou seja, Pontes está perdendo o poder de decidir sobre a companhia. Na mudança, que ainda precisa de autorização do Banco Central, a Stone informa que "haverá uma diminuição na concentração de votos de nossos acionistas fundadores". Assim, nenhum acionista único vai ter mais de 50% do poder de voto da companhia.
Pontes deixou o conselho da Stone em março, e foi substituído por Conrado Engel, banqueiro que foi presidente do HSBC no Brasil e também da financeira Losango.
"Embora admitamos que Pontes não dirige o navio há algum tempo, nos esforçamos para não ver as notícias de hoje de forma negativa", afirmam os analistas do BTG, Eduardo Rosman, Thiago Paúra e Ricardo Buchpiguel. Eles observam que André Street continuará a ser um acionista de referência da empresa, embora entregando parte de seu controle. Em tempos de ações para recuperar a confiança do mercado, a mudança sugere que esse processo pode demorar mais tempo, avalia o BTG.
Já os analistas do Citi, Gabriel Gusan, Karina Salva Martins e Roberta Versiani argumentam que a mudança pode trazer questionamentos sobre se Pontes tem mesmo intenção de permanecer, de fato, como acionista da Stone. O risco é que essas dúvidas acabem virando uma preocupação excessiva. Rumores de venda da companhia não têm faltado no mercado desde o ano passado, com nomes como XP e BTG citados como potenciais compradores da empresa de maquininhas. A Stone, porém, tem negado que haja negociações e que esteja à venda.
O BTG emenda que, falando com investidores que veem o "copo meio cheio" com a mudança e os que veem o "copo meio vazio", há quem acredite que a reorganização no controle pode "acelerar discussões" de uma fusão e aquisição (M&A, em inglês). Outro grupo vê a Stone indo em direção a se tornar uma "corporation", uma empresa sem controlador definido, na medida que seus fundadores não querem mais "controlar" a empresa, escrevem em relatório.
À imprensa, a Stone diz que a reorganização é "consequência natural e mecânica" da saída de um dos cofundadores do conselho de administração. Para o CEO da Stone, Thiago Piau, nada muda no dia a dia com essa reorganização e a empresa continua tendo a presença de Street, que segue como presidente do Conselho e acionista de referência. “A companhia vem se esforçando continuamente nos últimos meses para aprimorar a governança e implementar importantes melhorias nos negócios", afirma André Street.
Nesta quinta-feira (2), a Stone divulga, após o fechamento do mercado, o balanço do primeiro trimestre e as dúvidas sobre as mudanças de controle devem voltar na teleconferência de analistas e investidores.
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